O ensaio é o gênero literário que está em alta no momento e cada vez mais a literatura de não-ficção ganha espaço na sociedade.Isso se deve talvez, entre outras razões à liberdade de temas e formas de linguagem que este gênero permite tanto ao escritor quanto ao leitor.Ainda que os ensaios tenham como matéria-prima a realidade e produzam textos pautados nela é um equívoco supor que esses textos sejam chatos,formais e desprovidos da linguagem poética e da criatividade que caracterizam os textos de outros gêneros da literatura.Nesse cenário favorável a esse estilo literário surgem e se destacam grandes escritores dentre os quais o jornalista John Jeremiah Sullivan, que tem sido apontado como um dos expoentes desse gênero.Em Pulphead – O Outro Lado da América, da Companhia das Letras, quinze de seus ensaios abrangendo os mais variados temas foram reunidos nesse livro que explora como diz o subtítulo, outros aspectos, outros lados da sociedade e da identidade americana.
Esse novo olhar e essas novas abordagens sobre temas e ícones americanos conhecidos assim como a descoberta de temas e personagens novos só é possível através do gênero literário certo, mas também por causa da capacidade de Jonh Jeremiah Sullivan de não se limitar e buscar ir além do que já se pensou, viu ou se falou sobre algo ou alguém.Ele faz parte do grupo de escritores que consegue transpor os julgamentos rasos e as opiniões óbvias e mais evidentes, que geralmente acabam sendo o ponto final para a maioria das pessoas, o que as impede de enxergarem coisas novas e ângulos diferentes sobre o que parece ser um tema esgotado e fácil.
Essa característica como escritor, de ir além, possibilitou que ele escrevesse ensaios com aspectos inusitados sobre pessoas e temas que normalmente são retratados de modo estereotipado e superficial como jovens evangélicos reunidos para um festival de rock cristão, pessoas que participam de reality shows ou um artista americano controverso, por exemplo.Como um explorador que busca novos caminhos e pistas sobre lugares e assuntos amplamente conhecidos e explorados, o autor busca e encontra outras abordagens para apresentar sua cosmovisão sobre aquilo que e sobre quem já se pensa ter dito tudo ou o suficiente.
Os temas não poderiam ser mais estranhos e desconexos entre si tais como artistas decadentes e polêmicos, como Michael Jackson, arqueologia, Disney, séries da MTV, Festival do rock cristão entre outros, mas em todos esses temas Sullivan acha o viés para questionar ou mostrar os valores ideológicos e culturais americanos assim como seus equívocos e virtudes.Vemos passar por esses temas e personagens e neles serem exemplificados aquelas características típicas dos valores da América.
Um detalhe da capa que pode passar despercebido e de imediato traduz a proposta do livro: o leitor precisa raspar as tarjas ( como se faz com uma raspadinha) para que o subtítulo seja revelado.Esse recurso gráfico traduz de modo simples e criativo o que o autor pretendeu fazer através dos ensaios: sugerir a reflexão e a descoberta de outras facetas da sociedade e dos ícones americanos que estão ocultas talvez para ela mesma e também para o resto do mundo.