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Olhos que Condenam

Estamos correndo risco de sermos repetitivos com os elogios que temos feito para as produções da Netflix, no entanto, sem ser piegas, a desbravadora do mundo digital, vem se mostrando cada vez mais essencial para a produção da sétima arte e, Olhos que Condenam, é um desses trabalhos extraordinários.

Começando esse texto, lembro do começo da empresa no Brasil. Filmes de catálogo, antigos, daqueles que não conseguimos assistir apenas uma vez e que não encontrávamos nas locadoras (quando ainda existiam por aí). Os anos foram passando, a tecnologia avançando e a empresa crescendo ao ponto de levar ao público, conteúdo próprio.

Algo muito importante para qualquer fornecedora de conteúdo, afinal de contas, a Netflix deixa de ser apenas um canal de exibição, para se tornar uma produtora, uma realizadora e, consequentemente, incentivar outras produções que, provavelmente, não existiriam ou teriam campo para serem exibidos.

Saindo um pouco da série que falaremos logo a seguir, só para destacar a importância da Netflix. Se não existisse, jamais teríamos oportunidade de assistir ótimas produções espanholas, como: Toc Toc, A Casa, O Poço, entre outras; também não nos emocionaríamos ao assistir Milagre na Cela 7, entre outras produções de diversos países. Sem mencionar as produções nacionais.

 

Olhos que condenam de Ava DuVernay

 

Um dos grandes sucessos da Netflix, quando Olhos que condenam, de Ava DuVernay, começa… Você tem a real impressão que está no Harlem. Essa sensação não é passada ao telespectador apenas pelo que vê, mas também pelo que ouve, destacando assim, o trabalho de som cuidadoso.

Somos apresentados para alguns jovens afrodescendentes que se encontram com alguns hispânicos e decidem dar uma passeada até o Central Park. Até aí, super normal. O complicado da estória é que essa galera vai fazendo arruaça e, ainda, ao som de Fight the Power da banda Hip-Hop, Public Enemy. Com esse início, já dá para sacar o que está por vir por aí.

No dia 19 de Abril de 1989, aconteceu um assassinato brutal no Central Park, uma mulher de 28 anos de idade foi brutalmente agredida e estuprada, por (supostamente) quatro adolescentes negros e um latino. 

Cinco menores foram presos entre cerca de mais trinta adolescentes que foram os responsáveis pela bagunça que rolou no parque. E detalhe, os cinco apreendidos sequer estavam participando da confusão. Isso me faz lembrar um filme indicado a diversas categorias do Oscar, “Em Nome do Pai” (baseado em fatos reais) com Daniel Day-Lewis que narra à estória de pessoas presas injustamente. Vale a pena conferir.

Um dos grandes agravantes dessa injustiça contra os jovens, era a realidade que a cidade de Nova York vivia na década de 80. Foi um período duro de violência para a cidade, ainda mais quando se era negro ou latino, as coisas se tornavam ainda mais difíceis.

Depois de dois meses, Spike Lee, um defensor da raça negra e produtor de cinema militante, pediu para Public Enemy criar uma canção a respeito do que acontecera. Claro que o grupo atendeu o pedido e nascia uma canção hino que fez parte de um trabalho de Lee que se tornou popular e venerado pelo público “Faça a coisa certa” que foi lançado depois de algum tempo dos acontecimentos no Central Park.

E depois de trinta anos do acontecido, nos deparamos com uma obra que pareço que nasceu para resgatar na memória o fato ocorrido. Ava DuVernay segue os passos de Spike Lee com sua obra militante, porém, com um olhar mais delicado e diferente dos últimos trabalhos de Lee, que, alias, um deles garantiu ao artista uma estatueta por Melhor Roteiro Adaptado por Infiltrado na Klan em 2018.

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Colaborador Beco das Palavras
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