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Destaque na Literatura Moçambicana: Paulina Chiziane

Conheça uma grande autora africana, ativa do movimento negro, voz das mulheres e premiada pela obra “Niketche: Uma História de Poligamia”.

Como tudo começou para Paulina Chiziane

Chiziane, nascida em 1955, foi criada por camponeses nos subúrbios de Maputo, capital de Moçambique. Sua família seguia o protestantismo e falava em chope e xironga — diferentes idiomas próprios do país. Era próxima do seu avô, que lhe contava histórias e passou esse dom à ela. Também aprendeu português em uma escola e, mais tarde, ingressou na faculdade com o curso de Linguística.

Paulina viveu exatamente no contexto de uma África cercada por exploração, discriminação e injustiça social. A futura escritora chegou a trabalhar na Cruz Vermelha nessa época. Ela viveu toda a dificuldade no nascer de uma nova nação, que carregou crise e conflitos civis.

Ainda jovem, Paulina “Poulli” Chiziane militou na FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) antes de entrar para a criação literária. O grupo basicamente comandou a independência do país. Essa fase de engajamento social, sem dúvidas, foi responsável pela temática constante em sua obra sobre inquietação social e conflitos civis que Moçambique protagonizou. Ela se desvinculou por não se identificar mais com os posicionamentos da Frente no pós-independência.

Em 1984, ela começa a escrever contos. Em seis anos publica seu primeiro livro “Balada de Amor ao Vento” — narrativa feminista e que esbanja esperança — se tornando a primeira cidadã moçambicana a publicar uma obra. Depois disso, não parou de publicar livros. Segundo relatos, Chiziane pega um gravador, vai às ruas e conversa com a primeira mulher que passa, tendo assim uma nova história.

Chiziane na atualidade

Hoje ela vive ainda em Moçambique, na província de Zambézia. Cada vez que publica uma história, é obrigada a enfrentar os críticos conservadores. Por isso ela se intitula “guerreira”. A escritora representa o movimento negro ativamente, inclusive tendo visitado o Brasil no ano passado com essa pauta, e foi indicada ao Nobel da Paz em 2005. 

Em 2013, foi premiada internacionalmente com o Prêmio José Caveirinha com a obra “Niketche: Uma História de Poligamia”. No ano seguinte, o Estado português concedeu o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique a qual respondeu declarando: “Quero encorajar o meu povo, as mulheres da minha terra: por muito difícil que as condições sejam, caminhem descalços e vençam”.

Escritora não, contadora de histórias

O romance, para Poulli, é limitado pelas formas e regras; já uma história, como as que seu avô contava, são completamente livres. É por isso que ela não se considera romancista. Por causa dessa filosofia, ela também não se considera feminista. Para ela, esses termos são uma imposição involuntária feita por outras pessoas sobre o que está certo ou errado. 

Niketche: Uma História de Poligamia

O livro premiado foi o segundo que ela escreveu e é uma sequência de romances sobre poligamia. Como o nome sugere, há forte influência das identidades geográficas africanas — representadas por mulheres — sendo que o único personagem masculino é a própria nação. No seu ponto de vista, a poligamia e o patriarcalismo são traços indesejáveis, porém pertencentes à cultura africana. Inclusive, nas tramas de Chiziane não existem brancos, árabes, latinos e indianos.

Niketche é o nome de uma dança, típica do norte africano, local extremo oposto de onde o protagonista vive. Essa dança é comumente caracterizada por erotismo e amor. Embora pareça complexo, Niketche passa a mensagem de fraternidade feminina. Chiziane apela para o básico “a união faz a força” remetendo também aos conceitos de sororidade. Para saber mais sobre a obra, clique aqui e leia uma resenha do Literatura.Br sobre ele.

 

Colaborador Beco das Palavras
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