“Mas não demorou para que a mãe voltasse à velha rotina, como se a tristeza que se afastara dela tivesse voltado muito mais intensa…”
Olá pessoal! Que tal mais um pouco de romances policiais para balancear as últimas resenhas meio “Alice in Wonderland” que eu postei. Dessa vez o livro veio de longe, da gélida Islândia, região na Europa onde surgiram alguns bons nomes no que se trata de literatura policial.
É engraçado pensarmos em um país europeu tendo tantos problemas no que diz respeito.. bem, à mentalidade da população. O que eu esperava que fosse um país adiantado socialmente, mostrou-se um local realmente difícil de viver, psicologicamente falando, principalmente se você for uma mulher.
E isso tem tudo a ver com “O Silêncio do Túmulo”, lançado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro, ambientado na capital da Islândia (Reykjavík, pronuncia-se REIQUIJAVÍ), conta a história de um policial e seus dois companheiros investigando fatos do passado que culminaram com o descobrimento de um esqueleto humano, aparentemente do período da Segunda Guerra Mundial, enterrado próximo a uma construção.
A cena inicial é fortíssima. Estou me coçando para não contar para vocês, par ser sincero (rs). O fato é que o autor soube impactar de uma forma inteligente, meio escatológica, mas longe de ser agressiva. Apenas puxou você para dentro da história logo nas primeiras linhas. Primeiro ponto demonstrando o quão profissional o senhor Indridason é como escritor.
A estrutura do romance também está perfeita, aliás, marca registrada dos bons livros policiais. Se “O Silêncio do Túmulo” não é frenético como os livros de James Paterson ou ligeiramente doentio como nosso amigo Chuck Palahniuk, o mérito do autor foi criar sua marca pessoal – também chamada de VOZ do AUTOR – com a qual trata de assuntos familiares com forte apelo psicológico em todo o subtexto da obra. E é nesse ponto que a coisa toda fica alinhavada com o comentário que fiz no começo sobre a situação social da Islândia. Você sabia que o pequeno país tem um problema crônico de violência doméstica contra as mulheres? E que grande parte dos homens acha isso justo… tenso.
Porém, como nem tudo são flores, o subtexto é também o grande inimigo da obra. Não a história sobre violência doméstica, que é escrita de forma inteligentíssima e se encaixa com perfeição com a linha mestra do livro. O grande problema são as pontas soltas, personagens que se provam irrelevantes ao final da história e um drama familiar que só com bastante boa vontade o leitor aceita que se encaixa na trama.
Nos últimos capítulos algumas coisas dão a entender que se cruzarão e teremos uma boa explicação, mas isso não ocorre. O livro tem um final bonito, tocante mesmo, digno de arrancar lágrimas dos mais sensíveis, mas deixa perguntas sem resposta. E não de um jeito bom. De um jeito frustrante.
Não vou dar spoilers, mas acredito que lá para a metade da leitura todos entenderão de quais histórias no subtexto eu estou falando.
Em suma, “O Silêncio do Túmulo” é uma obra interessante, angustiante e, cabe dizer, revoltante pela forma como apresenta acontecimentos tristes e corriqueiros da vida de muitas pessoas. Tudo isso ladeado por uma investigação policial inteligente e bem escrita. No entanto, as falhas (que possivelmente não remetem apenas ao autor, mas também à edição original do livro) demonstra que Arnaldur Indridason tem ainda algum caminho a percorrer até conseguir se igualar aos grandes escritores do gênero.
“O Silêncio do Túmulo” diverte e agrada, mas não é leitura obrigatória para os fãs do gênero.
“Erlendur fumou um cigarro atrás do outro embaixo de uma placa que dizia que era proibido fumar, até que um cirurgião usando uma máscara passou-lhe uma descompostura por infringir a proibição.”