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Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro

Infelizmente, parece que uma desgraça sempre vem acompanhada por outra. Como se não bastasse o momento delicado e pandêmico que vivemos, que nos traz tanta tensão e incerteza de um futuro, eis que submerge o fantasma do racismo. Algo que, às vezes, achamos não existir, mas que na verdade, está entre nós.

Prova disso são algumas expressões que, por mais inofensivas que possam parecer, se analisarmos friamente, perceberemos uma certa analogia que remete esse enquadramento de cores e o pior, utilizando a cor preta como símbolo de coisas ruins.

O livro em questão trata justamente desses pontos e nos chama atenção para algo que, em muitas situações, falamos sem ao menos parar para pensar a respeito de suas possibilidades de interpretações. Ler esse livro não trouxe apenas uma nova visão sobre alguns termos comuns, mas também, a noção de não proferi-los. 

Vivemos em um mundo diversificado, globalizado e humano. Por mais que existam continentes, países, estados e por aí vai, para ser chamado de lar pelos seus habitantes, o mundo é de todos. Trafegamos livremente de um país para o outro devido as facilidades que a tecnologia nos trouxe.

Por isso, não podemos dizer que o mundo é branco, preto, macho ou fêmea. O mundo é mundo, sem sexo, sem cor, sem etnia, pois no fundo, todos nós seguimos a mesma linha de produção, por dentro, todos nós funcionamos da mesma maneira, por fora é que as coisas são diferentes. Mas não dizem que é o interior que importa?

Enfim, não vou sair filosofando, prometo que não me deixarei levar. Mas o mundo atual é repleto de conotações que podem ofender a nível inconsciente, por isso a necessidade de cuidados, de todos os lados, e não apenas de um. Somos todos humanos e isso deveria ser o ponto de humanidade de todo globo terrestre.

Vamos ao livro? O Pequeno manual antirracista está dividido de uma forma que dá para perceber o que Djamila Ribeiro quer passar em seu trabalho. Um pouco de aprendizado, de uma atualização para o nosso tempo. O livro está dividido didaticamente da seguinte forma:

  • informe-se sobre o racismo;
  • enxergue a negritude;
  • reconheça os privilégios da branquitude;
  • perceba o racismo internalizado em você; 
  • apoie politicas educacionais afirmativas; 
  • transforme seu ambiente de trabalho;
  • leia autores negros;
  • questione a cultura que você consome;
  • conheça seus desejos e seus afetos;
  • combata a violência racial;
  • sejamos todos antirracistas. 

Devido a todo polêmica e urgência sobre esse assunto tão delicado e ao mesmo tempo, tão inexplicavelmente desnecessário (pra que serve o racismo?) um livro como o Pequeno Manual Antirracista de Djamila Ribeiro (Companhia das Letras) se faz necessário, por mais breve que seja, ele nos apresenta pontos importantes para serem pensados, refletidos e aprofundados.

E não digo somente a respeito dos direitos dos negros, mas também do feminismo. É um livro extremamente acessível e, como disse, a autora discorre seus pensamentos através de uma didática que nos encanta.

Apesar do título, é um livro para todos, por que todos nós precisamos compreender que o racismo é apenas uma doença incrustrada em nossa sociedade, que não traz absolutamente nada de bom, além de divisões. 

 

 “É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade. Portanto, frases como ‘eu não vejo cor’ não ajudam. O problema não é a cor, mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir. Vejam cores, somos diversos e não ha nada de errado nisso — se vivemos relações raciais, é preciso falar sobre negritude e também sobre branquitude”.

 

Se você está procurando material para se aprofundar mais nesse assunto, este livro é uma boa pedida. Como mencionado, ele não aprofunda devido ao seu tamanho, no entanto, ele serve facilmente como um farol para indicar o caminho na busca por mais aprendizado e esclarecimento.

Em cada capítulo, a autora nos traz uma nova faceta do racismo e ainda, nos apresentando referências de seus estudos e obras intelectuais escritas por negros. Djamila nos apresenta a fonte em que bebeu, pois nos traz uma lista de autores negros para que possamos nos aprofundar mais ainda.

É um livro curto e “enxuto”, porém, que toca em um assunto e se põe como expoente de uma série de autores importantes que precisam ser conhecidos, afinal de contas, não existe preconceito apenas em nosso dia a dia, mas em todas as expressões de arte também.

Quer saber um pouco mais sobre o racismo? Não deixe de ler está obra que tem tudo para ser um dos grandes expoentes contra essa luta que nem precisava existir.

 

Sinopse:

Dez lições breves para entender as origens do racismo e como combatê-lo. Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em dez capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas. Já há muitos anos se solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa sociedade, criando desigualdades e abismos sociais: trata-se de um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um sujeito. Reconhecer as raízes e o impacto do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro desse tamanho? Djamila Ribeiro argumenta que a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais ainda: é uma luta de todas e todos.

Assinatura

 

Colaborador Beco das Palavras
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