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Precisamos Falar Sobre o Kevin

Gostaria que toda adaptação para o cinema deixasse nas pessoas essa vontade de ler o livro, como Precisamos Falar Sobre o Kevin causou em mim. Para os novos leitores do blog e para os antigos que não se lembram, falei sobre o filme aqui, após ler outro livro da Lionel Shriver, “Tempo é Dinheiro”. Esse livro – que é posterior ao “Precisamos Falar Sobre Kevin” – me deixou curiosa sobre a história, o que me levou ao filme em primeiro lugar. Este, por sua vez, me levou ao livro. Devo dizer já logo de cara: o livro é muito melhor que o filme, o que confirma minha teoria (compartilhada por muitos, acredito) de que os livros são sempre melhores que suas adaptações. Não que o filme seja ruim, mas como contei para vocês, ao fim dele fiquei com uma sensação de que a história não estava completa, com um final um pouco confuso. Uma sensação que desapareceu após a leitura.

71mavbfu0rl1Precisamos Falar Sobre o Kevin, da escritora Lionel Shriver, publicado pela Editora Intrínseca, não conta a história de Kevin, um adolescente condenado por matar nove pessoas em sua escola, mas de Eva, sua mãe.  Eva sempre identificou no filho atitudes que considerava fora do comum, muito bem planejadas, sem qualquer tipo de interesse real pelas coisas e pessoas. Porém, mesmo levando em conta a série de acontecimentos ruins, os quais Kevin estivera relacionado de alguma maneira – ainda que ela não pudesse provar –, Eva jamais havia imaginado que ele chegaria a esse ponto. Quando se depara, da pior maneira possível, com a confirmação de suas suspeitas sobre a psicopatia de Kevin, Eva tenta entender o que todos esperavam que ela soubesse: o porquê de seu filho ter covardemente assassinado aquelas pessoas.

Todo esse esforço em compreender o que levou Kevin a agir assim, Eva faz por meio de cartas que escreve a seu esposo, Franklin: o livro é o conjunto dessas cartas. Escrevendo, Eva volta à época em que engravidar sequer era uma possibilidade na vida do casal. Envolvida em sua recém criada empresa de elaboração de guias turísticos, Eva não se via no papel de mãe e se sentia desconfortável em abrir mão de suas viagens pelo mundo. Entretanto, a gravidez acabou por se tornar um desejo para ambos, se concretizando, por fim. Mas se para Franklin o desejo de ter um filho nunca deixou de existir, para Eva ele foi passageiro. Ao ver-se grávida e com sua vida se transformando radicalmente, ela percebe que esse “dom maternal” não pertence a todas as mulheres. Não pertencia a ela.

O nascimento de Kevin só agravou a situação, pois ele se mostrou desde cedo uma criança manipuladora e sem nenhum tipo de interesse ou gosto, até mesmo por seus pais. Eva logo percebeu esse comportamento do filho e, dividida entre a tentativa de compensar Kevin, por seu remorso de não querer ser mãe, e a preocupação com uma criança que mostra sinais claros de sociopatia, fica sem saber como agir.

De fato, as narrativas de Eva ao longo do livro mostram todo esse conflito. Tanto que o próprio leitor, em certo momento, fica se perguntando: será que Kevin era mesmo um psicopata desde sempre (uma doença genética, um desequilíbrio), ou será que a raiva de Eva por ter um filho que não queria foi a grande responsável pela raiva do próprio Kevin? Nesse ponto, considero Lionel Shriver uma excelente escritora! Quem leu o livro talvez concorde: é impossível responder a essa questão. Mas é também impossível não pensar nela o tempo todo enquanto se lê. Acredito que a própria Eva não consegue responder essa pergunta e por isso se coloca sempre na defensiva diante de todos, inclusive de seu marido Franklin, por meio das cartas.

Lionel Shriver realmente consegue construir uma história muito bem elaborada, mas algo na escrita dela me incomoda um pouco: a prolixidade. Quando li “Tempo é Dinheiro”, tive a impressão de que o livro era desnecessariamente longo. Foi a mesma impressão que tive ao ler “Precisamos Falar Sobre o Kevin”. Chega um momento em que você pensa: “Certo, tudo já foi dito e ela só está se repetindo com mais exemplos, quando vamos chegar ao que interessa?”. Isso faz a leitura ficar um pouco cansativa depois de certo tempo. Mas no caso desse livro talvez ainda faça um pouco de sentido, afinal, Eva faz toda a reconstrução de sua história desde que engravidou de Kevin.

Apesar disso, não deixa de ser uma ótima história e um ótimo livro. Vale a pena a leitura, inclusive para quem já assistiu ao filme. Pelo menos para mim, resolveu todas as dúvidas e inquietações que ficaram, já que, querendo ou não, para uma adaptação diversas partes precisam ser cortadas da história. Não é todo caso em que ela deixa de ser completa, mas nesse especificamente, não havia ficado completa para mim, por isso recomendo a leitura. Depois compartilhem o que acharam.

Precisamos Falar Sobre o Kevin

Autora: Lionel Shriver

 Editora: Intrínseca

Páginas:464
Edição Especial: 2012

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