Foto de abertura: Acervo Instituto de Estudos Brasileiros – USP
Foi PROVOCATIVA a minha escolha, foi PROVOCATIVA… pautada em duas questões, uma vez que, valorizamos em demasia o que não é nosso e, em tempo de constatação, cada vez mais sabemos pouco sobre nós, nossos escritores, nossas identidades. A outra motivação foi mergulhar na minha região. Sim, somos regiões divididas, precisamos buscar o conhecimento da parte e depois nos reconhecer como um todo, uma rica diversidade. No entanto, confesso ter em minhas mãos uma responsabilidade muito grande, escrever algo sobre um livro de Graciliano Ramos, Garranchos – Textos inéditos de Graciliano Ramos (ed Record). Pergunto-me: quem sou eu para poder alinhar vírgulas e pensamentos sobre uma pessoa de vida grandiosa? Visto-me da couraça da modéstia, logo, uma característica evidente na postura do sertanejo alagoano.
O livro vem com uma introdução pelas mãos do próprio organizador Thiago Mio Salla, estudioso da obra do autor. Aqui é necessário um pouco de paciência, pois vem com uma escrita mais acadêmica, mas a intenção é deixar o leitor ambientado dentro da obra que é dividida em fases passadas pelo autor, podemos até perceber no decorrer da leitura o amadurecimento da escrita, conhecendo os desdobramentos e as interfaces de um Graciliano em Palmeira dos Índios, no Rio de Janeiro, os momentos no Cárcere, o Político, o Presidente da ABDE (Associação Brasileira dos Escritores), o contista para crianças.
Para quem nunca mergulhou em um livro do Graciliano ou em uma obra regionalista não precisa temer, o leitor é redirecionado a todo o momento às notas explicativas, onde, é demonstrada a efervescência dos acontecimentos de ordem de vida pessoal, profissional e ideológica que o motivam a escrever, os ambientes, também, são descritos, na parte final do livro encontramos os detalhes da vida e obra, cronologia.
Cito alguns Garranchos que me marcaram, V, VI, IX, X, XI, XIII e XIV. Dentre os assuntos abordados, é interessante como algumas questões tratadas por Graciliano encontram-se totalmente atuais, de 1ª ordem, assuntos que são os dilemas do nosso cotidiano e é por isso que o conjunto da obra torna- se rico, dentre elas, Luz Elétrica, o Álcool, gastos nas prefeituras municipais, “O Testa de Ferro”, Liberdade de Pensamento, o elogio às mulheres e a questão do voto feminino, os elogios paralelos aos literatas nordestinos como Jorge Amado, a crítica que Graciliano faz ao brasileiro, no qual, afirma, conhecermos pouco o nosso mundo, “nos esforçamos para saber o que se passa na Europa”; eu mesma deixo uma indagação, alinhando o coro, continuamos do mesmo jeito?
Um dos maiores clamores é relacionado à educação, caminhamos, mas as reclamações continuam. Por isso nosso subdesenvolvimento, a educação ao que me parece nunca figurou na grande agenda, contudo, vejamos uma particularidade, quando o Graciliano exerceu o cargo de Diretor de Instrução Pública, hoje, equivalente ao Secretário de Educação, observamos as estatísticas no aumento de matrículas no período de 1932 a 1934.
Ler Garranchos, é conhecer o surgimento das personalidades brasileiras, o delineamento do meio cultural, é ficar a par dos encontros, correspondências entre os escritores e artistas em nome de algo, as inquietações, é conhecer os estrangeiros que estiveram no Brasil e curiosos, ainda, pelo interior do Nordeste como o austríaco e sociólogo, Ludwig Schennhagen. Ler Garranchos, é como sentir um sertanejo ao seu lado contando todas aquelas histórias. Ler Garranchos, é andar pela história do Brasil, é perceber a interação dos que torciam pela solidez do nosso conhecimento entre as regiões. Ler Garranchos, é conhecermos um pouco do movimento Comunista em oposição ao medo da penetração e dimensão do Fascismo, o Graciliano como parte desse movimento. Ler Garranchos, é conhecer a dimensão do conhecimento e o envolvimento além-fronteiras como os discursos proferidos a favor dos escritores na América Latina, presos e torturados por governos populistas.
Portanto, Garranchos, é um conteúdo relevante que vai além do autor, tempo e região.
Lembrando Orhan Pamuk, escritor Turco e Nobel de literatura em 2006, o que é o romance? “É a filosofia do seu tempo”
Leitores brasileiros, convoco a todos para que, inquietem-se, precisamos alimentar nossa autoestima, temos o suficiente em, beleza, riqueza natural e cultural, possuímos os melhores atributos para andarmos de cabeça erguida, é importante lembrar que, todos nós somos responsáveis e atores do processo.
Garranchos – Textos inéditos de Graciliano Ramos – 378 páginas
Organizador: Thiago Mio Salla
Editora – Record
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