Você vai sentir tanta saudade de casa, que vai querer morrer. E não há nada que você possa fazer sobre isso, além de suportar. Mas você vai, e ela não vai matá-la, e um dia, o sol vai sair e você vai perceber que este é o lugar onde a sua vida está.”
Esse é o trecho de Brooklyn (Colm Tóibín, Companhia das Letras) que resume a história. É um livro sobre recomeço, solidão, saudades, amor e perdas. Nada disso nessa ordem.
Foi um livro sofrido de ler, mas para mim, cada paragráfo doeu muito pois eu estava vivendo parte do que a Eilis (a personagem principal) estava vivendo. Ela saiu da Irlanda sozinha para recomeçar a vida nas Américas. Já eu, saí da América do sul para recomeçar (quem diria) na Irlanda.
Os sentimentos de Eilis se misturaram aos meus. Me lembrei dos primeiros momentos na nova cidade, em ver tudo como novidade e depois da falta de não ter a familia.
Para Eilis, a saudade chegou junto com a primeira carta da família. Para mim, foi ouvir minha mãe ao telefone falar que minhas cachorras estavam lambendo o celular enquanto eu falava. Esse momento destrói nosso coração, ficar sozinho é o nosso desejo e maior medo, e nunca, nunca, um abraço se faz tão importante.
Felizmente, Eilis possui alguém para ajuda-la, um padre irlandês está sempre auxiliando os imigrantes e decide matricula-la em um curso. Aos poucos Eilis começa a criar raízes e até se apaixona. Mas quando sua vida finalmente recomeça Eilis recebe notícias da Irlanda e precisa retornar. Agora Eilis passa a ter dúvidas do que fazer.
A belíssima história de Toíbín fascina qualquer leitor. Cada passagem que lia me lembrava de um momento que passei na Irlanda, a saudade de casa, os medos de perder uma familiar. Quando o pai de uma amiga faleceu no México passei a me preocupar em não ver mais meus pais. Quando soube que poderia ter perdido minha mãe (ela teve um avc em junho de 2016), me senti culpada por não estar no país. Vi um outro lado que não nos contam. Mas o que nossa família também não sabe é que mesmo sem nos contar nós nos preocupamos, percebemos que algo está errado e sofremos. Sexto sentido talvez.
Em cada pagina de Brooklyn vi quase toda minha vida na Irlanda pelos olhos de Eilis, pelo menos a parte de angústias e algumas alegrias. É uma história que qualquer um pode ter vivido ou viverá, com dores e alegrias que deleita qualquer leitor.
Brooklyn é aquele livro que pode ser a história da nossa vida, de tão bem detalhada que é. Merece ser lido e assistido.