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Manuscritos de Sangue

“Manuscritos de Sangue”, simbólico irmão mais velho de “A Sete Palmos”, foi o primeiro livro publicado por Waldick Garrett, e o marco de sua estréia no universo da literatura brasileira. Nessa sua estréia, através do selo “Novos Talentos da Literatura Brasileira”, da Editora Novo Século, Waldick Garrett já demonstra seu grande talento para a literatura, nos presenteando com textos extremamente maduros e bem definidos. O livro, composto por 13 contos, gira em torno de acontecimentos ominosos, seres inimagináveis, situações misteriosas, assassinatos inexplicáveis, e toda sorte de estórias banhadas em rubro sangue fresco.“A Fotografia”
O conto que abre o livro, por exemplo, foi o primeiro escrito de Garrett, e, inclusive, foi um dos premiados em um concurso nacional. “O Canto Esquerdo” conta a estória de Gentil, um homem que acorda em um local que, inicialmente, ele não reconhece. À sua frente encontra-se um grande espelho, por onde ele vê coisas das quais desejaria jamais conhecer. Com um final surpreendente, este conto consegue enganar o leitor quanto ao mistério que cerca seu personagem principal. Coisas aparentemente sem sentido, mostram-se extremamente significativas ao final da narrativa.

“Rodovia Km 313”
“A Fotografia”, por sua vez, é um conto fictício montado sobre um pano de fundo composto por acontecimentos reais: o Combate do Iraní. Sua trama trata de Abel, um garoto de seis anos de idade, filho de um general. Em uma visita ao Quartel onde seu pai trabalha, Abel pede para ficar com um quepe que pertencera a um soldado morto em combate. Entretanto, coisas estranhas acontecem. O soldado, mesmo com parte do crânio fraturado, volta para pegar o que é seu. E o que sobra como prova desse incidente? Uma foto de toda a infantaria, onde, diferente de todos os outros soldados que encontravam-se sem o quepe, vê-se o mesmo soldado, de posse de seu quepe, com o mesmo ferimento na cabeça.

“Projeção”
Viajar sozinho durante a noite pode ser algo extremamente cansativo e perigoso. Ainda mais quando você está se aproximando do Km 313. Em um rápido cochilo, o protagonista dessa estória é obrigado a desviar-se para o acostamento para poder evitar uma colisão frontal. Mas, ou seus olhos o enganaram, ou ele atropelou uma garota vestida de branco. Atordoado pelo quase acidente e pela visão fantasmagórica, ele continua viajando, mas se depara com um ser diabólico que o esperava bem à frente da placa que indicava a kilometragem da rodovia: 313.

“Pacto Sob o Luar”
É possível ir, em um sonho, à um lugar nunca antes visto? E ainda se durante essa “Projeção” você pudesse interferir com os acontecimentos do local? É isso que acontece com Sávio. E somente muitos anos depois ele descobrirá o que aconteceu naquela praça, que possuia um estranho chafariz em seu centro.

Um garoto de quatorze anos está vizitando a fazenda de seus avós. Ele passa o dia normalmente, entretanto, ao anoitecer, é perturbado em seu sono pelo próprio demônio. Na noite seguinte o ser volta a aparecer e dá o seu ultimato: virá buscá-lo na terceira noite. Contudo, ele não virá sozinho. “Pacto Sob o Luar” ainda possui um final ambíguo, deixando o leitor na dúvida sobre quem é quem nessa estória.

“A Maldição da Vila Pequena”
Rodolpho recebe um convite de seu tio para visitá-lo e passar um mês de suas férias em sua residência. O jovem chama seu amigo Diomedes para acompanhá-lo, visando uma distração nesse período próximo a formatura de ambos. Logo ao chegarem em Vila Pequena, Heloísa, uma idosa moradora do local, os recebe com várias imprecações e anuncia que, com a vinda de ambos, coisas anômalas acontecerão. Os dias começam a decorrerem e fatos estranhos acontecem na pequena vila: uma excêntrica festa à fantasia; corujas que bloqueiam a saída da vila e por fim uma revelação: “A Maldição da Vila Pequena” foi despertada e é apenas uma questão de tempo até que todos os seus moradores sejam transformados. E o único que pode evitar esse fato é Rodolpho, que descobre ser muito mais do que um jovem universitário.

“O Cabo Grorski”
O sargento Nilton assumirá um novo posto de serviço após sua formatura. O que ele não esperava era ter como parceiro “O Cabo Grorski”. Ao fazer sua patrulha da noite, coisas estranhas acontecem: Nilton não consegue prender um homem que agredia uma mulher, mas Grorski, com poucas palavras, o acalma; o fato se repete, entretanto, ao agredir o sujeito, Nilton vê uma imagem surreal. A noite demora a findar-se e a patrulha é recheada de outros fatos estranhos. Tudo se desvela quando, ao término da noite, a verdadeira identidade de Grorski é revelada. Ou não.

“A Encosta”
Desta vez, partindo para o gênero da ficção científica espacial, Garrett nos conta a história do capitão Costenário e Hudson, dois astronautas enviados ao planeta Maya, no ano de 2542. As explorações ocorrem normalmente e o funcionamento da estação espacial é perfeito. Entretanto, “A Encosta” que eles estão prestes a esplorar os deixa com um sentimento de apreensão. Os problemas começam quando, durante a noite, a estação para de funcionar, deixando o frio do planeta embrear-se na nave. Hudson acorda e percebe que o capitão desapareceu. Em sua busca pelo capitão ele deparar-se-á com grandes problemas. Mas os relatórios da missão dizem outra coisa.

“Coma”
Tentação, terror e impotência são ingredientes presentes em “Coma”. Uma estória sobre uma alma atormentada em seus últimos momentos. Numa narrativa que mistura devaneios com realidade, Garrett nos mostra até onde um homem pode resistir à tentação de desistir de tudo e escolher o caminho mais fácil.

“O Diário de Victor”
Victor Desvelo falesceu, mas “O Diário de Victor” ficou como prova incontestável de seus crimes. Entretanto, por trás de assassinatos ediondos há explicações que fazem com que indaguemos a respeito da veracidade dos “antídotos” utilizado por aquele que acredita que há vida após a morte. Arrisque-se a virar as páginas desse diário e vislumbrar a torta caligrafia de Victor em seus momentos derradeiros.

“Assassinato no Templo”
Como o maçom que é, Garrett não poderia deixar de escrever um conto onde os personagens façam parte dessa magnífica instituição. Entretanto, como todos os seus escritos, nada de muito bom poderia acontecer. A espada sagrada maçônica, que representa o fogo sagrado, é a arma utilizada para um assassinato. O tenente Hiram foi inculbido de investigar o caso, contudo, ele poderá acabar mais envolvido do que gostaria.

“O Perfume”
Escrito por Claudionor Agibert, “O Perfume” conta a estória de João Vitor, um jovem bibliotecário que trabalha e estuda normalmente até conhecer uma jovem que sempre pede um livro de Shakespeare. Apaixonado pela beleza da moça, João resolve puxar conversa com a bela moça. Com um final surpreendente e emocionante, esse conto mostra a inocência do sentimento puro do amor.

“A Expedição”
Fechando o livro com chave de ouro, Gleison conta-nos o que aconteceu durante “A Expedição”. A filial da Hidrovácuo S/A na Patagônia está atualmente sem contato, e Gleison é o encarregado para ir até lá verificar e tentar arruma o problema. Mas surpresas o aguardam durante a expedição. Um dos melhores contos do livro, com um final de tirar o fôlego.

Por fim, vale chamar a atenção para as ilustrações do desenhista Jack de Castro Holmer, essas que permeiam a resenha.

“Manuscritos de Sangue” foi a grande estréia de Waldick Garrett, com narrativas fluidas e extremamente ambíguas, com várias camadas de significados embrenhados abaixo de sua superfície. Um livro para ser lido e relido. E o melhor de tudo? Em breve uma nova coletânea será lançada por Garrett. Já adianto o título: 03:33

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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