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O Castelo de Vidro – Resenha

Um livro autobiográfico geralmente relata histórias tristes. A maioria ou não tem final feliz ou fala de momentos de dor passados por seus personagens. O livro O Castelo de Vidro (Nova Fronteira, 368 páginas) não muda neste ponto, mas se diferencia pela forma como a historia é relatada.
Jeannette Walls é jornalista e já trabalhou em importantes jornais americanos como o US Today, estudou em uma boa faculdade e mostrou seu talento ainda pequena. Não é de se esperar que tenha tantas conquistas na vida, mas após ler seu livro, o leitor fica surpreso de ver como foi sofrido esse percurso.

 

A História

O óbvio ao ler essa introdução é que este seja um livro de memórias. Mas com o passar das páginas, percebemos que a historia que Jeannette quer contar não é a dela, mas sim de seus pais e como eles a criaram. Uma foto do casamento deles (onde a família Walls finalmente passa a existir) é a abertura do livro, que logo em seguida faz um pulo de mais de vinte anos, o tempo necessário para que a autora explique porque este livro é escrito, e apesar de varias tentativas, Jeannette não conseguiu fazer com que seus pais deixassem de serem mendigos.

Não são mendigos por estarem já velhos, sem dinheiro e não ter onde morar, mas porque optaram viver assim. E nem mesmo os filhos conseguiram mudar essa situação. Chega a soar melodramático falar isso, pois não podemos crer que seres humanos aceitem viver de uma maneira que acreditamos ser tão humilhante e penosa, mas para chegar a este final houve um longo percurso que fez estas as consequências para tamanha resolução na vida deste casal, que a autora irá mostrar.

As primeiras lembranças

Jeannette começa a relatar a historia da família desde o momento que se lembra de algo, no seu caso quatro anos de idade, quando ela acaba ateando fogo em seu vestido e acaba no hospital com uma parte do corpo queimado. Daí em diante historia começa a se desenrolar de forma até mágica, escrita com os olhos de uma criança, que vê tudo maravilhoso e não existe desgraças, somente aventuras pela frente. Pode-se perceber que a autora tentou manter o brilho das lembranças ao escrever tentando manter o ego adulto, aquele que nos faz perceber como éramos ingênuos e, até mesmos, “cegos” nessa época. Nesta primeira parte tudo chega a ser mesmo uma aventura, nada é tão ruim ou desaprovador como imaginamos já que vemos pelo olhar de infantil.

A família Walls não tinha o habito de se manter fixa em um local. O plano era que o pai encontraria ouro e construiria um verdadeiro lar para eles no deserto feito de vidro: o castelo de vidro.  Por isso sempre mudavam de cidade, procuravam aventura, conhecer coisas novas e não se entediar permanecendo em um só lugar. Tudo era diversão e alegria. Essa era a parte sonhadora de uma criança que não percebia toda a verdade.

Aos poucos a personalidade da família vai se mostrando. A cada página virada, vamos conhecendo um pouco mais dos valores e da historia deles.  Jeannette teve o cuidado e ir contando aquilo que ouvia dos pais sobre a família, como se conheceram – a mãe, formada na faculdade e o pai da aeronáutica – seu casamento e como saiu a decisão de sair país afora sem emprego fixo e do modo que acreditavam ser o melhor para a criação das crianças.

Conflito de valores

Desde o inicio se percebe o conflito que a família tem de valores: alguns importantes outros completamente reprovados pelos conservadores. Um exemplo é o chiclete, goma que os Walls proibiam (e muitos dentistas aplaudiriam), mas que entra em conflito ao se permitir que crianças de quatro anos possam mexer com fósforos e cozinharem salsichas com apenas quatro anos (foi assim que a pequena Jeannette se queima como relatado acima).

Frio e fome

A passagem de um mundo divertido para a vida real, onde a fome, o frio e os abusos se mostram claros, acontece progressivamente. O livro se torna angustiante em algumas páginas ao nos deparamos com tamanha dor diante dos fatos. Mas mostra também, em outras, que apesar da maioria dos cidadãos terem o critério de julgar e acusar aqueles que são diferentes do “normal” estipulado pela sociedade em geral: existem outros que se destacam e buscam quebrar paradigmas.

Nesta mudança, que às vezes chega a ser dramática, que transforma as personagens, pois é necessário crescer e ser independente, caso contrário não há esperança de mudança. É aqui que a jovem Jeannette, agora adolescente, mostra toda sua capacidade e inteligência ao decidir ajudar sua Irma a se mudar para Nova York e mudar sua vida. Após meses de luta e sofrimento diante dos problemas encontrados, o propósito é conquistado, não da forma como planejado, mas que mostra que a fé apesar de tudo deve ser mantida.

Opinião

O castelo de vidro chega, às vezes, a se assemelhar ao clássico brasileiro Meu Pé de Laranja Lima, ao compararmos a dor que ambas as famílias passam, apesar de que Jeannette não sofreu tanto quanto a personagem do segundo livro. A diferença mais importante está no fato de que esta historia realmente aconteceu e que a autora e sua família conseguiram mudar suas vidas e, no final, terem um final realmente feliz, na medida em que o mundo permite. A oportunidade de ler o livro de Jeannette é poder saber como ela o fez isso ajuda o leitor a perceber como é importante uma boa educação e que podemos sim transformar nossa situação apesar dos problemas.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

29 thoughts on “O Castelo de Vidro – Resenha

  1. Olá, Luciana

    Ainda não tive tempo de ler este post, mas quero lhe parabenizar pela excelência do blog.
    Realmente é ótimo, tem um layout bonito e um conteúdo que não me faz poupar elogíos.

    Apartir de agora serei leitor fiel… rs

    Abraços

  2. o problema quando eu leio indicações de livro é que eu não tenho o diabo do dinheiro pra comprar ¬¬” da nem tesão assim

  3. Gostei muito da dica, adoro livros autobiográficos, mas agora tou numa dúvida, se compro logo ele ou o Aconteceu na Manchete, pois era muito fã desta emissora, mas tou pensando em comprar o O Castelo de Vidro mesmo pois sei que não vou lê-lo somente uma vez.

    Dica maravilhosa, continue espalhando cultura para nosso povo.

    BLOGdoRUBINHO
    http://www.blogdorubinho.cjb.net

  4. Parabéns pelo blog. Template e os posts realmente são muito bons. Fica como sugestão a resenha do livro ou filme “Anjos e Demonios” do mesmo autor do Codigo da Vince. Abraços!

  5. ola amiga blogueira. Excelente texto e vou procurar saber mais sobre tal livro.
    Adoro livros autobiográficos.
    parabéns pelo post.
    grande beijo

  6. Lendo seu post o livro parece ser um drama cheio de lágrimas e suspiros, mas tb bem interessante.
    Gosto muito de ler biografias, mas hoje esse tipo de leitura anda meio banalizado. Todos escrevem sobre suas vidas sem se preocupar com a qualidade da história em si. Se tiver escandalos embutidos então… e infelizmente é isso que o torna ‘best seller’. Muitos livros biograficos se assemelham a revistas de fofocas…
    Gostei da dica, vai entrar para minha lista!
    Abços

  7. Olá, Luciana! Desculpe, mas eu tinha que vir aqui no seu blog respondeu ao seu comentário no meu. Você bebeu, quando disse que o meu era melhor que o seu? Onde? O layout do seu blog está há anos luz do meu coitadinho e as coisas que eu escrevo vêm com muito sacrifício da minha cachola, haha! E o argumento mais aterrador para a constatação de que o seu espaço é melhor que o meu: apenas com este seu post, você já recebeu 16 comentários. Comigo, isso aconteceu apenas quando a Dercy Gonçalves morreu e com o post sobre o trailer que vazou para a internet do filme “Do começo ao fim”. Creio, então, que, diante de todos esses argumentos, seu blog é melhor que o meu 🙂

  8. Aliás, causei um péssimo entendimento na minha frase. Nos posts sobre a Dercy e o filme, não consegui os seus 16 comentários. Ops, agora 17. Consegui, muito suadamente, 5 comentários. Definitivamente, meu ápice no high society.

  9. Pra ser sincera não gosto de ler biografias .. mas acabei me interessando .. esse pelo que comentou parece ser diferente ..

    Abç.

  10. muito bom o texto sobre o livro, não sou um fã de autobiografias pois quem escreve sobre si mesmo enche a história de subjetividades e mascara um pouco as coisas.

    a proposta de uma história real que se desenlaça em problemas sérios e consegue ter um final feliz é muito legal, o mundo anda muito niilista ultimamente, precisa de focos de esperança em um futuro

  11. Acabei de terminar o livro e aconselho a leitura. Sempre gostei de auto-biografias, mesmo com toda sua subjetividade. Gosto mais ainda de histórias de perseverança frente às adversidades, que sempre me motivam a continuar lutando…
    Muito bom o texto e o blog.
    Gostaria de dar uma dia para quem não ter o “diabo do dinheiro” para comprar os livros: que tal começar a frequentar as bibliotecas públicas? Sempre consigo ler os clássicos e os lançamentos sem gastas 1 centavo com isso.

  12. Adorei, vou procurar para comprar e gostei muito da idéia do blog.

    Mudei agora pro wordpress, estou te adicionando.

    (www.oqueflor.wordpress.com)

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  14. biblioteca é sempre uma boa, tem tbm um site de troca de livros. é bom fazer essa troca pois sai em conta.

  15. Pingback: Beco das palavras

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