Até o momento, mais de 8 mil pessoas foram vítimas fatais do COVID – 19. Em média 5 pessoas ficam enlutadas para cada morte, ou seja, temos 37 mil 425 pessoas enlutadas e em sofrimento no nosso país.
Cada indivíduo vive o luto à sua maneira, mas, nesse momento de pandemia até esse processo está sofrendo mudanças drásticas e não tivemos tempo de entender o que está acontecendo – e mesmo assim está acontecendo. Estamos tendo que lidar com mudanças bruscas em várias áreas, inclusive na maneira de nos despedirmos dos nossos entes queridos. Há uma mudança nos ritos de despedida e nós, que já estamos frágeis, temos que digerir tudo durante o isolamento social.
Na literatura são descritos 5 estados mentais que atuam como referência para entendermos como acontece o processo do enlutado. Elizabeth Kübler-Ross descreveu as seguintes fases:
Etapa da Negação:
A negação inibe contatos mais próximos com outras pessoas, dada à dor que este sente. Nesta etapa que normalmente é inicial, há um movimento em se levantar possibilidades a fim de reverter os fatos. Isso se caracteriza através de frases como “Se não tivesse acontecido? “ “E se eu tivesse interferido? ”.
Etapa da Raiva:
A raiva e o ressentimento que aparece nesta fase são resultado da frustração que produzimos ao nos darmos conta de que a morte ocorreu e que não há nada que possamos fazer para corrigir ou reverter a situação. O luto produz uma tristeza profunda que não pode ser aliviada, porque a morte não é reversível. Em adição, a morte é vista como o resultado de uma decisão, e, portanto, procuramos culpados. Assim, nesta fase de crise o que domina é o rompimento, o choque de duas ideias (a de que a vida é desejável e a de que a morte é inevitável) junto com uma forte carga emocional, por isso é comum que aconteçam explosões de raiva.
Etapa da Negociação:
Na negociação – o que pode ocorrer antes ou depois da morte – fantasiamos a ideia de reverter o processo, e buscamos estratégias para tornar isso possível. Por exemplo, é comum as pessoas tentarem negociar com entidades divinas ou sobrenaturais para fazer com que a morte não aconteça em troca de mudar o estilo de vida e “transformar-se”.
Etapa da Depressão:
A depressão costuma figurar entre as fases do luto como a que mais dura na vida do indivíduo. Mesmo que não pareça que está sentindo, o indivíduo sofre bastante internamente. Não raro, é possível que a fase de isolamento retorne com mais força, ainda que oscile por muito tempo.
Acima disso, a sensação de melancolia, impotência, desesperança e culpa podem permear a sua interação social. Como se deve imaginar, é um campo de introspecção profundo, mas cuidado. Sofrimento e isolamento em demasia podem adoecer uma pessoa.
Etapa de Aceitação:
É o momento em que se aceita a morte do ente querido, quando aprendemos a continuar vivendo em um mundo que ele não estará mais, e aceitamos que esse sentimento de superação faz bem. Em parte, essa fase se dá porque o traço que a dor emocional do luto causa vai se extinguindo com o tempo, é uma fase necessária para reorganizar ativamente as próprias ideias e confortar o nosso esquema mental.
Importante salientar que essas fases podem ser vividas em qualquer ordem – inclusive juntas -e que nem sempre todas as etapas são vivenciadas.
Fique em casa
Como mencionei no início do texto, mais de oito mil pessoas morreram em nosso país e sabemos que esse número vai aumentar – por isso, se puder, fique em casa! Ainda não é hora de sair – imagine como é difícil para as pessoas que perderam seus entes queridos olharem esses números, que são frios.
Mais de oito mil histórias acabaram em meio desta loucura que estamos vivendo. Li relatos que me emocionaram muito nas redes sociais, de pessoas que perderam alguém e mal puderam se despedir, que não puderam receber os abraços de condolência. Se nós que não perdemos ninguém sentimos falta de um abraço, imagine quem acabou de enterrar um ente querido. Nessas horas as palavras nos faltam, afinal, o que falar para alguém que se despede de um amor? O abraço fala por nós. As lágrimas compartilhadas falam, a visita alguns dias depois, tudo isso acalenta os corações enlutados, que agora tem que lidar com tudo isso sem poder sair de suas casas.
Se você é um desses enlutados, sinta-se abraçado por mim e por todos que vão ler esse texto. Tente entender que é realmente um processo complexo. Perder alguém já e naturalmente difícil e nesse cenário atual é mais angustiante ainda. Mais uma vez escreverei algo que acredito muito: respeite seu processo. Se permita chorar e sentir, viver um dia de cada vez, digerir todas as sensações. Tudo no seu tempo. Se sentir que precisa, procure um psicólogo, procure um amigo. Escutei uma frase em um curso e a trago comigo desde então: A dor compartilhada é possível ser vivenciada. *
Mas, e daí?
E daí que ainda somos humanos, ainda nos resta empatia, que ainda podemos demonstrar nossos sentimentos da maneira que é possível nesse momento.
Projeto Inumeráveis
Encontrei uma inciativa linda, daquelas que acalentam o coração, que se chama “Inumeráveis Memorial dedicado à história de cada uma das vítimas do Corona vírus no Brasil”. Impossível não se emocionar. Lá os números viram histórias, viram pessoas. para visitar o site, basta clicar aqui.
Espero que esse texto seja uma gotinha de amor e de esperança para todos vocês.
Lembrem-se: não é só uma gripezinha. Tomem cuidado, cuidem de quem vocês amam!
*Frase de Fernanda Rezende, também psicóloga. Procurem por ela nas redes sociais sempre leio ótimos textos sobre luto e outros temas, clicando aqui.