O ano é 2020, mas as denúncias que pipocam nas redes sociais sobre ambiente de trabalho tóxico e cancelamento de celebridades nos fazem lembrar de outras épocas, não tão distantes. Um tempo em que o “showman” vinha com o arquétipo de homem-branco-hétero, sendo este o centro de tudo, ou seja, aquele que poderia mandar e desmandar, inclusive em questões além do ambiente da ação do trabalho.
Muita coisa mudou dos anos 1980/90 para cá, trazendo aos holofotes do show biz diversas outras personalidades fora deste espectro, com rostos como Oprah e Ellen Degeneres no comando de programas de auditório, tornando-as figuras centrais no imaginário televisivo norte-americano. Mas, mesmo com caras novas, a figura autoritária ainda estava ali, meio à sombra, meio à vista, deixando uma atmosfera de dúvida sobre conduta na frente e fora das câmeras.
Desde o início da pandemia, a queridinha da América, Ellen Degeneres, viu ruir seu império de carisma e boa vontade a partir, justamente, do lugar em que foi mais cultuada: as redes sociais. As hashtags #ellengate no Twitter e Instagram trouxeram à tona um outro olhar sobre a apresentadora, vista nos bastidores como uma personalidade austera e autoritária, com denúncias de diversas pessoas de sua equipe de que ela tornava o ambiente de trabalho tóxico, algo impensável pelos fãs.
Esta semana mais uma notícia envolvendo executivos do programa fizeram Degeneres sair do pedestal de sua mansão e pedir novas desculpas. O caso está em andamento, mas o que se tornou público foram episódios de racismo, assédios moral e sexual, envolvendo até demissão de funcionários que fossem a funerais de parentes durante a pandemia.
No meio disso tudo, a apresentadora fez o que todos em caso de cancelamento em massa fazem nas redes sociais: pedir desculpas ao público e à equipe. Mas, será que isso basta? Bom, cancelada ou não, Ellen vai demorar ainda um pouco para revitalizar esta imagem tão arranhada e, talvez, retransformá-la para um novo mundo, pós cancelamento, pós pandêmico. Quem sabe assim a internet não a perdoa.