O primeiro livro que li do escritor Tcheco Milan Kundera foi A Insustentável Leveza do Ser. Este é a obra mais famosa dele, que ganhou uma versão para os cinemas. Foi nessa obra que percebi que Kundera sabe contar uma história assim como um poeta dita seu ritmo: cada sentença tem um ritmo que transforma a obra em uma sinfonia.
Esse ano tive a alegria de ler Um Encontro (Companhia das Letras), uma obra de ensaios onde o autor fala sobre livros, música e obras de arte. Parece entediante à primeira vista? Talvez, mas quem dá tom aqui é Kundera, que consegue escrever de modo que o leitor não consegue parar de ler. Quando comecei a ler, estava completamente saturada de trabalho, com a mente exausta. Um dia, esqueci minhas chaves e tive que ficar a metade da noite na rua esperando alguém chegar, no frio. Peguei o livro e quando vi li 40 páginas em poucos minutos, só percebi porque minha perna estava dormente e doendo por causa do passeio de pedra.
Kundera fala de obras conhecidas (como as de Francis Bacon, por exemplo) e de alguns desconhecidos no Brasil ou para alguns leitores como eu, indo de Dostoiévski, Anatole France e Paul Valery.
O autor se sente muito à vontade para dar sua opinião, como fez sobre as mudanças de opiniões que divergem e ganham força quando uma corrente literária está mais em voga que a outra, como aconteceu com Anatole France, escritor francês que após sua morte foi muito criticado, embora em vida tenha sido cultuado por milhares de pessoas.
Ainda nas primeiras páginas, encontrei diversas obras desconhecidas para mim, e os comentários de Milan Kundera me fizeram aumentar minha lista de livros que preciso ler. A maneira como ele conta cada história do livro e suas impressões me deixaram curiosas por diversas obras. Kundera chega a esmiuçar algumas personagens ou situações de algumas obras, sem contar o final ou nos fazer um resumo detalhado a ponto de se torar desnecessário sua leitura.
Ainda na metade do livro percebi que ler Milan Kundera é sempre uma satisfação. A forma como escreve é poética, fazendo o leitor relaxar enquanto ler, sem nem perceber que o tempo está passando.
Mesmo para quem não tem hábito de ler ensaios, que para alguns pode ser algo chato e, às vezes, sem emoção, recomendo ler Um Encontro. Diferente de outros ensaios o leitor pode se surpreender e conhecer muitas informações e obras novas a desvendar no futuro.