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Paulistana Transforma solidão em Livro de Poesias

Só dou flores aos vivos que não tem pressa é uma obra que trata das várias facetas do amor, incluindo a perda e a reconquista. Jovem escritora estreia no universo artístico depois de passar por experiências na ONU, participar de rede internacional de integração de mulheres e receber mentoria da artista Luna Vitrolira.

 

A pandemia foi um período que marcou redescobertas para milhares de pessoas, seja sobre uma nova autopercepção, a noção do que realmente é prioridade, a verdadeira vocação, paixões escondidas, a força de superação e o renascimento do amor-próprio. Com todos estes temas se misturando, a escritora Louise Ramas, de 20 anos, lança seu primeiro livro, Só dou flores aos vivos que não tem pressa, no dia 22 de agosto.

A obra de poesias compila textos escritos pela universitária durante a pandemia, certamente um dos períodos mais desafiadores de parte da população mundial. De acordo com ela, escrever nestes tempos foi uma forma de lidar com sentimentos e angústias e principalmente canalizar a energia em uma produção artística.

 

Primeiro livro aos 20 anos

E apesar de muito jovem, Louise carrega várias experiências de vida. Na carreira acadêmica, por exemplo, chegou a fazer um curso na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, tendo inclusive a oportunidade de visitar a Assembleia Geral.

A jovem escritora também tem uma veia empreendedora aguçada desde muito cedo.  Louise participou, em 3 oportunidades, do Dell Women’s Entrepreneur Network (DWEN), evento sobre a rede de capacitação de mulheres empreendedoras da Dell. Na edição 2017 do DWEN, realizada em São Francisco (EUA), quando tinha apenas 16 anos, participou com garotas de diversos países do programa “Girl’s Track”, voltado para jovens entre 12 e 18 anos e teve o projeto do seu grupo escolhido para uma apresentação de um plano de negócios para todas as empreendedoras presentes no evento.

Na vida artística, Louise escreve pensamentos, poesias e poemas desde a adolescência. Além de servir como uma espécie de válvula de escape para os desafios do dia a dia, a entrada neste universo foi uma homenagem ao pai.

“Ele também escrevia poesia quando tinha a minha idade, mas acabou perdendo todos os textos em uma enchente. Por causa disso, meu início no mundo literário está sendo uma realização de sonho para ele também, que junto da minha mãe e meus familiares me apoiaram em todo o processo”, ressalta Louise.

Concepção

Em tempos de pandemia, tirar um novo projeto da gaveta e colocá-lo no mundo pode ser uma tarefa complicada. Louise confessa ter passado por essa dificuldade. Ela conta que há um bom tempo nutre esse sonho de escrever, mas que o medo da rejeição fez com que a missão ficasse guardada por um bom tempo.

“No final das contas, se nós não fizermos aquilo que sonhamos, ninguém fará pela gente. Eu entendi que aquilo que eu estava produzindo poderia impactar as pessoas. A partir disso dei conta de como seria gratificante receber a notícia de que alguém se identificou com as minhas palavras”.

O projeto Só dou flores aos vivos que não tem pressa durou cerca de 1 ano, contando desde os rascunhos iniciais até a edição final do livro. Assim como toda obra em andamento, ele passou por alterações ao longo do caminho até tomar a forma atual.

No processo, a jovem teve mentoria de Luna Vitrolira. A artista da música e do texto é autora de Aquenda: o amor às vezes é isso, livro finalista do Prêmio Jabuti 2019, e do álbum homônimo, lançado em 2021.

Louise, que tem o sonho de se tornar uma escritora profissional, comenta que o trabalho com Luna foi essencial para transformar o compilado de poesias em uma obra coesa com início, meio e fim. Além disso, o processo fez com que o livro ganhasse uma protagonista, que passa por uma jornada particular de dificuldade até o ápice da superação.

Inspirações

Entre as inspirações da jovem autora estão poetas como a portuguesa Matilde Campilho e a norte-americana Sylvia Plath. Ela diz que além de se identificar com as obras das escritoras, considera que suas temáticas a estimularam a enxergar o mundo de maneira diferente. A brasileira Natália Parreiras Rubra e O livro que não escrevi foi outra fonte de criatividade para a jovem, que se considera feminista desde muito cedo.

Apesar de ter a obra destes artistas na cabeça, ela afirma que Só dou flores aos vivos que não tem pressa carrega um tom bastante autoral, possuindo linguagem e vozes próprias.

“O livro vem de uma perspectiva feminina, mas não é só para mulheres. Todo mundo passa, ou passou, por relacionamentos pesados e merece encontrar de novo o amor. E apesar de carregar algumas experiências que eu passei, a personagem central não sou eu. Qualquer pessoa consegue se identificar com o que está escrito ali”, argumenta.

Louise faz questão de ressaltar também que o chileno Pablo Neruda é outra inspiração. O poeta vencedor do Nobel de literatura de 1971 é referenciado principalmente por obras como Cem sonetos de amor.

“A poesia é sempre bastante pessoal, então escrever esses textos é uma forma de verbalizar sentimentos que muitas vezes não estão claros nem para nós mesmos. No meu caso, eu me inspirei muito em todos esses autores e comecei a escrever como se fosse uma terapia”.

O amor tem saída

Louise Ramas, autora do livro.

O livro tem 25 poesias com versos e estrofes que mostram várias facetas do amor, entre elas a perda e  reconquista. Ao final de tudo, a temática central é o amor-próprio.

“Eu queria que as pessoas entendessem que vai ficar tudo bem. Às vezes a gente está numa situação difícil e achamos que não tem saída. Mas as coisas aos poucos vão se encaixando e melhorando. Depois de um relacionamento complicado, chega o momento em que nós nos apaixonamos por nós mesmos novamente”.

A autodescoberta da personagem central vem acompanhada com a percepção de que o “amor tem saída”, argumenta a própria escritora.

E mesmo não sendo uma obra biográfica, já que Louise explica que não é a protagonista, o livro tem toques pessoais e uma homenagem familiar bastante especial. Uma das poesias é dedicada diretamente à avó paterna da escritora.

“A escrita e publicação do livro estão sendo experiências muito fortes e marcantes para mim. Tudo tem um significado muito poderoso particularmente e na ideia central. Eu quero passar ao leitor a ideia da beleza da redescoberta de si mesmo e que ele precisa se apaixonar completamente pelo que é e pelo seu próprio processo. Quero que ele saiba, principalmente neste momento difícil que atravessamos, que é possível estar bem consigo mesmo”, finaliza a jovem escritora.

 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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