O jardim Secreto foi uma das últimas obras de Frances Burnett, ao mesmo tempo, um dos mais aclamados. A história infantil se transformou em filme em 1949 e 1993, este último sob a produção executiva de Frances Ford Coppola (O Poderoso Chefão) e Warner Bros. Igual ao livro, o filme se tornou um clássico.
Não vou falar muito da história em si, pois logo teremos a resenha do livro. Darei uma breve introdução para não deixar nenhum leitor “perdido”.
No filme conhecemos Mary Lennox, uma menina fraca e birrenta que nunca fez nada na vida, nem mesmo vestir sua roupa. Após um terremoto onde vivem na Índia, onde seus pais morrem, ela é levada para o condado de York para viver na casa de seu tio, Archibald Craven. O tio é um corcunda recluso que casou com a irmão gêmea de sua mãe e desde a morte da esposa passa os anos viajando e evitando a casa em que mora.
Casa que devemos dizer ser um palácio. A propriedade tem 100 quartos, um espaço enorme em desuso por não haver mais pessoas para viverem lá. Quando Mary chega na residência, é informada que não poderá entrar em outros cômodos que não sejam os seus.
Na casa do tio Mary começa a ter uma vida bem diferente do que vivia anteriormente. Ela não tem criados para mima-la e muito menos fazer suas vontades. Ela tem que aprender a tratar as pessoas melhores, pois suas birras não têm poder sob nenhuma pessoa aqui.
Por orientação de Martha, uma empregada que cuida dela, Mary passa a ficar mais tempo nos jardins, aproveitando o sol e o ar puro. A menina começa a fazer isso e, aos poucos seu saúde vai começando a melhorar. No início Mary trata Martha muito mal, mas com o passar do tempo isso começa a mudar.
Duas coisas fazem Mary mudar seu comportamento: o irmão de Martha, Dickon, um menino de 12 anos que ama as plantas e os
animais, e o jardim secreto, um lugar que foi trancado e esquecido após a morte de sua tia há 10 anos atrás. Ao saber da história do jardim, Mary fica curiosa e consegue uma maneira de entrar lá. Para sua surpresa, a menina fica maravilhada com o lugar e quer cuidar dele para que as plantas não morram.
A versão cinematográfica não ficou muito diferente do livro. Como sempre, alguns personagens foram tirados, assim como partes. A seleção de atores é fabulosa, ninguém ali deixou a desejar e a locação belíssima. A trilha sonora é bem reduzida, Mas excelente. A história não precisa de música para seguir um rumo mais harmonioso (o texto de Burnett já o faz).
Mas acredito que a cenografia e fotografia tenham sido o ponto mais alto da película. O jardim foi muito bem trabalhado, tanto no início do filme (onde está esquecido e malcuidado), seguindo seu crescimento e seu ápice na primavera. Unindo esse cenário com a fotografia, que mostra o crescimento de plantas e flores, faz o público ficar maravilhado com o jardim, acredito que podemos sentir o mesmo que a pequena Mary Lennox vê aquele jardim que passou a amar incondicionalmente.
E é nesse desenvolvimento do filme que percebemos como Coppola conseguiu criar tudo que Burnett desejava para sua obra: mostrar como é o crescimento de três coisas esquecidas há muitos anos: de uma menina, de um jardim, de uma família. E é sobre isso que o filme fala, sobre conseguir reconstruir aquilo que foi esquecido, ignorado ou, até mesmo, repudiado pelas pessoas que mais amamos. Coppola conseguiu inserir na película algo que pouquíssimas pessoas conseguem passar de uma obra para as telas: as entrelinhas da história. Entrelinhas que, muitos leitores sabem, é a alma da história.