O livro “A Resposta” (título em inglês “The Help”), de Kathryn Stockett, publicado em nosso país pela Bertrand Brasil, talvez já seja conhecido por nossos leitores por ter inspirado o filme “Histórias Cruzadas”, que concorreu à ultima premiação do Oscar.* “A Resposta” conta a história de três personagens principais – Aibileen, Skeeter (Eugênia) e Minny – que inseridas em um contexto de intensa segregação étnica nos Estados Unidos, trabalham juntas na elaboração de um livro que pode impactar a sociedade de Jackson, Mississipi, nos anos 60: um livro sobre a relação entre as empregadas negras e suas patroas brancas.
Aibileen é uma empregada negra, que trabalha na casa da família Leefolt. Sua especialidade é cuidar das crianças, filhos de suas patroas. Durante toda sua vida como empregada criou 17 crianças. Aibileen prefere mudar de família quando as crianças crescem e, inevitavelmente, passam a agir e pensar conforme a sociedade e seus pais ensinam. Ou seja, classificando e excluindo as pessoas de acordo com a cor da pele. Na casa dos Leefolt, Aibileen cuida de Mae Mobly, uma garotinha que é tratada com indiferença por sua mãe, Elizabeth. A empregada tenta suprir a ausência da mãe, cuidando de Mae, aproveitando para ensinar à criança que a diferença entre negros e brancos não passa de uma construção feita pelas pessoas, pois todos são iguais. Ela precisa ensinar isso em segredo dos pais, que jamais aceitariam. Aibileen teve um filho, que morreu aos 24 anos, e acredita que apesar de o jovem ter sofrido um acidente no trabalho, a maneira relapsa como foi socorrido, por ser negro, foi também responsável por sua morte. Desde então, Aibileen não é mais a mesma e a cada vez que recebe a notícia sobre um negro que foi morto ou preso injustamente, ela tem a certeza de que algo precisa ser feito para mudar essa situação.
Eugenia é conhecida por todos pelo seu apelido, Skeeter. É uma jovem mulher branca, filha de um produtor de algodão. Formada recentemente na universidade, tem a pretensão de ser jornalista. Porém, ao voltar para casa sente-se pressionada por sua mãe e suas amigas – Elizabeth e Hilly – para se casar, assim como fazem todas as mulheres brancas e “de boa família” em sua idade naquela cidade. Após conseguir contato com uma editora de Nova Iorque, que lhe incentiva a trabalhar no jornal local a fim de ter experiência, enquanto desenvolve algo de seu real interesse para escrever, Skeeter se torna escritora de uma coluna que oferece dicas de limpeza doméstica. Sem dominar o assunto, conta com a ajuda de Aibileen para escrever a coluna. É a partir de sua relação com Aibileen, do incômodo que sente em observar o tratamento recebido pelas empregadas nas casas de suas amigas e de seu interesse em descobrir o que aconteceu com Constantine (empregada de sua família, que lhe criou e sobre a qual não teve mais notícias desde que voltou da universidade e não a encontrou em casa), que Skeeter começa a trabalhar na ideia de escrever um livro sobre a relação entre empregadas e patroas na cidade de Jackson.
Para escrever o livro, Skeeter depende dos depoimentos das empregadas domésticas. Algo que se apresenta como um desafio, pois convencer as empregadas a relatar como são tratadas e suas condições nas casas das famílias brancas, não é uma tarefa fácil. Depois de muitas conversas com Aibileen, esta foi a primeira a arriscar seu trabalho – e sua própria vida – participando do livro.
Minny, também empregada doméstica, amiga de Aibileen, se convenceu em participar do livro, entre outras coisas, após tantas notícias sobre negros sendo mortos e agredidos. Esses acontecimentos também mostraram a Skeeter o quanto escrever seu livro era perigoso. Se a princípio ela não parecia interessada, ou sequer conhecia as ações dos movimentos integralistas e a favor dos negros, aos poucos percebeu como suas ideias tinha a ver com eles.
Minny é do tipo que não leva desaforo para casa e, por isso, não consegue manter-se por muito tempo em seus empregos, pois fala o que pensa para as patroas brancas. Ficar desempregada agrava seus problemas com o marido Leroy, viciado em álcool e que lhe agride nos momentos de raiva e embriaguez. Minny ainda cuida de três filhos.
Além das três personagens principais, outros compõem a história. Como Elizabeth, já citada; Hilly, mulher influente na cidade, que defende e reforça a diferença entre negros e brancos; Stuart, pretendente de Skeeter, indicado por Hilly; Celia, uma mulher misteriosa, que não é bem vista pelas mulheres da sociedade e não sai da casa onde mora com seu marido. Para saber sobre o livro de Skeeter, como sua aproximação das empregadas e suas ideias mudam toda a história dela própria e dos envolvidos e impactam a cidade de Jackson, só lendo “A Resposta”.
“A Resposta”, livro dividido em capítulos narrados por cada uma das três principais personagens, oferece uma leitura leve e, ao mesmo tempo, intensa. Ele prende o leitor que quer descobrir o que acontecerá com todas essas histórias e relacionamentos. As questões abordadas não escondem o recente e sombrio passado de uma parte dos Estados Unidos, quando negros eram perseguidos e mortos apenas por serem negros. Quando sequer podiam utilizar o mesmo banco, ou o mesmo banheiro que os brancos. Aqueles que se encorajavam em reivindicar seus direitos eram vistos como inimigos.
A autora Kathryn Stockett conseguiu abordar não somente essas grandes questões, como também, particularmente, a questão das mulheres. Mulheres negras que eram as verdadeiras líderes de seus lares e, muitas vezes, além de colocadas em posição inferior em relação aos brancos, tinham que lidar com maridos agressivos e viciados, que também as subjugavam. Mulheres brancas que não possuíam muitas opções além de se casarem e constituir uma família modelo. Mesmo aquelas que não eram indiferentes à segregação entre brancos e negros, por vezes se omitiam ou agiam escondidas para manter as aparências diante da sociedade.
Enfim, é um livro que não apenas conta uma história, mas traz uma dose da realidade vivida por mulheres negras e suas relações com as mulheres brancas no sul dos EUA dos anos 60. Ao mesmo tempo, como ficção, é totalmente envolvente e bem construída.
* Ainda não assisti o filme. Optei por ler o livro antes. Após assisti-lo, volto ao site para compartilhar minhas impressões.
A Resposta (The Help) – Kathryn Stockett
Literatura Estrangeira
Editora Bertrand Brasil
574 páginas
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