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A Amiga Genial

thumb_book-a-amiga-genial-330x330_q95Eu não conhecia Elena Ferrante até junho desse ano. Não sabia quem ela era, não conhecia seus livros, não sabia sobre o mistério por trás da sua identidade*. Até que ganhei um lindo presente: o livro “A Amiga Genial”. Em certa medida, foi bom não saber nada sobre a autora ou o livro, porque comecei a ler sem nenhum tipo de expectativa boa ou ruim e tive uma ótima surpresa.

Antes de dizer minhas impressões sobre o livro, me permitam contar um breve resumo, para quem ainda não conhece.

“A Amiga Genial” é o primeiro volume de uma tetralogia. Esses livros contam a história de duas amigas, Elena e Lila, que vivem nos arredores de Nápoles, Itália. Em “A Amiga Genial” vemos as primeiras fases das vidas dessas meninas, a infância e a adolescência e também o começo da amizade entre as duas, que vai se consolidando no decorrer dos anos. Como cenário dessa história temos o bairro pobre onde moravam e as situações difíceis e/ou miseráveis do lugar e de alguns personagens, a pobreza, a falta de perspectivas para o futuro, etc.

O livro começa numa época muito a frente dessa acima citada. Começa com um telefonema do filho de Lila para Elena, para dizer que sua mãe está desaparecida. Na verdade, ela fugiu e essa informação deixa Elena um tanto quanto aborrecida. É nesse momento que Elena, que é a narradora do livro, começa a se lembrar de toda a história das duas, desde o princípio.

Elena Ferrante tem um poder muito grande em sua escrita, que é leve, no sentido em que nos permite fazer uma leitura bem fluida e até rápida de um livro de mais de 300 páginas; mas, ao mesmo tempo, é uma escrita dura, crua, a autora não tem “jeitinhos” para falar sobre nada, ela simplesmente fala. É por isso que conhecemos não uma amizade fofinha entre Elena e Lila, mas uma relação complexa de cumplicidade e competição. Encontramos nessas e nos outros personagens do livro características e sentimentos que podemos considerar indesejáveis ou abomináveis e isso pode nos irritar um pouco porque a autora escreve de um jeito que, em certa medida, nos identificamos com todos eles.

O livro ainda tem o mérito de contar não apenas uma história de amizade entre duas crianças, mas de duas meninas, em um contexto bastante machista, descrito por Ferrante.  Elas têm que lidar a todo momento com questões como a possibilidade de estudar, a necessidade de trabalhar, o assédio de homens mais velhos, a companhia de amigos homens, a perspectiva de casamento, etc. Nesse sentido, a autora nos faz refletir sobre vários temas relacionados a ser mulher/menina.

“A Amiga Genial” termina com o fim da adolescência de Lila e Elena e deixa os leitores curiosos sobre a continuação da história. Pelo menos eu, não vejo a hora de ler o próximo volume dessa série e fico imaginando o que aconteceu na vida dessas duas. Agora sim, tenho muitas expectativas sobre os livros de Elena Ferrante, mas já sei que a autora vai superar todas elas.

Continuem acompanhando o blog para ver meus comentários sobre os próximos livros dessa série e pretendo, ao final da leitura de todos eles, escrever uma opinião final sobre a história completa.

*Elena Ferrante é um pseudônimo que se manteve secreto por muitos anos, a pedido da autora. Nesse ano, 2016, um jornalista revelou sua identidade para o mundo, mesmo contra a vontade dela. Ferrante sempre disse que o que ela escreve é mais importante que saber quem ela é ou não é e tudo o que ela queria dizer está nos livros de sua autoria. Me parece uma falta de respeito sem tamanho que um jornalista tenha insistido em revelar uma identidade que não queria ser revelada. Para mim, a autora dos livros é Elena Ferrante e não precisamos saber mais nada além disso, então vocês não vão me ver, nesse blog, abordando seus livros de outra maneira, ou com outro nome.

A Amiga Genial – Elena Ferrante

336 páginas

Biblioteca Azul, 2015