Se espalhou pelo mundo como uma chama de justiça os protestos contra o racismo. Como se não bastasse a união contra o Covid-19, agora é a vez da humanidade gritar para todos ouvirem: Vidas Negras Importam. E para marcar ainda mais o momento e chamar atenção para as injustiças históricas, Spike Lee lança seu Destacamento Blood, filme que trata dos negros que defenderam a bandeira americana na Guerra do Vietnã.
Esse é um filme desenvolvido para levantar outra questão em termos de diferenças raciais: para lutar pelo país os afrodescendentes são necessários e para os direitos comuns de todas as pessoas não? Enfim…
O longa do Lee retrata a vida de quatro combatentes negros, veteranos que retornam ao campo de batalha em busca de um tesouro e também, dos restos mortais do quinto companheiro. O grupo era chamado como Destacamento Blood, tai o nome do filme. O complicado para esses veteranos é: regressar ao palco de terríveis traumas, fantasmas do passado e tudo isso, levando em consideração o desgaste da idade.
A história é organizada através de flashbacks e recordações dos combatentes. Apesar de estarem em busca de um tesouro, precisam lidar com diversas situações que os remetem à verdade daquela busca. Eles foram ali pelo tesouro, mas será que moedas são tão valiosas quanto outros valores? É essa a questão que Lee nos entrega nas entrelinhas do filme. O mais importante é ser um Blood, ou seja, é ser um membro de um grupo que zela por todos.
Mas os membros remanescentes de Blood não terão que enfrentar apenas seus traumas de guerra, existem outras situações ainda mais delicadas para se lidar quando é um ex-combatente americano que travou uma guerra de 20 anos e que derramou muito sangue. Detalhe, os americanos puderam regressar ao país e deixar toda matança para trás, e quanto aos vietnamitas que tiveram que conviver com uma nação arrasada e repleta de cadáveres?
Por trás do contexto do filme
Como disse no início, Spike Lee utiliza a arte para mandar um recado para o mundo inteiro. Uma mensagem extremamente pertinente nos dias de hoje, ainda mais diante de tantos absurdos contra os negros. Apesar de conter um pano de fundo, as críticas e discursos retratam a realidade do momento que estamos vivendo.
Ou seja, o filme questiona por que os negros são bons para morrer pelo seu país, mas quando é o momento de seu país fazer algo por eles, simplesmente não o fazem? É uma mensagem pesada, direta, entretanto, Spike Lee discorre seus pontos de vista, unido a história que conta em seu longa metragem de uma forma espetacular.
Nesta produção da Netflix nos deparamos com homens que buscam conseguir com os próprios esforços reparar alguns pontos de sua história, no entanto, começam a serem atormentados por algumas histórias e se incomodarem de não receberem o título de heróis americanos, como deveria ter sido.
A Netflix tem apresentado cada vez mais filmes de qualidade, apostando em cineastas que, talvez, não teriam a mesma oportunidade fora do glamour de Hollywood. O filme funciona muito bem e Spike Lee não deixa sequer uma ponta solta. As intercalações entre flashbacks e realidade vale destaque, como também, a atuação de Delroy Lindo.
Como dito, o discurso do filme é poderoso e mediante as manifestações, a produção se transforma em um tipo de manifestação que chama atenção para a luta diária do afrodescendente, ou seja, tornando o filme apenas uma metáfora sobre o que verdadeiramente é destinado. Dizer que, para o povo afro, a luta é constante e diária.