Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, em 1923. Amiga de escritores como Hilda Hist, Érico Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade, Lygia começou a escrever desde cedo. Aos 15 anos, já tinha escrito seu primeiro romance, bem recebido pela crítica. Em entrevistas, a autora afirma que os textos que publicou quando mais nova, são apenas “juvenilidades”, ou seja, não devem ser levados a sério.
Os livros mais conhecidos de Lygia são Ciranda de Pedra e Antes do baile verde. As meninas foi publicado em 1973, e ganhou o Jabuti no ano seguinte.
Pelo título, parece um livro inocente, com temática juvenil, como um “romancezinho” de adolescente. Ao contrário, esta obra foi escrita e publicada durante a Ditadura Militar, e seu enredo retrata a vida de três jovens de 20 anos, universitárias, que moram em uma pensão de freiras, na cidade de São Paulo. De inocente, nada possui.
As meninas não é militante contra a ditadura, porém, para o leitor atento, ele não deve passar despercebido.
As meninas são: Lorena, uma garota de família rica, inocente, às vezes leviana, e afirmadamente virgem. Lorena é excessivamente limpa e gosta de cuidar dos outros. Passa os dias de greve da universidade em seu quarto, ouvindo música e sonhando. É apaixonada por M.N., um homem mais velho e casado. É chamada na faculdade de Magnólia Desmaiada.
Lia (ou Lião), entrou para a militância que luta contra a ditadura. É baiana, e seu pai é um ex-nazista alemão. Após a prisão de seu namorado Miguel, busca o tempo todo um jeito de falar com ele, ou tirá-lo da prisão. Pede sempre dinheiro para Lorena, que dá para a amiga sem pensar.
Ana Clara: uma mulher bonita, que sonha em ser modelo e ser rica. Max, traficante de drogas, é seu namorado. É conhecida como Ana Turva, ou seja, uma pessoa nublada, de difícil entendimento. As cenas com a personagem passam dentro de seu quarto, onde os dois ficam conversando e se drogando, na cama. Diz ser noiva de um homem sem nome na história, provavelmente uma ilusão de sua mente. Também pede dinheiro para Lorena, que também dá para a garota.
Mulheres (ou meninas?), tão distantes entre si, mas que são amigas. No livro, não há uma cena sequer em que as três estão juntas no mesmo momento, normalmente Ana Clara e Lião dividem a atenção com Lorena. O quarto de Lorena, aliás, é onde a maior parte dos diálogos acontecem.
O interessante deste romance é a forma como Lygia escolheu contar a história das personagens. Cada capítulo ou trecho nada mais é do que a voz narrativa de cada uma delas. Quando começamos a ler, até sentimentos um estranhamento e uma sensação de estar perdido, pelo fato da voz narrativa mudar rapidamente.
Outro fator relevante da obra, é o leitor entrar na mente das personagens. Nós conhecemos a história de vários ângulos e pontos de vistas, algo que aproxima quem lê das pessoas que estão falando ou pensando. Passamos a conhecer as meninas de forma próxima e particular.
Com relação ao livro ter sido aceito pela censura da ditadura, penso que quem liberou o romance, não leu a história com um olhar crítico. Como eu disse, o livro não é militante nessa questão, mas ele passa seu recado. Na minha opinião, os clássicos são livros assim, que não precisam escancarar alguns temas, pois conseguem dizer o que querem de uma forma ou de outra. Quem tiver interesse em ler sobre o assunto, sugiro o artigo Por que a ditadura militar não censurou As meninas?
Livro mais do que recomendado. Leia mulheres, leia brasileiros.
Ainda não li esse, preciso ler! Obrigada por recomendar! =)