Como toda fã de Jane Austen, sempre fui muito curiosa a respeito de sua biografia: Como começou a escrever, o que a motivava, de que maneira conseguiu a aceitação e a admiração do público machista de sua época, por que morreu tão cedo, privando-nos de outros possíveis romances tão agradáveis quanto o que escreveu… Porém, acima de tudo, minhas maiores perguntas sempre foram: o que havia de errado com ela para nunca haver se casado, sendo que naqueles anos (finais do século XVIII e começo do XIX) todas as mulheres desejavam e deviam se casar? E por que, apesar de sua solteirice, somente escrevia romances de amor cujos conflitos giravam em torno do casamento e de arranjos sociais?
Meus conhecimentos a respeito desse mistério nunca passaram de especulações. Eu imaginava simplesmente que Jane não era atraente física nem financeiramente, por isso jamais conseguiu um marido. Cheguei a pensar também que ela era uma mulher com pensamentos avançados diante de seu tempo e preferiu, por ideologia, permanecer solteira. Essa segunda hipótese não tem muita sustentação, já que todos os seus romances demonstram que ela admirava a instituição do casamento, desde que ocorresse por amor. Jane criticava o casamento arranjado e escrevia sobre como o amor deve ser o principal motivo para a união entre um homem e uma mulher. Quanto à primeira hipótese, descobri que realmente sua família não possuía muitos recursos financeiros, Jane não tinha um bom dote para oferecer a um pretendente, isso pode haver dificultado a aproximação dos rapazes. Quanto à sua aparência, não obtive bons resultados de pesquisa. Não há uma imagem que a retrate fielmente, mas apenas retratos inspirados em uma pintura que Cassandra, irmã de Jane, tentou fazer. Portanto, diante do fracasso das investigações, minha curiosidade a respeito da autora permaneceu vivo e incômodo.
Foi então que me deparei com o romance As memórias perdidas de Jane Austen, de Syrie James, publicado pela editora Record, e pensei: Uau! Então quer dizer que Jane chegou a escrever suas memórias, e eu nunca soube disso! É claro que ela deve ter escrito sobre sua vida amorosa e sobre o porquê de jamais haver encontrado um grande amor… Contudo, antes mesmo de iniciar a leitura, ao ler as orelhas do livro, já me dei conta de que Syrie James não era a organizadora das memórias encontradas, e sim sua criadora. Confesso que essa informação me decepcionou muito no começo. Afinal, não se tratam das memórias de Jane Austen, e sim de mais uma fã que decidiu fazer especulações, da mesma forma como eu fazia, só que com um pouco mais de criatividade. De qualquer maneira, como eu estava com o livro em mãos, e realmente precisava lê-lo, já que o havia escolhido para escrever meu parecer a seu respeito, iniciei a leitura.
O romance é escrito em primeira pessoa, na forma de memórias. Há um esforço enorme por parte da autora em fazer com que o leitor acredite que aqueles escritos são mesmo de Austen. Inclusive a Dra. Mary I. Jesse, presidente da Fundação Literária Jane Austen, entra na brincadeira ao escrever um prefácio relatando o processo de descoberta desses diários. Pura ficção. Esse jogo me agradou bastante, nunca havia me deparado com algo parecido. Por isso, quando finalizei a leitura do prefácio, meu estado de espírito já era outro para a leitura do romance. Syrie foi muito feliz em suas especulações. Para criar as memórias, ela se inspirou nos próprios romances de Austen, acreditando haver neles insinuações autobiográficas. Criou para a Srta. Jane um pretendente tão apaixonante quanto o Sr. Darcy, de Orgulho e Preconceito. Syrie também procurou reproduzir o estilo da romancista, criando personagens planas, muitas delas sem grande relevância para o enredo. Houve também uma tentativa de reprodução do estilo linguístico. Tudo é muito bem elaborado. O leitor de Jane Austen, familiarizado com seu estilo, é capaz de perceber que aquele texto não poderia ter sido escrito por ela. Porém, um leitor menos atento pode deixar isso passar despercebido e é até possível que alguém leia essas memórias acreditando realmente que foi Jane quem as escreveu. O final, infelizmente, não pôde ser feliz, como são os finais dos romances de Jane. Sabemos que ela nunca se casou, por isso, Syrie precisou se manter fiel a esse fato.
A narrativa, no entanto, é deliciosa, tanto que podemos nos esquecer de Syrie e de sua brilhante criatividade, para nos envolvermos nas memórias como se elas expressassem verdadeiramente o que se passou na vida de nossa amada autora. No romance, o sobrinho de Jane lhe pergunta: “Você quer dizer que, se eu acreditar na sua história como a contou, ela será tão boa como se fosse de verdade?” Neste caso, eu responderia que sim, tanto que a curiosidade em saber o que realmente se passou quase é deixada em segundo plano. Quanto ao sentimento de perda que temos quando nos lembramos de sua morte precoce, o romance também oferece um consolo, quando narra o encontro de Jane com uma vidente que diz: “Você não é como as outras, estou dizendo! Você viverá para sempre! Você será imortal!”
Título: As memórias perdidas de Jane Austen
Autor: Syrie James
Editora: Record
Ano: 2013
Nº de páginas: 319
Amei o que escreveste sobre Jane Austen, sou uma das suas fãs mais recente apenas esse ano 2013 tomei conhecimento dos seus livros. E na verdade nem foi pelos livros e sim pelos filmes e series no youtube, vi tudo ou quase tudo nem sei direito. O livro mesmo vai começar a ler agora nas férias como boa leitora gosto de fazer um paralelismo entre o filme e o livro, mais sempre começado pelo livro, esse foi um exceção gostoso, pois fiquei apaixonada pelos cenários e a fotografia dos filmes mais tem certeza que ficarei apaixonada também pelos livros à imaginação já terá uma idéia a quem se apegar. Um abraço