Desde adolescente sou apaixonada pelas obras da Jane Austen. Hoje, orgulhosa, posso dizer que possuo todas elas em minha prateleira. Mesmo quando a crise financeira me abateu e eu precisei vender mais da metade dos meus livros, olhei para os romances da Jane de maneira especial e os mantive. O primeiro que li foi “Orgulho e preconceito”, seguido por “Razão e sensibilidade”, “Emma”, “Persuasão”, “A Abadia de Northanger” e… Faltava um! Eu sabia seu nome, mas não o encontrava de nenhuma maneira. Cheguei a pesquisar na internet, procurar em bibliotecas, livrarias… Só havia a opção em inglês. Creio que em algum momento Mansfield Park foi traduzido, mas imaginei que, provavelmente, essa tradução era bem antiga e sua edição já não estava mais disponibilizada. Essa foi minha hipótese, mas a verdade é que realmente não sei o porquê de eu ter tido tanta dificuldade em encontrar esse romance.
Para minha enorme alegria, no ano passado fiquei sabendo que a Martin Claret havia há pouco tempo editado todos os romances da Jane Austen em edições belíssimas! Esperei ansiosamente pela Festa do Livro da USP (mais de 150 editoras oferecem um desconto mínimo de 50% em seus títulos), que geralmente acontece entre o final de novembro e começo de dezembro. Graças a Deus, apesar de ainda não ter me recuperado totalmente da crise, eu já pude me dar ao luxo de comprar alguns livrinhos lá… Mesmo que todas as minhas aquisições tenham sido muito boas, ter em mãos Mansfield Park me deixou verdadeiramente emocionada. Enfim! Sou fã da Jane há uns 15 anos e só agora pude desfrutar de uma de suas grandes histórias. A edição, com a capa alaranjada e detalhes floridos em dourado, é mesmo muito bonita. Quanto ao corpo do texto, observei alguns problemas de tipografia e de revisão final, mas nada que não dê para relevar.
O romance segue a mesma linha dos demais, apesar de adotar um tom mais contido de narração. Trata da felicidade conjugal, como a sociedade da época tratava o processo de escolha, com base em dotes, vantagens financeiras e status social, em contraposição ao sentimento dos protagonistas, que sonham em se casar por amor. A mocinha se chama Fanny Price. Ela é um dos nove filhos de uma família pobre. Sua mãe era a caçula de três irmãs. A irmã mais velha, Sra. Norris, se casara com um pároco, a do meio, Sra. Bertram, conseguiu o que todos chamaram de excelente casamento, já que se casou com um homem muito rico, dono de Mansfield Park. A mais jovem acabou sendo a mais rebelde e se casou contra a vontade da família com um almirante pobre e que, pouco tempo depois, foi afastado de sua função por problemas de saúde.
Num ato de benevolência (que, na verdade, ocultava orgulho e desejo de se mostrarem superiores), o casal Bertram seguiu o conselho da Sra. Norris e decidiu aliviar um pouco a carga da irmã rebelde, levando uma de suas filhas, Fanny, para viver em Mansfield. Lá a menina não foi muito bem tratada durante muitos anos, especialmente pela tia Norris e as primas. Somente seu primo, Edmund, foi o único capaz de demonstrar-lhe sincera afeição. Logo se tornaram melhores amigos e confidentes. Edmund falava de todos os seus sentimentos com Fanny e ela também lhe confiava tudo, menos uma coisa, que era seu maior segredo, só revelado na segunda metade do livro, mas que todos nós, ao lermos a história, entendemos do que se trata.
O que para mim deixou o romance ainda mais interessante foi a presença de dois personagens, os irmãos Mary e Henry Crawford. Mary se apaixona por Edmund e Henry por Fanny. Embora assumissem posições muito diferentes a respeito do mundo, da sociedade, dos modos e, especialmente, quanto à profissão de pároco, Edmund também se apaixona por Mary. As conversas entre os dois, a respeito de suas opiniões, são os momentos mais ricos do romance e ilustram bem uma rivalidade comum do século 19, entre o pensamento moderno, mais desapegado à religião e seus valores e o pensamento religioso cristão.
Fanny, ao contrário de Edmund, não se deixa levar pelo carisma de Henry. Rapaz rico e independente, de conversa agradável, bom porte, atencioso, divertido, entre muitas outras aparentes qualidades, Henry deixava todas as moças suspirando por ele, sobretudo Maria e Julia, irmãs de Edmund e primas de Fanny. Contudo, quando todos esperavam que ele se decidisse por uma das irmãs, desapareceu da cidade e, quando voltou, decidiu pedir a mão da prima pobre, que era totalmente o oposto dele: Muito tímida e recatada, humilde e com poucas amizades. Mas sua maneira de se comportar, seu caráter e, sobretudo, sua beleza fizeram com que Henry se apaixonasse e, mesmo após ser rejeitado, foi determinado e insistente, não se conformando com o não recebido. Ele estava seguro de que, com o tempo, conseguiria a mão de Fanny e se tornaria o homem mais feliz do mundo.
Mais do que isso não posso contar! Eu te incentivo com muito entusiasmo que leia e descubra mais uma boa história da Jane. Não vai se arrepender!
Mansfield Park
Editora Martin Claret
565 páginas