Sua mente era brilhante, mas nela Camille se aprisionava. Casada há mais de dez anos com Marco Túlio, um banqueiro milionário, tinha de tudo e o que havia de melhor. Mas seu casamento estava em crise. Muito atarefado, Marco Túlio era um marido ausente devido à sua dedicação ao trabalho. E este não era o único motivo de ultimamente se sentir tão só. A solidão também estava em sua mente, se sentia incompreendida, vivia desconectada de si mesma. Já havia passado por vários diagnósticos; psicose paranoica, depressão bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome do pânico.
Camille era uma mulher muito difícil de lidar. Impenetrável, só se sentia segura desarmando outra pessoa, conseguia estressar seus psicólogos e psiquiatras deixando-os sem respostas aos seus intermináveis questionamentos. Ela era uma amante da filosofia. “Os livros me convidam à serenidade, a solidão me convida à loucura.” Era assim que Camille se justificava. Os debates profundamente reflexivos, entre citações e ideologias de grandes filósofos, torna o livro muito interessante. Freud, Jung, Sartre, Nietzsche, Camus, Kant, Descartes e outros são apresentados ao leitor de maneira simples e de fácil compreensão.
Na tentativa de sair da depressão e salvar o casamento, o casal resolveu comprar uma antiga fazenda e nela residir por algum tempo. Assim que chegam à fazenda, administrada por dezenas de funcionários, Camille conhece Zenão do Riso, o jardineiro meio atrevido que adorava cantarolar, falar com as flores e por muitas vezes foi visto soltando gargalhadas sozinho. Mas apesar de sua simplicidade, era culto quando o assunto era filosofia. Camille se sentiu provocada e intrigada com esse jardineiro que em seu jeito meio caipira de falar, possuía um espantoso conhecimento sobre a complexidade do ser humano e os fundamentos existencialistas. Ela não suportava sua alegria. Ele era feliz, embora pobre, enquanto ela era rica e infeliz.
O marido resolve contratar Marco Polo, um psiquiatra muito requisitado, mas que não ignorava os mais carentes e procurava atende-los sempre que possível. Zenão do Riso fora um de seus humildes pacientes. Conhecido como “o abridor de latas”, era capaz de acalmar os mais nervosos e trazer à tona a sabedoria dos ignorantes. Também apreciava a filosofia e sabia como desarmar seus clientes quando necessário. “Todo ser humano é um cofre. Não existem mentes impenetráveis, apenas chaves erradas.” – explicava.
Gostei muito deste livro, cada página me parecia como um passo a um caminho desconhecido e fascinante, despertando uma imensa curiosidade pelo o que haveria e aconteceria no final.
“No auge da indústria do lazer, nunca fomos tão tristes; no apogeu da psicologia, nunca fomos tão estressados e deprimidos; na era da informação, nunca formamos tanto repetidores de dados…” (Pág. 65)
Pessoas acostumadas a criticar os outros ao redor, mas incapazes de reformar suas próprias loucuras. De Camille’s o mundo está cheio, e muitos ainda lutam pela liberdade de suas próprias mentes. Um bom livro para uma época onde as pessoas são especialistas sobre o mundo exterior que os cerca, mas que ainda são como crianças em seu mundo interior.