Olá senhores(as)(itas), faz tempo que eu não falo com vocês, hein? Maaaaaaaaaas, voltei em grande estilo para resenhar um livro nacional que ganhou bastante atenção da mídia (considerando o padrão brasileiro no que diz respeito a livros, claro). Estamos falando de “Os últimos soldados da Guerra Fria – A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos EUA” (396 páginas, Companhia das Letras, 2011). O livro foi escritor pelo autor (e, principalmente, jornalista) Fernando Morais. Não conhece? Conhece sim. Fernando é o autor dos ótimos “Olga” e “Chatô: O Rei do Brasil”, ambos os livros que foram muito bem recebidos pela mídia e que seguem o mesmo caráter investigativo (não confundir com livros policiais, tratam-se de romances com cara de jornalismo mesmo, da época em que o Pedro Bial era correspondente na Guerra do Golfo) de “Os Últimos Soldados da Guerra Fria.”
Bom, já deixamos claro então que o romance é, na realidade, um livro-reportagem. Bem escrito? Muito. Tem qualidade? Muita. Mas, o leitor tem que estar atento que não verá aprofundamento psicológico, cenas de tirar o fôlego, personagens complexos, etc. Claro que o autor conseguiu dar uma cara de ficção para os fatos. Uma leitura mais desatenta até poderia fazer o leitor achar que se trata de um enredo (muito bem) inventado para uma série estilo 007 do Caribe, mas não se engane. Esperar por isso é um erro. Vamos à sinopse para nos ambientarmos.
No início da década de 1990, Cuba criou a Rede Vespa, um grupo de doze homens duas mulheres que se infiltrou nos Estados Unidos e cujo Objetivo era espionar alguns dos 47 grupos anticastristas sediados na Flórida. O motivo dessa operação temerária era colher informações com o intuito de evitar ataques terroristas ao território cubano. De fato, algumas dessas organizações ditas “humanitárias” se dedicavam a atividades como jogar pragas nas lavouras cubanas, interferir nas transmissões a torre de controle do aeroporto de Havana e, quando Cuba se voltou para o turismo, depois do colapso da União Soviética, sequestrar aviões que transportavam turistas, executar atentados a bomba em seus melhores hotéis e até disparar rajadas e metralhadoras contra navios e passageiros em suas águas territoriais e contra turistas estrangeiros em suas praias.
Um pouquinho da história envolvida em um parágrafo curto: Cubanos defensores do regime de Castro contra cubanos exilados nos EUA e tentando sabotar o regime de Castro. Esses últimos atuavam de forma terrorista com o intuito de minar qualquer tentativa do ditador de desenvolver um estilo de vida de qualidade em Cuba pautado nas ideias anti-americanas. Assim, para contra atacar, o serviço secreto cubano designou 14 agentes para espionar essas organizações situadas na Flórida, roubando informações e evitando que esses atentados fossem bem sucedidos.
O ponto mais interessante do livro são os fatos. Ponto final. Acontecimentos, até então desconhecidos por mim, vão se descortinando com o passar dos capítulos, e saber que aquilo tudo é real mais do que compensa toda a falta que sentimos ao não nos ligarmos emocionalmente a nenhum dos personagens. Livro-reportagem, lembra? Conteúdo jornalístico de primeira qualidade, com um detalhamento que nos deixa claro até onde o autor foi em suas pesquisas para nos mostrar um pedaço da história cubana (e americana, e brasileira) que, até pelo fechamento característico do país, talvez nunca nos fosse totalmente revelada.
E ainda vem mais qualidade, dessa vez na escolha do tema pelo autor. Convenhamos, espionagem, conspirações e guerras são coisas MUITO legais, ainda mais quando o ritmo é bem estabelecido e os fatos vão sendo mostrados em uma ordem inteligente, forçando o leitor a ir virando as páginas. Claro, se você não gosta de detalhamentos históricos (datas, lugares, nomes, etc) vai se frustrar (muito) e talvez até abandonar a leitura, mas todos que pertencem ao nicho de leitores par ao qual o livro foi escrito serão agraciados com uma obra ímpar.
Por: Thiago Ururahy
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