Ao entrar em alguns detalhes do livro, é necessário entendermos o Lulismo, fenômeno que, para alguns, se confunde com a história do PT, a ascensão do Lula, frente ao partido. Para André Singer, o Lulismo configura-se em partes, a relação de Lula com os mais pobres, classe que foi beneficiada por políticas voltadas para a sua melhoria, ativando o mercado interno onde, em algumas regiões, apoiaram – no em massa.
Mesclando a definição do Lulismo, salienta-se também, a história do PT, algumas divisões que cunham nomes como “AS DUAS ALMAS” e a de Sion. Quando o PT foi fundado em um congresso de Metalúrgicos, falava – se em um partido sem patrões, que mobilizasse os trabalhadores a reivindicar por uma sociedade mais justa e que não fosse eleitoreiro. Sion, devido as Comunidades Eclesiais, o cristianismo, exercerem um papel importante na crítica ao capital, na transição democrática do país e a alma de Anhembi, quando em 2002, Lula decide comprometer – se com as exigências do capital. Anhembi, pois, quando o Diretório Nacional reúne – se no centro de convenções do Anhembi, para aprovar as propostas da “Carta ao Povo Brasileiro”.
Quem não se lembra do porta-voz da Presidência da República, no período Lula? Eis o André Singer, autor de Os Sentidos do Lulismo (ed. Companhia das Letras). A obra chega em meio ao período eleitoral municipal, julgamento do mensalão, as transformações no jogo político brasileiro. O livro, diria eu, caiu bem para entendermos sobre o jogo político e o conflito de interesses e ideologias no contexto nacional. André Singer é filho de Paul Singer, economista, no qual, uma das suas especialidades é a Economia Solidária. Nascido na Áustria, veio para o Brasil, devido à perseguição aos judeus.
Para melhor entender cada livro que vai ler, importante motivar-se pela vida do autor que o escreve, (dica minha).
Atenção especial no livro quando o autor divide sua vida acadêmica e revela suas motivações como escritor e o que levaram a escrever sobre o Lulismo, as subdivisões no Posfácio que, recaem em três momentos pessoais e profissionais da sua vida, “Tempos de Esperança”’’, sua chegada à USP como aluno de Ciências Sociais; “Tempo de Experiência”, ao formar-se e a necessidade de cair no mercado de trabalho, galgando caminhos. Singer aproveitou a oportunidade de ser colunista na Folha de São Paulo e atraído pelo ofício cotidiano, ingressou no curso de jornalismo; “Tempo de Reflexão”, retornando para a USP, agora como professor no Departamento de Ciência Política, de Comportamento Político e Teoria Política Moderna (Uma das disciplinas que amei estudar na UnB).
Subdividido em Introdução, quatro capítulos, Apêndice e Posfácio, André Singer dá um tom misto de professor, observador, já que esteve nos bastidores do governo, e é também jornalista e pesquisador.
No decorrer das leituras encontramos tabelas ordenadas por ano e dados percentuais que confirmam o processo ascendente das classes que acompanham Lula, votos em 1º turno e 2º turno, desde 1989 até 2010, com a sombra de Lula na eleição de Dilma, votos por região e até o perfil do gasto público de 2002 até 2010.
No momento das minhas leituras, regadas às lembranças das aulas de Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais na UnB, o livro serviu e muito para agregar os meus conhecimentos sobre a história de um partido que confunde com a figura de um dos seus maiores representantes, que confirmam cada vez mais que economia e política andam lado a lado e, por vezes, os fatos não são isolados, os acontecimentos são precisos, na medida em que, às conjunturas favorecem.
Dando um palpite, acho que o livro poderia até fazer parte de uma ementa acadêmica, como leitura obrigatória ou complementar, é recheado de referências aos teóricos da política e em especial, traça paralelos com outros livros publicados recentemente tratando de uma questão tão em voga na atualidade e importante, o deslocamento e preferência política da mesma, “A Nova Classe Média”.
Minha visão como aluna do curso de Ciência Política e como cidadã, enxerga a necessidade de indicar o livro até para as pessoas que não sejam da área, pois fala-se muito nas heranças do governo de FHC, Lula e a influência nas últimas eleições. Muito do que chega à mídia é superficial, daí a busca por um olhar novo, atentando à forma como os acontecimentos são colocados. Consegui enxergar visões plausíveis para definir o fenômeno do Lulismo com o PT e às mudanças de posturas radicais para um tom moderado na chegada ao poder. Um dos pontos altos é entender um bordão proferido pelo presidente Lula, quando, o André Singer disseca umas das frases mais ouvidas por nós, brasileiros, como “nunca na história desse país”. A frase não é uma afronta aos que agora são opositores e sim “nunca o Estado olhou tanto para eles”, os mais humildes. Ênfase à política assistencialista, a bandeira da erradicação das desigualdades.
Tão atual, o mensalão está presente no contexto, sinalizando o deslocamento de uma parcela do eleitorado, após denúncias.
Contudo, deixo uma instigação ao leitor, para que o mesmo faça sua própria análise em sua leitura, questionando o Cientista Político, Leonardo Barreto da UnB, sobre o Lulismo, que “defende que não gosta do” termo e acha antiquado, pois, remete a um passado que não tem nada a ver com o momento atual, contrariando os populistas antigos, que não respeitavam às instituições e faziam ligação direta com as pessoas, adotando políticas públicas expansionistas e irresponsáveis, Lula fez tudo dentro das regras e respeitando os canais institucionais. Por isso que Barreto acha o termo Lulismo sem aplicação.
Para saber mais, é ler para ponderar e peneirar!