Atrasado, porém honrando compromissos. Em 2016 fiz minha primeira retrospectiva aqui para o Beco e decidi continuar com esta brincadeira, apresentando mais algumas coisas que vi ao longo de 2017. Não tenho nenhum critério lógico para iniciar uma maratona e não pretendo influenciar outros indecisos neste quesito.
As escolhas que fazemos ao longo do dia, nos transmitem (em pequenos fragmentos) aquilo que almejamos ou, ainda, o que nos faz permanecer com elas do primeiro ao último episódio. Não abandoná-las não significa necessariamente um gostar/não gostar de uma determinada obra, mas sobre o que queremos sentir a partir de sua ação.
Olhando agora para esta lista, percebo alguns fatores interessantes sobre como o meu comportamento em uma determinada época são decisivos para querer interagir com meus sentimentos e com as emoções que cada uma das escolhas que fiz em 2017. De estilos novelescos a policiais, passando por épicos e desenho.
E, claro, para facilitar, a lista é apenas de seriados que estão disponíveis em serviço de streaming.
American Gods
Shadow é um americano sem perspectiva. Sua história é baseada em suas escolhas, mas há muitas outras que são instruídas por outros. Aqueles que em um outro momento histórico poderiam ser classificados e denominados como deuses estão sem lar e sem motivo para continuar a existir. Depende apenas dos vivos para que cada um deles permaneça a existir entre nós. Baseado na história homônima de Neil Gaiman, Deuses Americanos foi escrito em ritmo cinematográfico. Um dos pedidos antigos de seus leitores era de que se transformasse em seriado, bravamente defendido por seu criador que finalmente conseguiu colocar o projeto em prática. A primeira temporada tem oito episódios e narram as primeiras 100 páginas (more or less) do livro. Disponível pela Amazon Prime.
The Fall
Um suspense policial anglo-irlandês, The Fall narra a história da investigação, captura e julgamento de um serial killer que mata e reconstrói a imagem de suas vítimas em fotografias. O cenário é a cidade católica de Dublin e apresenta diversos elementos morais e psiquiátricos tanto do assassino, quanto da detetive que o persegue incansavelmente, tentando prever suas decisões e, também, se expondo como método de entender que fim chegará sua busca. Ainda no primeiro capítulo, fica claro o papel central da detetive Stella Gibson e como toda a narrativa se entrelaça a sua figura controversa em uma sociedade que almeja o puritanismo, mas está afundada em seus próprios conceitos amorais. Stella é brilhantemente interpretada por Gillian Anderson e merece todo o crédito pela execução lacônica de suas cenas.
Revenge
Uma das séries mais aclamadas em sua primeira temporada, não consegue manter o estilo de thriller nas três que a sucederam. Em seu final, transmitido em 2015, fica evidente a tentativa frustrada de manter o suspense da série, provocando erros na estrutura de decisões das personagens que poderiam nem existir, mesmo porque todos eles já haviam superado algumas interações na primeira temporada. Um triste fim para Amanda que deixou sua perspicácia pra trás nas três temporadas finais, mas um brilhante desfecho para Victoria que, no seu último respiro, devo dizer que mereceu o maior destaque da série.
She-Wolves: England’s Early Queens
O documentário de margem histórica da BBC apresentado por Helen Castor explora as sete primeiras rainhas da Inglaterra e como suas decisões sobre ultrapassar barreiras hierárquicas e patriarcais foram importantes para o cenário atual do Reino Unido. Possui apenas três capítulos e traça a personalidade, suas ramificações e como cada tragetória, inserida em um determinado momento histórico do reino, puderam abrir portas (e fechar outras) na política interna e externa dos países da Grande Britânia tornando-a ainda mais grandiosa.
Empire of The Tsars: Romanov Russian
Outro documentário de margem histórica da BBC apresentado pela historiadora Lucy Worsley. Também dividido em três episódios, conta a trajetória de 300 anos dos Romanov no poder do Império Russo. Para quem fugiu dessas aulas na escola, o seriado é interessante para entender um pouco sobre como o Império Russo se tornou no atual país e como decisões, muitas vezes realizada de forma tardia, trouxeram devastação para o povo em contrapartida da geração de riqueza aos nobres.
Atypical
A adolescência é um período difícil e transformador. Nele, traços do que somos hoje são construídos de forma muito abrupta. Talvez seja por isso que seja uma fase marcada pela intensidade das emoções e construção de filtros internos de sobrevivência. Como se não bastasse todo esse cenário, pense se esta personagem central, aquela que conta a história, fosse um autista. Uma das características do conjunto do espectro autista é a falha na sociabilidade e dificuldade (ou inexistência em alguns casos) do uso de imaginação para lidar com jogos simbólicos (entender emoções em linguagem não-verbal é um exemplo), fator principal para a existência deste período da vida. Ainda quero rever os episódios para construir uma análise mais aprofundada do caso, mas a princípio basta relatar que se trata de uma comédia de classe média americana e seus tradicionais conflitos, mas com um elemento genial dentro desta equação: a percepção e representatividade.
The Expanse
Não sou viciada em ficção científica, mas abri um novo horizonte consumindo este tipo de produto ao longo do ano que se passou. Uma das coisas que fiquei refletindo após a segunda temporada da série é o que seria dos terráqueos se a Lua fosse totalmente desfragmentada? O cenário do seriado é a expansão galática dos humanos e a criação de colônias situadas em planetas e luas em um futuro um pouco (mas não muito) distante. Lá, existem gerações que nasceram nas colônias, sem a possibilidade de entender o que é o calor do sol, a chuva ou as transformações climáticas. A Terra possui um governo unificado pelas Nações Unidas, mas mantém a característica de dominação, tão própria dos humanos. As colônias demandam e exigem independência e é aí que nascem os conflitos que geram guerras e devastação. As revoltas, a sobrevivência, a caçada são parte do ritmo narrativo do seriado que tem duas temporadas disponíveis nos serviços de streaming.
Justiceiro
Acredito que Frank Castle seja um dos personagens mais intrigantes do universo mutante da Marvel. Não possui nenhum poder, seja de ataque, defesa ou regeneração, mas é o que mais se aproxima dos conflitos humanos. É importante recortar o seriado da Netflix do universo dos quadrinhos, como se fosse mais uma história. Aqui, fica claro a opção dos produtores (dentre eles Jeph Loeb) de reconstruir a personagem em um outro momento histórico. Trinta e cinco anos nos separam do surgimento de Frank nos quadrinhos e com isso, um novo pós-guerra o que nos traz uma nova leitura de suas ações, mais emocionais, por assim dizer. O ritmo da história não está somente do conflito do assassino, mas em como o discurso pode atingir outras pessoas e as tornar vigilantes. O debate sobre a liberação das armas fica evidente, mas com um detalhe interessante: até que ponto alguém pode se abster das normas para garantir sua própria caçada?
Better Call Saul
Spin-Off de Breaking Bad que saiu melhor que a série. Opinião pessoal, claro. Em BCS, Vince aprimora sua fórmula, conseguindo dar mais ritmo a narrativa de quadros com longos períodos sem falas, em uma história que é mais crível. Sem ousadias megalomaníacas e com plano de fundo das personagens bem trabalhados. Terceira temporada está agendada para 2018.
Hora de Aventura
Vou fazer uma lista só da Cartoon Network, mas por enquanto vamos do maior clássico da década. Este foi um ano bem sofrido para os fãs de Finn, o humano e Jake, o cão, já que foi anunciado que de 2018 não passará. O mais interessante é que dois especiais (Ilhas e Elementos) foram lançados em 2017 já com esta intenção: fechar as pontas e marcar de vez o tom dos desenhos do século XXI. Hora de Aventura foi a porta de entrada de outras criações, com colaboradores da série sendo projetados para seus próprios desenhos como Apenas um Show, O Incrível Mundo de Gumbal e, claro, Steven Universo. Mil anos após a famigerada Guerra dos Cogumelos, Finn é o único humano conhecido na Terra de Ooo. Ele e seu irmão de criação, Jake o Cão, são heróis clássicos do universo RPG em busca de enfrentar monstros, salvar princesas e acumular tesouros.