Existem alguns autores que acabam sendo excluídos do patamar de autores “cults” devido a sua forma de escrita, criação de personagens, entre outros detalhes que os críticos gostam tanto de avaliar para discorrer suas observações.
Um desses autores escreveu o livro que falaremos no decorrer deste texto, Capitães de Areia, de Jorge Amado, um dos livros mais queridos e atemporais de nossa literatura brasileira. Escrito em 1937, Capitães de Areia, como todos os demais trabalhos de Jorge Amado, trazia como personagens principais, pessoas comuns.
Jorge Amado e sobre a escrita de Capitães de Areia
Capitães de Areia foi o primeiro livro que li de Jorge Amado e, o que senti ao avançar na leitura, até então não havia sentido com nenhum outro autor, na verdade, acredito que até hoje busco a mesma sensação.
Sabe quando você pega aquele livro para ler e você tem a impressão do autor estar ao pé de seu ouvido contando a história? Pois é… É essa sensação que Jorge Amado passa em todos seus trabalhos.
Como disse, Capitães de Areia foi o primeiro lido, mas não consegui parar por aí, tive que seguir adiante para saber se aquela narrativa era uma particularidade da obra em questão ou se fazia parte do estilo do autor e, para minha felicidade, era o estilo do autor.
Jorge Amado pode ter uma escrita simples, pode não aprofundar o psicológico de seus personagens, mas o sentimento que o autor conseguia transportar para sua máquina de escrever era algo à parte.
Não me apaixonei apenas pela estória em si, mas pelas obras e também, pela Bahia, palco da maior parte de seus trabalhos. Jorge Amado lança um olhar sobre sua terra com tanto carinho e amor que é impossível o leitor não desejar conhecer todo seu encanto.
Sobre o contexto de Capitães de Areia
Jorge Amado, além de um apaixonado por sua terra e origens, também era uma pessoa extremamente ativa em termos de política e batalhava com suas armas em busca de uma maior igualidade, um detalhe acerca da particularidade de Jorge Amado, era ateu e também comunista, isso no começo de sua carreira, no decorrer dela, acabou se tornando devoto a todos os santos.
Na década do lançamento deste livro, havia uma sensação no Brasil de país “novo”, algo que aproximava o nosso país dos países ricos, claro que tal expectativa, trazia – como até hoje traz – a possibilidade de uma melhor estabilidade política e econômica.
Naquela época, começava algo que podemos chamar de “luta de classes”, ou seja, os trabalhadores estavam indo para as ruas buscar melhores soluções para suas vidas e isso acabou se tornando possível devido a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Essa luta refletia no quesito artístico do país na época. Nesse período os artistas levavam em sua arte a necessidade de mudança social, a importância de cada membro na sociedade. Algo diferente do período anterior onde era enaltecido as qualidades de nosso país.
Neste momento da história da arte, foi percebido uma inspiração que se alimentava na consciência pessimista do subdesenvolvimento, como dito de Lafetá. E, como sabemos, escritores, por mais fantasiosos que suas estórias sejam, sempre refletem algum determinado momento de suas realidades.
Por isso podemos encontrar em Capitães de Areia de Jorge Amado, uma crítica social que podemos qualificar de proletária e social, palavras importantes que eram comumente utilizadas pelo movimento comunista. Isso pode ser percebido na construção de seus protagonistas e, detalhe, Jorge Amado foi o primeiro autor nacional a colocar como protagonista “foras da lei”.
Deslizando sobre a areia de Capitães de Areia
O livro começa com diversas notícias de jornais, onde, os alcunhados Capitães de Areia, são figuras principais na problemática situação. Depois disso, o livro vai apresentando os personagens e suas características condizentes com seus codinomes.
Como por exemplo, Pedro Bala, chefe do grupo, filho de pai grevista que segue as ideias de seu pai. No decorrer do texto, os demais personagens vão sendo apresentados e por mais que suas atividades sejam ilegais, Jorge Amado não tenta justificar, mas apenas mostrar suas condições e o que os levam para aquele resultado.
Além de Pedro Bala, temos também o Professor, como o próprio apelido indicado, era um garoto dado a leitura; Gato era o vaidoso e bonito da galera, e mesmo fazendo parte do bando, os demais sentiam-se ameaçados por ele.
O Sem Pernas, ao contrário do que possa pensar no primeiro instante, tinha pernas, ele só era manco e por isso, era usado como distração para os demais realizarem os furtos. E também existe a Dora, a única garota do grupo que é muito respeitava pelos garotos e que é ponte para uma reviravolta na estória.
Pensando neste momento, acabei lembrando de Wendy da Terra do Nunca, a garota que se tornou a mãe dos garotos perdidos, em Capitães de Areia, podemos notar essa lacuna sendo preenchida pela garota.
Mesmo sendo uma garota, Dora acaba participando das jogadas dos garotos e em uma delas, acaba sendo presa junto com Pedro Bala, Pedro acaba sendo libertado pelos garotos, mas Dora, acaba sendo encontrada quase morta em um orfanato. Eles a salvam mas, infelizmente, o inesperado acontece. Forçando os nossos queridos Capitães de Areia a refletir sobre suas próprias vidas.
Capitães de Areia observações finais
A estória é conduzida por um narrador onisciente e por essa razão, a leitura segue um fluxo agradável. Jorge Amado consegue um feito impressionante com sua escrita simples, impossível não se apaixonar pelo livro logo no primeiro capítulo.
Apesar de trazer uma crítica social, e sugerir uma estória repleta de assuntos pesados, o autor consegue apresentar seus pontos de vista de uma maneira branda e quase imperceptível, emprestando sua voz para suas próprias personagens, o que torna suas opiniões mais contextualizadas e naturais ao enredo.
Capitães de Areia é uma estória atemporal e, provavelmente, por essa razão, até os dias de hoje nos soa atual. Ele é um dos mais pedidos em vestibulares, algo que nos faz pensar a respeito de sua qualidade e imortalidade, afinal de contas, o livro conta com 83 anos de existência e até hoje, ainda é um dos melhores desse autor baiano que você não pode deixar de conhecer.