Gente, à primeira vista, parece que este livro é mero academicismo, mas não se enganem com nome em evidência que pode amedrontar. Para quem não leu muito Lacan ou Freud, está aí uma alternativa que em algumas páginas norteiam o leitor.
Autobiográfico ou biográfico, Jacques Lacan, Passado Presente (ed Difel) de Élisabeth Roudinesco e Alain Badiou, no que diz respeito ao Lacan e aos autores do livro, retrata a influência das teorias Lacanianas sobre as escolhas pessoais e profissionais dos autores e sobre alguns momentos e fases da vida do próprio Lacan. A primeira parte do livro trata da relação que cada um dos autores teve com o Lacan. O livro vem organizado em tom de diálogo que, em partes, foi publicado na Philosophie Magazine nº 52, com um título instigante, “Escolha o seu Lacan” (Choisis ton Lacan!), induzindo a reflexão e dando um tom de leveza, até por que os dois autores são amigos de longa data. O bom mesmo é sentir que, os autores não só tiveram contato com os escritos, mas, conviveram com o próprio Lacan.
Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris em 1901, formou-se em medicina, passando pela neurologia, psiquiatria e depois, defendendo a psicanálise.
Élisabeth Roudinesco é historiadora e psicanalista, estudou Letras com especialização em linguística. Contrariando os estereótipos e preconceito de quem acha que pensadoras são pessoas jogadas, principalmente a mulher, pensa–se logo que usa roupas largas e não usa maquiagem. Ledo engano, Roudinesco é uma francesa que pensa! Bonita e elegantérrima.
Alain Badiou é um filósofo e escritor, nascido em Rabat, Marrocos, quando o país encontrava–se sob dominação francesa.
Ahhhh! Os franceses, colonizadores e colonizados, ainda bem que independente de qualquer coisa, o ser humano tem seu brio.
Sabe aquele momento no Divã? Alguma vez você já se perguntou aonde este indivíduo foi buscar paciência para lhe entender? Tudo bem se você respondeu, “fez faculdade”, ok! Mas, em que fontes ele bebeu para agora, ter paciência em me ouvir? Mesmo que o seu psicanalista, psiquiatra ou psicólogo não defenda com todas as forças as teorias Lacanianas, com certeza, ele teve que se debruçar sobre algum escrito Lacaniano.
Interessante o detalhe no qual Élisabeth Roudinesco, observa o laço do ir e vir entre a filosofia e a psicanálise aos olhos do Lacan, pois, para ela, Lacan foi quem fez os filósofos compreenderem na psicanálise traços de sublevação filosófica. E em outro ângulo mostra o caminho da filosofia aos psicanalistas onde, também se esgota nessa fonte, dando um incentivo de proximidade, fazendo filósofos comparecerem em seus seminários. Mas não era mero capricho para exaltação do ego, a intenção era que a mistura de filósofos com psicanalistas, provocasse um engajamento maior na busca do conhecimento por parte dos psicanalistas, pois, considerava os psicanalistas com pouca bagagem intelectual, a questão aqui, era troca de conhecimento.
Este foi um dos momentos nos quais achei interessante, em que o Lacan engaja–se na psiquiatria, focado na filosofia do sujeito, observando quebras de personalidade e se inspirando, sabe em quem? Nada mais, nada menos que os surrealistas, em especial, Salvador Dalí.
Para Alain Badiou, a psicose é muito interessante para o filósofo, afirmando isso em um contexto em que, acha louvável e um ato vitorioso os psicanalistas passarem o dia ouvindo seus pacientes. Enquanto Freud é citado por diversas vezes no livro, por sua cultura, sua contraposição ao Lacan, seu pensamento e interesse pela neurose, desconfiava, assim, da filosofia, achando uma lógica da loucura, já o Lacan, tinha como desejo, desvendar a psicose e a loucura feminina.
Sempre defendi que os fatos não são isolados. Eu acredito que o conhecimento também não. Inebriados com o livro, você leitor, poderá perceber que os caminhos interligados, como as fontes e os outros meios que os próprios autores, como observadores e estudiosos, e até o próprio Lacan, buscam e mesclam em suas fundamentações, ora da arte para a psiquiatria, ora da filosofia e da linguística para a psicanálise. Até o contexto político entra, retratado pela passagem de Maio de 68. A inclinação política dos três também é visível, Alain Badiou, Élisabeth Roudinesco e Lacan, como em uma passagem do livro em que encontramos a confirmação de um dos autores sobre o lado Tocqueville de Lacan (Tocqueville, sociólogo, historiador, pensador político francês). No entanto, é mais para retratar a posição do indivíduo e do coletivo frente às possibilidades.
Quando chegamos à segunda parte do livro, nos deparamos com outro debate, “Lacan, trinta anos depois”, realizado em 2011. Porém, percebemos a descrição contínua de um Lacan, como um marco da psicanálise mas, olhamos um Lacan mais maduro, encontramos nas vozes do livro, a afirmativa dos estudos do Lacan sobre Freud, porém a dualidade de proximidade e distância, negando segui–lo e com a proposta de reinventar a psicanálise. Élisabeth e Alain são uníssonos quando confirmam a atualidade do Lacan. Recentemente, participei de um ciclo de conferências em filosofia onde o filósofo francês Charles Girard, confirma a atualidade de Alexis de Tocqueville para o mundo contemporâneo. Correlações com o parágrafo anterior?
Pelas posições que ocupam no espaço social, os autores, incitam e convocam a todos para que deixem a psicanálise mais autônoma, não se tornem psicólogos técnicos, ou seja, cada um sair do seu quadrado.
E você leitor? No seu cotidiano, com certeza, já pensou em fazer outras coisas, porém, ficou só nos desejos primários. Se é para agregar, já pensou em arriscar em algo que possa torna–lo maior dentro das suas limitações?
Maravilhosas suas resenhas Ju.
Parceria boa esse ein!!!
bjos minha querida…