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Cidade Aberta

Escrever um livro para muitos pode ser algo difícil, mas ser honesto em um livro às vezes requer mais coragem do que possamos imaginar. Escrever o que se pensa e/ou sente pode fazer as pessoas ficarem desconfortáveis  e até mesmo chateadas, o que faz com muitos não seja tão honestos ao falar ou escreverem o que pensam. Mas existe um ponto positivo na honestidade: tiramos um peso do peito, nos sentimos livres e, muitas vezes, conseguimos encontrar soluções melhores para nossos problemas.

O livro Cidade Aberta de Teju Cole (Companhia das Letras, 320 págs) é mais um desabafo do que uma história. Ambientado principalmente em Nova York, o livro nos apresenta Julius, um psiquiatra nigeriano que começa a caminhar pela cidade após o trabalho. A intenção de andar não há motivo, mas ao fazê-lo Julius acaba absorvido pelo que acontece ao redor e as lembranças que retornam em sua mente.

O livro não possui história de amor ou um drama ao qual Julius precisa superar, mas um livro sobre o que se passa na cabeça de uma pessoa e qual sua reação aos acontecimentos do dia-a-dia. Por mais que aparente ser uma história sem começo, meio e fim, o livro pega o leitor. Escrevendo de uma forma bem tranquila e uma narrativa simples, o texto transcorre tranquilamente e nos atrai à medida que avança, mostrando o passado e o presente vivido por Julius, que nos faz entender a situação da personagem.

À medida que ia lendo, percebi que Julius é uma pessoa solitária, que busca algo a se apegar em Nova York. Uma situação que milhares de pessoas passam não só na “big apple”, mas em diversas grandes cidades do mundo, onde o ritmo frenético não permite que as pessoas estreitem os laços ou tenham tempo para pensar no próximo. Essa percepção se torna mais clara a medida que Julius relembra seu passado na Nigéria, onde cada lembrança está relacionada às pessoas próximas a Julius. Ao mesmo tempo percebemos que Julius age como um típico cidadão de Nova York, ignorando pessoas e as esquecendo no mesmo ritmo que a cidade pulsa, algo completamente normal, mas que incomoda a personagem, embora ele não perceba que esse é parte do problema.

Em determinada parte da história o autor ousa falar sobre temas difíceis para os americanos, ao mencionar as tragédias do holocausto e de 11 de setembro (dia que aconteceu os atentados ao World Trade Center, em Nova York e ao Pentágono). Cole foi o primeiro autor que li que fala sobre os atentados abertamente, mostrando dois lados da moeda (a opinião tanto de alguém que mora nos EUA como de um mulçumano) assim como a situação israelense no oriente médio e, devo admitir que o fez de forma sutil e sem escandalizar.

Em muitos momentos, senti que o livro era uma obra biográfica, e não temo em acreditar que Teju Cole usou muito do que sentiu e passou para escrever o livro e com uma honestidade que elevou a obra a um patamar superior a muitos outros livros. Isso acabou transformando o livro em uma obra belíssima, que leva o leitor a pensar sobre sua própria vida e solidão, isso porque (ainda) não existem (muitas) lembranças para se apegar ao lugar. Àqueles que, como eu, mudaram de cidade ou país, provavelmente vão se identificar com esse livro.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

2 thoughts on “Cidade Aberta

  1. Falaram muito bem desse livro. Gostei de saber que falam sobre o 7 de setembro. Fiquei curiosa para ler.

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