Somos otimistas ou pessimistas? Sabemos olhar o lado bom das coisas? Será que somos capazes de parar e prestar atenção no que realmente importa? Será que somos capazes de por meio de nossas escolhas controlar as consequências de nossos atos? O que nos leva ao limite¿ E o que tem poder suficiente para tirar de nós o tempo, a lembrança, o amor?
O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick (ed. Intrínseca), conta uma parte da vida de Pat Peoples, talvez a parte mais importante. Ele é um ex-professor de História e ex-treinador que não se lembra o que fez para ter ido parar em uma clínica psiquiátrica. Apenas acredita que passou alguns meses no “lugar ruim” com médicos deprimentes e enfermeiras feias que não acreditam “no lado bom das coisas, no amor ou em finais felizes” (não seria este o nosso mundo?). E espera que agora que foi resgatado de lá por sua mãe para tentar um novo tratamento em casa, o “tempo separado” de sua esposa Nikki logo termine. Não assiste filmes porque diz estar vivendo o próprio filme e acredita no final feliz.
É um homem que tem muita fé, um otimista, viciado em exercícios físicos para manter a forma e reconquistar sua amada e que surta ao ouvir Kenny G, seu pior inimigo. Em sua vida pós clínica tudo gira em torno do reencontro com sua adorada Nikki, o que o coloca em situações desconfortáveis pois não entende porque sua família e amigos desconversam ou mesmo brigam com ele ao falar dela.
Quando volta para casa reencontra seu pai que quase não fala com ele e cujo humor varia de acordo com as vitória e derrotas de seu time; seu irmão caçula que como presente de boas-vindas compra ingressos para assistirem juntos a temporada de futebol americano que iria começar; e seu melhor amigo e família que tentam dar a Pat mais um porto seguro com apoio; peças fundamentais em sua recuperação, assim como sua mãe.
Conhece também seu novo terapeuta um indiano baixinho e simpático que, além de otimista, torce para o mesmo time. A relação entre eles é comparada por Pat à relação entre Yoda e Luke Skywalker em Guerra nas Estrela: O Império Contra Ataca, um de seus filmes favoritos. E como deixar de mencionar Tiffany, cunhada de seu melhor amigo, uma linda mulher louca que invade sua vida e provoca mudanças significativas.
A narração é em primeira pessoa. São memórias diluídas, meio conta-gotas. Um diário sem a abertura “Querido diário”, afinal é a visão de um homem que acabou de sair de uma instituição psiquiátrica contando situações simples do dia a dia. Às vezes ele dialoga com o leitor chegando a interagir com ele. Em alguns momentos o texto se perde e temos a impressão de que quem dialoga com o leitor é um adolescente, talvez apenas uma segunda adolescência como efeito do tratamento e da medicação.
No começo pode-se achar que seja um livro bobo, com falas e reflexões aparentemente tolas, mas avançando um pouco na leitura algo começa a arrancar um pedacinho do coração e a sensação que dá é que ao fim do livro seu coração estará dilacerado. Só que não.
É um livro que fala sobre as consequências dos nossos atos, mas que também fala sobre refletir as escolhas. Sobre saber até que ponto a culpa é só nossa e a partir de quando ela é compartilhada. É um livro que valoriza a família e a amizade, que fala de amor e de olhar o outro com compaixão. Tentar “ser gentil ao invés de ter razão”.
É também um livro que mostra a busca pelo aperfeiçoamento como caminho para reconquistar alguém, ou quem sabe, a si mesmo. Como quando ele passa a ler clássicos de alguns dos grandes autores da literatura americana como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, J. D. Salinger e Sylvia Plath. Acreditando que com todo esse conteúdo ele será capaz de “derramar sabedoria”. E depois de um tempo começa a prestar atenção no que realmente importa. Momentos simples que trazem felicidade. Momentos em que um “eu preciso de você” pode ser mais sincero e significativo que um “eu te amo”.