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Vida Roubada

Não sei se vocês leram a minha resenha do livro Quarto, que trata de uma trama parecida, porém ficcional. Na época esse livro mexeu tanto comigo que após o ler tive que ficar um tempo sem ler nenhum outro livro, pois não tirava a história da cabeça. Tendo isso em vista, vocês devem saber que ler Vida Roubada causou um estrago muito maior. Demorei tanto para ler esse livro, foram mais de uma semana.

A história é tão densa que ao terminar de ler algum capítulo do livro eu cheguei a ficar mais de 2 dias sem conseguir pegar no mesmo novamente. Essa é uma história que deve ser contada, mas sinceramente é uma que eu não gostaria de ouvir. Eu não consigo me colocar no lugar dessas meninas que foram (e infelizmente, ainda são) sequestradas, sofrendo abusos de todos tipos. Porém tenho duas sobrinhas que amo mais do que tudo, e não consigo (e nem quero) imaginar algo assim para elas.

Jaycee foi sequestrada com 11 anos, quando estava a caminho da escola. Passou 18 anos sendo mantida em cativeiro, tanto físico como mental, por um casal. Fica claro a sua prisão mental, quando ela relata suas saídas da casa junto com a Nancy, seja para fazer compras ou a unha, nesses momentos ela vivia um período de pânico, com medo de ser reconhecida, de falar algo que não devia, de nunca mais ver suas filhas.

Ele usava seu poder de persuasão para conquistar minha confiança. Ele virou meu mundo. Eu dependia dele para comer, beber água, ir ao banheiro. Ele era minha única fonte de diversão. Eu queria tanto ter contato humano que acabava ansiosa para vê-lo. Página 40

O que torna o livro muito mais denso é o fato de ser real, estamos lendo o relato de um crime absurdo através das palavras de sua maior vítima. O relato de Jaycee é feito de uma forma que você se vê envolvido com sua história de uma forma que nunca imaginaria. Durante a leitura tive a impressão que ela estava contando sua história diretamente para mim, cara a cara.

Dei poder ao meu sequestrador e o confortava, quando ele era o errado. Onde estava o meu conforto? Onde estava a minha liberdade? Por que eu sentia a necessidade de confortar meu torturador? Violar o meu corpo não foi o bastaste? Precisava violar a minha mente também? Ele tinha a capacidade de modificar qualquer situação para se adaptar às próprias necessidades. O que houve com meu lado teimoso? Eu sabia que tinha que fazer o que ele mandava e não reclamar. Meu medo era fazer algo errado, deixar Phillip com raiva e sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Instintivamente eu sabia eu sabia que tinha que cooperar com ele ou sofreria as consequências. Página 174

O livro tem fotografias suas quando criança, de suas filhas ainda pequenas, dos seus gatos e trechos que Jaycee escreveu ainda em cativeiro, como um diário que ela fez para um de seus gatinhos, e um diário próprio feito como uma forma de desabafar seus pensamentos e angustias.

O livro não segue uma linha de tempo fiel, como Jaycee nos alertou no inicio, o que ajudou a passar essa sensação de ser uma conversa informal entre amigos.

Por que sempre tem que ter algo para nos impedir? É como se tivéssemos que lutar a cada passo que damos na vida sem nunca saber exatamente onde isso vai nos levar, mas lutamos mesmo assim! Por que ele [Phillip] faz uma simples frase parecer tão complicada? Quando a vida vai valer a pena? Queria que fosse agora, estou tão casada! Cansada de não estar no controle de minha vida, afinal é a minha VIDA! Por que as pessoas acham que têm direito a minha vida? Página 213

O que realmente quero dizer com essa resenha é que, esse tipo de história deve ser contada para que, quem sabe, assim cause essa revolta que eu senti no maior número possíveis de pessoas. Quem sabe assim algo pode ser feito para que isso nunca mais aconteça. Porém vocês devem ir preparados para a leitura, é o tipo de livro que arranca lagrimas de tristeza, revolta e no final, de felicidade por esse pesadelo finalmente ter terminado, ou parte dele. Afinal isso sempre vai fazer parte da vida dos envolvidos.

Ah, achei interessante que foi retratado um pouco da vida além do cativeiro, o processo de cura que Jaycee teve (e está) que passar. E eu, sinceramente, espero não ler nenhum livro com a mesma temática, pois espero que esse tipo de crime deixe de acontecer.

Colaborador Beco das Palavras
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