Nova minissérie da Netflix, Nada Ortodoxa, traz a tona a vida de mulheres dentro de uma comunidade judaica ultra ortodoxa
Nos últimos meses a Netflix tem alavancado suas produções para um tema importante: o feminismo. Esse é o caso de Miss Americana, já mencionado aqui e outras séries e filmes. Porém, mesmo que não tenha esse como o tema principal, as suas produções têm como ponto principal mulheres que bateram de frente com situações que as diminuíam diante da sociedade e lutaram por isso.
Graças a essa escolha que temos recebido uma leva de produções que relatam a vida (e claro, a luta) dessas pessoas. Uma das últimas produções da gigante de streaming foi Nada Ortodoxa (2020). Uma obra que relata como as mulheres têm direitos negados por conta das regras religiosas.
Inspirada na biografia Unothordox – The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots, de Deborah Feldman, a mini-série não relata fielmente a história de Feldman, que decidiu que seria melhor criar uma personagem fictícia com seu próprio destino.
Contudo, foi criado uma mescla da vida real de Feldman com o futuro fictício da personagem na série. Assim, tudo que se passa na vida durante o período na comunidade ultra ortodoxa é real, mas o presente da personagem é ficção.
Nada Ortodoxa – Sinopse
Nada Ortodoxa conta a história de Esther, uma adolescente nascida em uma comunidade de judeus ultra ortodoxos de Williamsburg, em Nova York. Nessa comunidade as mulheres não recebem educação formal: têm apenas a educação básica, e aprendem a cuidar da família e ter filhos. Filhos é, basicamente, o que as mulheres dessa comunidade têm como objetivo nessa comunidade. A comunidade de Williamsburg foi tema de um artigo do jornal The New York Times, alguns anos atrás.
Impossibilitadas de fazer quase tudo (elas são proibidas de cantar, dançar e até mesmo manterem amizades que não sejam da comunidade), apenas para se tornarem esposas. Esty (como é chamada Esther) tem um casamento arranjado aos 17 anos e passa a conhecer a real vida de uma esposa ultra ortodoxa.
A história se inicia no dia que Esty pega suas coisas e vai embora da comunidade. Com ajuda de uma amiga fora da comunidade, ela viaja para Alemanha para tentar recomeçar. A história se equilibra entre a tensão à medida que mostra, em flashbacks, como como foi a vida de Esty desde que o casamento foi arranjado até o momento que toma a decisão de partir.
Aos poucos vamos conhecendo a personalidade de Esty, que foi abandonada pela mãe, que deixou a comunidade quando ela tinha apenas 3 anos e o pai alcoólatra. Criada pelos avós, Esty é tida como órfã pela comunidade e frequentemente julgada por sua personalidade.
À medida que vemos a busca por uma nova vida, vamos também, pelos flashbacks, conhecendo a vida que Esty deixou para trás. Cada episódio vemos que a situação de Esty é parecida com uma prisão por nós, que nascemos em uma sociedade que nos permite maior liberdade de nossas próprias vidas.
Submissão ou escravidão?
De acordo com os ultras ortodoxos Williamsburg, a torá proíbe a mulher de trabalhar, ter educação superior e tomar decisões na casa (decisões são tomadas pelo marido, sempre). A opinião de Esty era não só ignorada, como também advertida todos os dias como pecado (elevando suas opiniões como prováveis punições por Deus).
Em nada ortodoxa, Esty era cobrada diariamente a aceitar a submissão ao coito com o marido e a exigência de o fazê-lo se sentir um “leão” (um rei), pela sogra. Mas ao questionar a sua posição ao lado de um rei, ela recebe apenas um olhar de desdém.
A forma como ela deveria se vestir, e até mesmo a lei de raspar os cabelos, que devem ser raspados como forma de recato e evitar a luxúria nas mulheres. Nem mesmo a meia-calça sai livre das regras: elas podem usar somente as opacas, as com brilho são terminantemente proibidas.
Esse peso que impede a liberdade das mulheres a tudo que fez Esty fugir. Como a personagem explica na série “Deus exigia demais de mim”. E descobrir que ainda existem comunidades onde a mulher não possui direitos, apenas deveres, choca muitos dos telespectadores. Ela vem em um momento em que a sociedade começa a questionar, mais uma vez, por respeito a todas mulheres. Mas, principalmente, nos lembra porque o feminismo precisa existir.