Série da Netflix parte da saga desta importante personagem do feminismo italiano, mas aposta na imaginação para criar roteiro
Uma personagem contemporânea e uma mulher que fez história no feminismo italiano, mas que é pouco conhecida do grande público. Essa é Lidia Poët (1855-1949), a primeira advogada da história do país europeu, e que é tema de uma série com alguns fatos sobre sua vida produzida pela Netflix. As Leis de Lidia Poët estreou neste mês.
Destaque na plataforma de streaming, a série compreende mais um intenso capítulo da luta de mulheres pelo direito da igualdade de gênero. Em um período onde o tópico não era discutido, a personagem batalha pelo direito de exercer a profissão que lhe chamou atenção. A primeira temporada conta com seis episódios, todos já disponíveis. Segundo a plataforma de streaming, a ideia não é fazer uma biografia, mas apresentar uma personagem de fantasia com base em alguns elementos históricos reais. Isso acontece devido a pouca informação disponível sobre a real Lidia. “Sabemos muito pouco dessa mulher. Trabalhamos com a imaginação e empatia partindo das poucas informações”, conta a atriz Matilda De Angelis, protagonista da série. “Busquei dar a ela o maior número de nuances possíveis, de também fazê-la frágil e falível”, completa.
A parte de Lídia não poder exercer a advocacia é real. Já os casos que resolve com o irmão e Jacapo são inventados para dar prosseguimento à trama. Apesar de sua natureza ficcional, eles se somam à história de Lídia mostrando-nos o quanto ela era talentosa e dedicada à sua profissão.
O diretor Matteo Rovere explica a importância de contar a história da personagem, mesmo que existam uma parte ficcional. “Essa série é um produto popular, que fala de temas atuais. A igualdade de gênero é ainda um objetivo distante. Lidia é uma personagem contemporânea que leva adiante um tema complexo”, explica. Rovere compartilha a direção com Letizia Lamartire.
Sinopse
Ambientada na cidade de Turim no fim do século 19, a série começa com um tribunal de Turim declarando ilegítima a inscrição de Lidia na Ordem dos Advogados, impedindo-a de trabalhar profissionalmente só pelo fato de ser mulher.
Indignada com a situação injusta e com uma visão à frente de seu tempo, ela decide lutar contra os padrões de gênero da época e busca uma maneira de conseguir a anulação do decreto, isso tudo enquanto ainda tenta desvendar assassinatos misteriosos com técnicas de investigação modernas.
Quem foi Lidia Poët
Na vida real, Lidia Poët formou-se em direito pela Universidade de Torino em junho de 1881. Como de costume, ela trabalhou com um advogado pelos próximos dois anos, participando de práticas forenses e sessões no tribunal.
A verdadeira Lídia que inspirou a série também passou pelos exames escritos e práticos obrigatórios para passar na ordem dos advogados e colocar seu nome no rol de advogados. Apesar de ela fazer tudo pelo livro e passar com louvor, os outros advogados não gostaram do fato de o nome de uma mulher estar na lista.
Foi interposto recurso contra Lídia, o que levou à retirada de seu nome da lista. Ela recorreu ainda mais dessa decisão. Contudo, mais uma vez, o tribunal considerou que ela não teria permissão legal para trabalhar como advogada.
Embora os tribunais possam tê-la rejeitado como advogada, Lidia encontrou mais apoiadores no público. Quase todos os jornais italianos a apoiaram e ela recebeu apoio ardente de grupos feministas.
Dedicou-se ao movimento de luta pelos direitos das mulheres, não só para poderem exercer o trabalho que desejassem, mas também por outros direitos que lhes eram negados pelo simples fato de não serem homens. Por fim, em 1919, promulgaram As leis de Lidia Poët que dava às mulheres a oportunidade de trabalhar em um número limitado de cargos públicos.
No ano seguinte, Poët recuperou seu nome no rol de advogados e se tornou a primeira advogada de seu país aos 65 anos. Quando Guido Iuculano e Davide Orsini tiveram a ideia da história, eles pesquisaram sobre a história de Turim e descobriram a história de Lídia.