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A música nunca termina na vida de César Camargo Mariano

Duas fotos diferentes disponíveis na internet guardam semelhanças. As duas mostram Elis Regina com o cabelo bem curto, pernas cruzadas, sentada no chão e encostada ora numa poltrona, ora numa cadeira de balanço. Nas duas imagens, a cantora que é conhecida por sua personalidade explosiva, sorri com a cabeça encostada na cadeira. Sentado, nas duas fotos, está César Camargo Mariano, pianista e músico consagrado, olha sério para a câmera. 

A imagem do músico até hoje é lembrada por seu casamento com Elis. Mas a carreira do compositor, arranjador, pianista, produtor e empresário vai muito além de marcar o segundo casamento da cantora mais amada do país.  

A história de César Camargo Mariano como músico começa décadas antes do casamento que chamou a atenção do Brasil. Apesar de ser conhecido como compositor e arranjador que teve parcerias de grande sucesso, César começou cedo como prodígio no piano. Aos 14 anos já acompanhava uma banda de jazz e chamava atenção do público, com a elegância que costumava levar para sua música nos palcos. 

 

O caminho que levou César Camargo Mariano aos palcos

Nascido em São Paulo em 1943 e batizado como Antônio César, o compositor teve, desde sua infância, contato próximo com a atmosfera musical. Ganhou um piano aos 13 anos e, logo nos primeiros anos como talento precoce do piano, foi contratado pela TV Record como “dublê” do astro americano Nat King Cole. Ao tocar para o diretor de uma agência de publicidade, o adolescente César Camargo Mariano foi escolhido para divulgar a passagem de Nat King Cole pelo Brasil. 

Hoje a divulgação feita pelo pianista de 15 anos não seria bem recebida. A produção pintou as mãos do adolescente para que ele pudesse se passar pelos dedos ágeis músico americano que era negro. Nat King Cole ficou sabendo que um adolescente o interpretou numa campanha publicitária e quis conhecer o garoto, mas o encontro nunca aconteceu. Segundo César Camargo Mariano, o destino não quis que o encontro acontecesse. 

 

Parcerias e figuras ilustres: a música nunca termina 

O filho mais velho de Beth e Miro – que era pianista clássico amador – César Camargo Mariano é conhecido por parcerias e conexões musicais. Seja pelos seus dois primeiros casamentos com Marisa Gata Mansa e com Elis Regina, seja pelos contatos com Johnny Alf, que era amigo da família. A música nunca termina na vida de César Camargo Mariano. Perguntado em uma entrevista sobre seu modo de compor, o pai de Pedro Mariano e Maria Rita, respondeu que é uma atividade solitária e difícil de ser compartilhada. 

No seu livro de memórias intitulado de “Solo”, o músico relembra parcerias musicais com Johnny Alf, Tom Jobim, Wilson Simonal, Nana Caymmi, Leny Andrade, Hélio Delmiro, Arnaldo Jabor e Tony Bennett. A passagem com Tony Bennett mostra como o talento de César Camargo Mariano serviu à música brasileira. 

Quando gravou, em 2002, no estúdio de Bennett, que é fã da música brasileira e tinha o disco Elis & Tom como obra prima da música, César Camargo Mariano foi apresentado ao veterano cantor como arranjador e produtor do álbum da dupla brasileira. A surpresa do veterano cantor americano deixou o tímido compositor brasileiro com uma anedota inusitada.

 

Elis Regina e César Camargo Mariano: espetáculos e música

O músico era companheiro de palco de Elis e a acompanhava como arranjador e pianista. Mas Elis estava saindo de um casamento tumultuado com Ronaldo Bôscoli. César Camargo Mariano era casado e extremamente tímido, a cantora era ousada e andava alimentando uma queda pelo pianista. A gravação do disco Elis de 1972 estava marcada e seria o primeiro disco de Camargo Mariano com Elis. 

Durante uma festa, numa atitude audaciosa, Elis deixou um bilhete no bolso do futuro marido. A ação audaciosa da Pimentinha deixou o pianista sem fôlego e o caminho foi fugir. Assustado, César fugiu pela janela do banheiro e deixou Elis achando que tinha perdido o pianista. Nos anos seguintes, veio um relacionamento calmo e com trabalhos marcantes como a turnê “É Elis” com faixas do disco de 1972 e o espetáculo “Falso Brilhante” que ficou em cartaz de 1975 a 1977. O casamento dos dois foi em 1973 e a separação aconteceu em 1981. Os dois músicos tiveram dois filhos: Pedro Mariano e Maria Rita. A parceria com Elis marcou a carreira de César Camargo Mariano que já declarou: Elis Regina só teve uma. Melhor Assim. Não é legal ter oito Picassos, é legal ter um só”. 

 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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