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A casa dos amores impossíveis

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Confesso que abri o romance A Casa dos Amores Impossíveis (Editora Prumo) sem esperar muito dele, mas acabei me surpreendendo. A Narrativa é bem construída e muitos elementos do texto permeiam nossos sentidos, ao mesmo tempo em que tudo é muito real e grotesco, o que às vezes assusta ou provoca uma certa aversão.

O romance tem como principais personagens as mulheres da família Laguna. Cada uma é protagonista à sua vez, isto é, a narrativa perpassa várias gerações de mulheres, uma protagonista gera a seguinte. As Laguna vivem sob uma maldição: todas estão condenadas a sofrer por amor e a gerar filhas que perpetuarão essa sentença. A história começa no final do século XIX, em uma aldeia da Espanha. A bruxa Laguna, mãe de Clara, a primeira protagonista, já era fruto da terrível maldição. Ela avisa sua filha de que não deve se envolver com os homens, pois o destino desse romance seria trágico, mas Clara acaba se apaixonando por um fazendeiro, que lhe compra um casarão e a abandona, deixando-a grávida. Clara transforma o casarão no prostíbulo mais frequentado da região, ganha muito dinheiro, mas passa o restante de sua vida se lembrando do fazendeiro e planejando vingança. Meses depois, nasce sua filha Manuela, menina doente e feia, que é desprezada pela mãe. Manuela é a segunda protagonista. Considero-a uma personagem fraca e pobre, ela é apresentada de uma forma muito diferente das outras Laguna. Creio que Cristina López Barrio tenha feito isso de maneira proposital, pois Manuela, diferentemente de sua mãe, é uma mulher fraca e sem carisma. Dela, nasce a terceira protagonista, Olvido (cujo nome em espanhol significa esquecimento, já que Manuela busca o fim da maldição). Olvido, para mim, é a Laguna mais interessante do romance; ela parece ser a verdadeira protagonista, é a que permanece por mais tempo na história e a que está presente em pelo menos três gerações. Olvido dá à luz Margarita, que por sua vez… É a partir dela que surge a esperança pelo fim da maldição. Dizer de que maneira se dá essa esperança seria o mesmo que contar o final da história, e não posso fazer isso! Tudo o que posso adiantar é que, apesar da possibilidade do fim da maldição, a família Laguna nunca poderá dar seu suspiro de alívio.

O que mais chamou a minha atenção nesse romance foi a maneira como a autora lidou com o tempo. A narrativa é muito veloz, o romance abrange um período de quase 100 anos. Apesar disso, nota-se em muitos momentos uma sensação de monotonia, e é justamente isso que destrói as Laguna, pois o sofrimento é estendido quando o tempo não passa e nada de novo acontece. Cristina López Barrio soube elaborar com perfeição a incoerência entre a rapidez da narrativa e a monotonia que acaba com as forças das Laguna.

O estilo narrativo também é muito interessante. Trata-se de uma linguagem sensual, sugestiva, quase que erótica. É também sensorial, isto é, envolve os cinco sentidos. Acima de tudo isso, posso dizer que o romance é uma verdadeira prosa poética. Essa poesia, no entanto, disputa espaço com o estilo grotesco presente em quase todo o romance.

A Casa dos Amores Impossíveis é um romance que permeia o fantástico, mas sem deixar de ser real. É uma obra repleta de antíteses: velocidade narrativa x monotonia, prosa poética x estilo grotesco, fantástico x real. São essas oposições, aliadas a um modelo expressionista muito bem trabalhado que me convenceram de que Cristina López Barrio pode sim entrar no grupo seleto dos bons romancistas atuais.

Título: A casa dos amores impossíveis

Autor: Cristina López Barrio

Editora: Prumo

Ano da publicação: 2013

Número de páginas: 312

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