Correndo o risco de parecer nostálgico, afirmo que essa é a minha resenha mais importante, por vários motivos. Capitães da Areia foi o primeiro livro que li inteiro, foi a primeira resenha que fiz, sem nem saber o que era isso e de uma forma extremamente forçada (contrariando o que parece, nunca fui um aluno fã de literatura) no auge dos meus 15 anos. Esta resenha é importante justamente por isso, e finalmente vou poder entregar uma resenha de verdade sobre uma obra que me marcou. Depois que li Capitães da Areia acabei sendo dominado pelo vício da leitura e devo isso ao mestre Jorge Amado. Mas antes de falar sobre a obra, gostaria de deixar registrada a minha felicidade pela Cia das Letras me proporcionar a releitura de um livro tão importante para mim.
Apesar de suas quase trezentas páginas, que demoraria normalmente 1 ou 2 dias para ler, acabei demorando mais de 1 semana para reler a obra e isso se deve a um único motivo, esse livro não foi feito para “devorá-lo” e sim para apreciá-lo e foi exatamente isso que eu fiz durante essa semana, até o momento foi o único livro que cheguei a ler um único capitulo mais de 3 vezes. Como disse no início da resenha, vou parecer extremamente nostálgico.
Jorge Amado nos apresenta aos Capitães da Areia, um grupo de meninos de rua extremamente organizados e amigos. Durante a leitura é impossível não se colocar no lugar desses meninos, afinal, apesar dos pesares são crianças comuns que foram forçadas a amadurecerem muito cedo, sem nenhuma barreira familiar, sem limites, sem carinho, sem um lar. Isso fica claro em determinados momentos onde tudo o que eles esperam é um colo, alguém que cuide deles, ou simplesmente poder passar uma tarde andando de carrossel como as demais crianças.
Em contrapartida o livro é extremamente critico quanto a sociedade da época, questões políticas e uma mídia manipuladora da verdade (isso fica claro logo nos primeiros capítulos). É exatamente isso que torna o livro atemporal, todas as mazelas da sociedade ainda hoje é visível, a unica coisa que separa esses meninos da realidade atual é que hoje temos um agravante, as drogas ilícitas. Não que os personagens apresentados por Jorge Amado sejam “limpos”, porém não temos esse contato direto com as drogas. Enquanto hoje as crianças de rua são em grande maioria marionetes de traficantes, os Capitães da Areia prezam sua liberdade, e a malandragem.
Sabe aquele tipo de livro que nos faz colocar o pé no chão e o dedo na consciência? É assim que me sinto ao ler Capitães da Areia. Esta resenha possui mais um motivo para ser tão especial, em 2012 Jorge Amado completaria 100 anos, e a Cia das Letras tem preparado várias surpresas. Agora em dezembro, a editora irá lançar uma caixa comemorativa “As mulheres de Jorge Amado”. Ao longo de 2012, serão lançadas edições especiais ilustradas de “Navegação de cabotagem” e “Os velhos marinheiros”. E no mês do centenário, agosto de 2012, será publicado o inédito “Jorge & Zélia”, livro de cartas que o casal trocou enquanto Jorge estava em exílio.
Em tempo, no Rio de Janeiro, “Dona Flor e seus dois maridos” volta aos palcos no Teatro João Caetano. Em Salvador, terra natal do escritor, Jorge Amado será tema do Carnaval 2012. No campo das artes, o Museu da Língua Portuguesa inaugurará em março de 2012 a exposição Jorge, Amado e universal, que seguirá para o Museu de Arte Moderna da Bahia em agosto.
E dando início a tantas comemorações, neste mês estreou em todo o país o filme Capitães da Areia dirigido pela cineasta Cecília Amado, neta do escritor. Confira aqui o trailer! Ainda não assisti ao filme, mas cada vez que vejo o trailer chego a ficar arrepiado.
Na vida só vale o amor e a amizade. O resto é tudo pinóia, é tudo presunção, não paga a pena…” Jorge Amado
Por Júnior Nascimento
Muito bom!