Feita de Fumaça e Ossos

Ao contrário da maioria, livro Feita de Fumaça e Osso (Laini Taylor, ed Intrínseca) me chamou a atenção pela sinopse, e só a partir dela já tive uma vontade fora do comum de conhecer essa história. Toda essa trama misteriosa em torno de Karou e sua vida nada convencional, assim como seu cabelo, foi como um imã para meu vício em histórias sobrenaturais. Entretanto o livro em si não foi nada parecido com aquilo que tinha em mente, acabou se tornando melhor.

Ok, se você já leu algumas das resenhas do livro já sabe que se trata de mais uma história sobre Anjos e se o tivesse lido há alguns meses atrás, quando só o que se via como “novidade” eram tramas angelicais, minha resenha poderia muito bem tomar um novo rumo. Por isso fica a dica, por mais que você curta um gênero, às vezes se afastar um pouco pode te deixar menos crítico em relação ao efeito manada, que ocorre sempre que um novo sucesso acaba de ser lançado. A trama de “Feita de Fumaça de Ossos” é inteligentíssima, a autora consegue colocar todas nossas crenças em relação ao “bem versus mal”, “certo versus errado”  que envolvem principalmente a batalha “anjos versus demônios” de uma forma que conseguimos visualizar e identificar cenários que estamos acostumados. Sim, são seres excepcionais, com capacidades excepcionais, mas, pelo menos neste primeiro livro, são tão perdidos como nós. Podemos dizer que para eles o nosso mundo é o verdadeiro paraíso.

Karou é o que podemos chamar, pela nossa concepção e dos anjos, a mensageira do demônio, sempre em missões para esse ser estranho, com aparência demoníaca, mas acima de tudo, aquilo que ela tem mais próxima de um pai. Viajando pelo mundo através de portais, Karou acaba se encontrando com o inimigo de sua espécie, um Anjo de olhar frio, cruel, sem sentimentos – totalmente o oposto do que conhecemos, até porque nossas experiências durante a leitura em relação às quimeras mostram que são seres providos de sentimentos – e extremamente belos. Após esse encontro sua vida muda totalmente, afinal ela acaba se deparando com um vislumbre da guerra entre as espécies, e o mais estranho, seu passado misterioso.

A trama, como disse antes, é extremamente bem desenvolvida e envolvente, mas a escrita da autora chega a ser um pouco confusa. Você vivencia o mesmo momento através dos olhos de diversos personagens, por exemplo, após uma cena de clímax, a autora retorna ao começo da mesma para nos mostrar através de outro ângulo o que aquilo significou sendo que isso poderia ser descrito durante a primeira leitura, mesmo perdendo um pouco o clímax seria menos cansativo. Mas isso acaba sendo suprimido, ao você perceber que esta não é mais uma obra fantástica que envolve um amor impossível, e sim um livro onde podemos visualizar as questões por outro ângulo, onde podemos nos colocar na pele de nossos inimigos e nos vermos como os verdadeiros carrascos, um livro que fala mais sobre a natureza humana do que algo fantástico e intangível.

Resumindo é assim que classificaria este livro, envolvente e criativo, mas cansativo. Espero que nas sequências, agora que o principal mistério fora solucionado, a leitura possua um ar mais dinâmico.Outro problema são as voltas que a autora dá para explicar algo que já descobrimos várias páginas atrás, a espera para a confirmação de nossas suspeitas no inicio do livro é até prazerosa, mas se a autora conseguisse surpreender e fazer de nossas suspeitas fumaça seria muito mais interessante, como isso não acontece em nenhum momento do livro, a espera do óbvio acaba sendo cansativa.