Uma newsletter quinzenal com dez dicas da casa
O verão traz muitas peculiaridades. As manhãs quentes que se transformam em tardes chuvosas. O clima de férias que frequenta as ruas com diversos ruídos juvenis, escapando pelas frestas dos portões. O trânsito que fica um pouco mais fluido, mas só um pouco, ainda tem muito carro por aí a ocupar os espaços. E nesse tipo de ambiente que Janeiro vem devagar, como se não tivesse pressa. O tempo, tão precioso, está aí para ser tomado com o vigor da juventude, ávida por se informar. Buscando ideia para se preencher esse espaço, encontramos num dos textos mais acessados do site uma dica interessante: 10 livros para se ler em um dia. E por que não revisitar esta ideia com mais 10 outros pequenos achados da biblioteca nossa de cada dia. Seja móvel ou em papel, que sua leitura seja proveitosa.
#1
GAIMAN, Neil. Oceano no Fim do Caminho. Tradução de Renata Pettengill. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Intrinsica, 2013.
Demorei um bocado para ler esta história. Comprei o livro em 2014 e deixei ali, para quando tivesse tempo. Esbarrei novamente com ele, em cima da cama, culpa do sobrinho que estava remexendo a biblioteca da casa, e decidi que era o momento. Com um texto fluido, Gaiman faz o seu melhor, nos envolver com um pequeno causo sem alarde, mas com uma pitada mitológica como plano de fundo. O narrador volta a sua pequena cidade de interior para um funeral e se vê fisgado para lembranças doloridas e bem vívidas de uma aventura de sua infância.
#2
Crumbim, Paulo. Eiko, Cristina. Graphic MSP: Penadinho – Vida. Barueri: Panini Comics, 2015.
Você pode acreditar que o dinheiro é a maior moeda em circulação, mas se parar para pensar nosso maior tesouro é o tempo. Em vida, temos um período relativamente curto para realizar tantas vontades e quereres, mas, mesmo assim, deixamos passar questões e ações que poderiam nos trazer mais satisfação, simplesmente porque nos seguramos nos nossos medos. Em uma história de vida (oi?), a turma do penadinho parte para uma aventura além do cemitério, seu cenário habitual. Penadinho tem apenas uma noite para contar a Alminha, sua grande paixão, que ela deixará o plano dos mortos e deverá seguir com a Dona Cegonha para uma nova vida. O herói teve toda a eternidade para falar de sentimentos, mas agora não há mais tempo. Será? O selo Graphic MSP será tema de uma série de resenhas nas próximas semanas aqui no Beco.
#3
Canton, Kátia. Minimaginário de Andersen. Apresenteção e adaptação de Kátia Canton. Ilustrações de Salmo Dansa. 1ª Edição – São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2014.
A escritora Kátia Canton separou sete contos de Hans Christian Andersen nesta edição. O autor dinamarquês foi considerado o primeiro a criar fábulas, já que diversos trabalhos da época eram baseados em mitologias ou história oral. Suas histórias conversam com a rotina da cidade e do campo, fluindo sobre áqueles que nos estão invisiveis. As ilustrações de Salmo Dansa são obras únicas que conversam com o imaginário de Andersen, que olhava ao redor à procura de novas inspirações. No livro encontram-se Soldadinho de Chumbo, A pequena Vendedora de Fósforos, O Rouxinol, A Pequena Sereia, Os Sapatinhos Vermelhos, Patinho Feio e Polegarzinha.
#4
LAUXEN, Jana. Uma Carta por Benjamin. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2010.
Há muito tempo que gostaria de dedicar um artigo para Jana Lauxen. Conheci a escritoria gaúcha por meio da blogosfera (alguém ainda usa este termo?) quando seu primeiro livro estava em produção. Uma Carta por Benjamin nos acerta em cheio com seu suspense e velocidade. O personagem que dá nome à obra encontra cartas escritas por Madalena, uma pessoa que ele não faz ideia de quem é e que revela aos poucos uma tragédia que ainda está por acontecer. Aqui, o thriller de Jana nos deixa perplexos na encruzilhada de Benjamin: seguir e salvar a cidade ou abandonar a thread e voltar para a bagunça cotidiana.
#5
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um Jovem Poeta e A Canção de Amor e de Morte do Porta-estandarte Cristóvão Rilke. Tradução de Paulo Rónai e Cecília Meireles. São Paulo: Globo, 2001.
“Não se deve deixar enganar em sua solidão, por existir algo em si que deseja sair dela. Justamente tal desejo, se dele se servir tranquila e sossegadamente como de um instrumento, há de ajudá-lo a estender a sua solidão sobre um vasto território. Os homens, com o auxílio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que devemos nos agarrar-nos ao difícil.” (Roma, 1904, Carta à Franz Xavier Kappus, página 57). Tenho uma história particular com este livro. O ganhei de minha melhor amiga em 2004 e, desde então, toda vez que estou a passar por um momento particularmente difícil profissionalmente, volto a estas páginas para ganhar um novo fôlego. São o registro criativo de Rilke, endereçado ao seu editor, Franz Xavier Kappus, na pré-produção de seus poemas para Cristóvão Rilke. Esta edição possui as duas etapas, o primeiro momento são as cartas e o segundo nos traz os versos.
#6
CAMUS, Albert. A Guerra Começou. Onde está a Guerra? Tradução de Rafael Araújo e Samara Geske. 1ª Edição. São Paulo: Editora Hedra, 2014.
“Você não escreveria tanto sobre a solidão se dela soubesse tirar o máximo.” Camus foi um dos expoentes da filosofia e literatura do pós-guerra no último século. Muito próximo dos Existencialistas, é certo que diversas passagens de sua vida foram narradas em pequenos diários, onde poesia, prosa e argumento são jogados e rasurados. Um pequeno segredo. Um fragmento dele foi transcrito em uma trilogia, lançado pela primeira vez no Brasil pela editora Hedra em 2014. O último deles, recorta os anos de 1939 a 1942 e a desilusão de estar preso a uma humanidade falida e ao mesmo tempo tão rica de esperança. Como se estivesse em um eterno trem a caminho de algum lugar não mencionado, Albert nos narra paisagens entre um livro e outro.
#7
BERTAZZI, Galvão. Vida Besta. 1ª Edição. Editora Juarez & Donizete.
Não lembro bem como cheguei ao site www.vidabesta.com. Acredito que tenha sido em meados de 2003, 2004. Esse lance de blogosfera. À época, para buscar novas leituras, entravámos em site e site, blog em blog até encontrar algo bacana, e depois linkávamos em nosso espaço e permanecia lá, como um convite. As tirinhas de Galvão são como cigarro molhado ou bebida ácida, tem um cheiro de espaço comum e, ao mesmo tempo, algo completamente novo. Feitas de cotidiano, os argumentos, as histórias e as personagens se transformam sob a ótica do leitor e ganham um novo sentido. Semiótica que chamam. Comprei a edição dele em 2016 num evento de quadrinhos e morro de vergonha até hoje por não saber dizer à ele que o Vida Besta fez mais parte de mim do que provávelmente ele desconfia. O último projeto dele foi contar uma página por dia durante 365, reunidos em Um Ano Inteiro.
#8
CAMUS, Albert. A Queda. Tradução de Valerie Rumjanek. 6ª Edição. Rio de Janeiro: BestBolso, 2014.
Um livro de bolso lançado em 1956 conta a história de um advogado francês fazendo uma autoexame de consciência em um bar de Amsterdã. Um julgamento justo onde o meritíssimo é o réu e o defensor, promotor e testemunhas, jurados e plateia. Uma autocrítica de sua humanidade contornada por seu vazio existencial, uma das melhores atribuições de Albert Camus para a literatura.
#9
GAIMAN, Neil. Lugar Nenhum. Tradução Juliana Lemos. 2ª Edição. São Paulo: Conrad, 2010.
Reservei os últimos dois títulos para uma promessa de mim mesma. São livros que estão há algum tempo na lista de próximos e nunca os tirei de lá. O primeiro, Lugar Nenhum, é considerado um dos melhores romances de Neil Gaiman. Atualmente está no Ar como rádio novela (sim, isso ainda existe na Inglaterra) no canal BBC4 com vozes de James McAvoy e Benedict Cumberbatch.
#10
HESSE, Hermann. O Lobo da Estepe. Tradução Ivo Barroso. São Paulo: Editora Record.
Já tem um bom tempo que estou me devendo esta. Um dos livros mais cultuados da contracultura, O Lobo da Estepe é uma narrativa que apresenta Hermann Hesse como um dos expoentes da literatura do século passado. O autor é nosso tema do mês em nossas redes sociais.