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Democracia em Vertigem

Salve, salve rapaziada! Tô na área e se derrubar é pênalti! Dessa vez para falar sobre um documentário: Democracia em vertigem (Brasil, 2019, 121 min. Direção: Petra Costa).

Antes da resenha em si, creio ser de bom alvitre fazer algumas considerações:

1ª – Não tenho partido ou político de estimação, por isso, me sinto à vontade para tecer críticas ou elogios a qualquer um/a da classe política ou mesmo a um partido;

2ª – Assisti o documentário antes mesmo de saber que seria indicado ao Oscar 2020, na categoria de melhor documentário, o que para mim evitou “pesar a mão” na resenha;

3ª – Foi apenas coincidência fazer a resenha desse documentário justamente no momento em que, diante da já conhecida pandemia do covid-19, o chefe do executivo resolve tomar atitudes questionáveis, digamos.

Feito essa espécie de prólogo, vamos ao que interessa!

Posso dizer, logo de cara, que o documentário me decepcionou. Acredito que um documentário necessita mergulhar no assunto ao qual ele se propõe desnudar. Destrinchar, colocar o dedo na ferida se necessário e, por que não, apontar caminhos. Em muitos momentos, tive a nítida impressão de que a Petra Costa fez um documentário buscando enaltecer a visão dela sobre o período que o documentário cobre (2002 a 2018).

Sobre  Democracia em Vertigem

Independente da ideologia política, e a Petra é simpatizante da esquerda, o que não é demérito nenhum e a mesma deixa claro isso no próprio documentário, quando, por exemplo, vemos Petra comemorando a eleição de Dilma na Avenida Paulista. Um dos problemas do documentário é que o mesmo falha miseravelmente ao não explicar como chegamos a esse “estado de coisas”. Ou como ela cita no documentário, como ou porque tivemos um “abalo sísmico”. Aliás, cabe aqui ressaltar que a diretora usa desse tipo de figura de linguagem para tentar retratar o tamanho do estrago, na visão dela.

Outro ponto do documentário é que a diretora parece buscar se “redimir” com as classes menos abastadas. Como assim? Explico: Petra Costa faz parte da família (por parte de mãe) que criou a Andrade Gutierrez, e para quem ainda não se situou, a citada empresa faz parte daquele seletíssimo grupo de empreiteiras que são “donas” das grandes obras nesse país. Ato contínuo se descobre no documentário que essas ligações familiares chegaram até Aécio Neves.

Nessa esteira, o documentário ressalta o caráter nebuloso da política. E, repito, aqui o documentário falha porque simplesmente só se vê as consequências desse xadrez, mas nunca se explica como se deu uma guinada a 180 graus, sendo o ápice, a eleição de Jair Bolsonaro. Não vou entrar no mérito do impeachment da Dilma ou se Lula é vilão ou vítima. Porém, entendo que a diretora deveria ter, ainda que “en passant”, como tudo implodiu ou as causas da derrocada.

Parafraseando o título da música de Geraldo Vandré, pra não dizer que não falei de flores, o documentário também mostra várias imagens marcantes, como por exemplo, as horas que antecedem a prisão de Lula, e outras mais, já que Petra teve acesso ao “alto comissariado” do Partido dos Trabalhadores.

Tenho resistência a filmes/documentários panfletários ou que tentam assumir uma função de iluminação intelectual, como se tivesse descortinando as trevas e trazendo para luz tudo aquilo que estava oculto e fazendo, assim, com que um séquito de pessoas que estavam na idade medieval, tivesse a partir dessa “revelação” uma nova visão sobre aspectos já conhecidos.

O documentário não é mais ou menos valioso. Na prática, é uma visão particular da Petra Costa sobre os fatos do período citado. Em resumo: falta profundidade. Não vou desprezar os problemas que os pais dela passaram por causa da ditadura, mas soa como se ela quisesse continuar aquele processo, só que utilizando uma linguagem visual.  Aquilo que os pais dela não puderam vivenciar quando jovens, por causa da ditadura, ela pode “realizar esse sonho” ao ver e viver o momento da chegada Lula, a representação cristalina da democracia.

Além disso, outro problema da narrativa é a elite “sempre malvada e de direita”, ou o contrário, como queiram, sendo a articuladora da queda da Dilma. E aqui, a falta de profundidade da narrativa pesa. E muito. Pois, como explicar que muitos aliados dela “pularam do barco” aos 45 do segundo tempo? Ou explicar, o que o documentário não fez, sobre como a incapacidade de articulação política minou o governo? Ou decisões populistas na economia e casos explícitos de corrupção?

Respeito o ponto de vista da diretora e entendo que a eleição de Lula em 2002 e os anos que se seguiram foram a materialização de um ideal não apenas para ela, mas para milhares. Porém, essa visão “míope” pode dar a impressão que antes e depois do período compreendido entre 2002-2018, não havia democracia, o que obviamente não é verdade. Democracia válida não pode ser apenas aquela onde prevalecem minhas ideias.

 

 

Colaborador Beco das Palavras
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