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A Filha da Feiticeira

filha-da-feiticeiraMagia, romance, sombras, perseguição. A filha da Feiticeira (Paula Brackston, ed Bertrand Brasil) é um  livro que me levou para diferentes lugares, situações, e que nos enfeitiça pelos detalhes de cada momento. Alguns momentos são muito fortes, misteriosos, agonizantes, e outras nos trazem sensações de poder, coragem e resistência.

Elizabeth Anne Hawksmith é uma feiticeira de 384 anos de vida. De tempos em tempos, tem que mudar de cidade e recomeçar uma nova vida. Fevereiro de 2007, assim tenta viver uma vida normal vendendo produtos naturais (ervas, óleos, chás…) num vilarejo em que mora. Assim que se mudou para o atual chalé, começou a receber visitas de sua vizinha, Tegan. Uma adolescente que vive sozinha, pois não tem muitos amigos e sua mãe passa a maior parte do tempo ausente. Tegan consegue conquistar a amizade de Elisabeth, demonstra um grande interesse por suas histórias e todo o mundo da magia.

Elisabeth se arrisca mesmo sabendo da imensa responsabilidade em iniciar alguém à feitiçaria. À medida que ensina sobre os poderes e feitiços, ela conta três de suas emocionantes histórias do passado.

A primeira se passa no ano de 1647, Elisabeth ainda era uma adolescente comum, filha de agricultores. Vivendo uma vida muito humilde, aos 15 anos viu seu pai e seus dois irmãos morrerem vítimas da peste que atacara a população. Quando ela mesma foi contaminada pela doença, sua mãe entrou em desespero, e assim recorreu ao homem considerado o mais estranho da cidade, um feiticeiro poderoso, chamado Gideon Masters. Elisabeth não gostava dele, já o vira estuprando uma mulher, e sabia que ele não era uma boa pessoa. A mãe, ao ser iniciada na magia, conseguiu salvar a vida de sua filha, mas foi acusada, julgada e enforcada após a chegada de um caçador de bruxas na cidade. Por suplício da mãe antes de morrer, Elisabeth vai atrás de Gideon para ser salva e ele também a transforma numa feiticeira. Mas só depois descobre o preço que deverá pagar por isso – passar o resto da vida com Gideon.

Começa a perseguição. Elisabeth escapa, mas logo é capturada pelo caçador de bruxas que estava à sua procura. No início se rende, mas depois se vê forçada a lutar por sua integridade e sobrevivência. E foge mais uma vez.

Na segunda história, Elisabeth é uma enfermeira que vive em Londres, em 1888. A essa altura, a narrativa é ainda mais forte, tensa e intrigante.  Notícias se espalham pelas ruas sobre mulheres que foram violentadas cruelmente. O assassino fica conhecido como Jack, o Estripador. Elisabeth conhece as vítimas, e começa a acreditar que Gideon pode estar envolvido nisso. Une suas forças para lutar, mas não será dessa vez que finalmente estará livre de seu perseguidor.

Na terceira história, Elisabeth é uma enfermeira durante a Guerra Mundial em 1917. Se até então foi preciso “ter estômago” para encarar os detalhes da segunda história, a descrição da terceira é mais agonizante ainda. Através da percepção de Elisabeth, é possível sentir todo o sofrimento e escuridão vivenciados pelos soldados feridos, mutilados e à beira da morte, além de sua própria agonia em querer usar a magia para salvar a todos, mas isso condenaria a si mesma. Já havia cometido esse erro na segunda história, não queria atrair Gideon novamente.

Voltando ao ano de 2007, Tegan agora está profundamente apaixonada e não mais aparece aos encontros e rituais com Elisabeth. Ignora quando é alertada que corre perigo, até que se depara com a necessidade de colocar em prática tudo o que aprendera.

O final do livro deixa um pouco a desejar. A tão esperada revanche na luta entre o bem e o mal é breve e pouco excitante. Um desfecho com poucos efeitos. Mas de modo geral é o tipo de livro que me fez pensar e repensá-lo ainda por muito tempo. Nas histórias de vida de Elisabeth, na sua coragem, força e superação por centenas de anos, tentando recomeçar sua vida do zero. E assim, cada nova era exige um novo diário, um Livro das Sombras. É inspirador para quem gosta de livros sobre magia, “A Filha da Feiticeira” me passou como um filme na cabeça, e acho que renderia uma bela trilogia.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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