Considerado um visionário de sua época, o filósofo, advogado e diplomata, Thomas More descreve na obra “Utopia” uma república imaginária oposta a realidade conflituosa vivida pela Europa no século XVI
Uma ilha onde não existe a propriedade privada e dinheiro: é o Estado que se preocupa com a felicidade do povo e a organização da produção. Em Utopia, uma das mais importantes obras da filosofia política de todos os tempos, publicada pela Editora Edipro, os leitores de Thomas More se deparam com a contradição deste lugar ideal. De um lado, o paraíso, em que não existem desigualdades; de outro, o inferno, onde a individualidade não encontra espaço para se manifestar.
O lado positivo e negativo da sociedade idealizada por More divide o livro em duas partes, ambas conduzidas por Rafael Hitlodeu – personagem alter-ego do escritor que narra a experiência em Utopia. O primeiro momento critica a Inglaterra da época, período em que os camponeses são expulsos para as cidades e se deparam com perseguições religiosas e guerras. Já no segundo, por exemplo, é proibida a intolerância e o fanatismo: o povo pode escolher as crenças e todas as fés existem em harmonia.
É por isso que não se encontra nada nos templos que não sirva a todas as crenças em conjunto. Cada uma celebra em sua casa, em família, os mistérios particulares da sua fé. O culto público é organizado de maneira a não contradizer em nada o culto doméstico e privado. Não se encontra nos templos imagem de deuses alguma, a fim de que cada um fique livre para conhecer a Divindade sob a forma que melhor corresponda à sua crença. (Utopia, p. 103)
O vocábulo que dá origem ao título da obra foi criado por More em 1516, a partir das palavras gregas correspondentes para “não” e “lugar” – o termo entrou definitivamente para a linguagem mundial como definição de um lugar idealizado, de completa felicidade e harmonia. A palavra é considerada uma classificação literária dentro da ficção, caracterizada por abordar uma organização da sociedade ideal em contraponto a uma realidade atual.
Além de marcar a história da literatura e filosofia, Thomas More foi chanceler do reinado de Henrique VIII, da Inglaterra. Filósofo, escritor, advogado e diplomata, ocupou diversos cargos públicos. Foi o rompimento do rei com a Igreja Católica que levou More à prisão e à morte depois de renunciar ao posto.
Sobre o autor
Thomas More (1478-1535) foi chanceler do reinado de Henrique VIII, da Inglaterra. Filósofo, escritor, advogado e diplomata, ocupou diversos cargos públicos em sua vida. Leitor de Santo Agostinho e adepto da vida ascética, foi um intelectual humanista. Foi autor de uma biografia do rei Ricardo III, que serviu de inspiração para a peça homônima de Shakespeare. Sua obra mais conhecida, entretanto, foi Utopia. Contrário ao rompimento de Henrique VIII com a Igreja Católica pela questão do direito ao divórcio, renunciou ao posto de chanceler. O fato acabaria o envolvendo em acusações de conspiração que o levaram à prisão e à morte. Em 1935, foi canonizado como mártir da Igreja Católica.