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Antes de Dormir

Segundo o dicionário Houaiss, a palavra MÉMORIA significa: capacidade de lembrar; recordação de algo passado.

É graças à memória que conseguimos nos lembrar de quem somos, o que fizemos, quem conhecemos e o que desejamos fazer. É uma parte do cérebro que armazena tudo que vimos e fizemos, nos ajuda a se orientar nas ruas (alho com afinal, sabemos chegar em casa porque memorizamos o caminho).

Por ser algo tão importante, somente a ideia de se imaginar sem lembrança alguma assusta a todos. Acordar todos os dias e não saber quem é, onde está, muito menos o que está acontecendo parece ser um pesadelo. É este o ingrediente usado pelo britânico S.J. Watson em seu primeiro romance, Antes de Dormir (ed Record, 395 págs.). A amnésia, palavra utilizada como diagnóstico a quem perde a memória, é a ferramenta usada em uma história onde o mistério reina do começo ao fim.

Christine é uma mulher que todos os dias acorda sem saber onde está. Enquanto alguns dias ela acredita ter 25 anos, em outros momentos acorda acreditando ser uma criança. A situação vivida por ela acontece devido a um acidente que aconteceu há mais de 20 anos e que a fez não só perder a memória, como também não reter lembranças recentes. No caso de Christine, ela consegue se lembrar, à noite, de tudo que fez ao longo do dia, mas amanhã ao acordar, ela não terá lembrança de absolutamente nada do que fez.

Para conseguir entender o que está acontecendo todos os dias, Christine conta com a ajuda do marido, que a relembra de quem é e onde está todos os dias. Apesar de não se lembrar de absolutamente nada, ela precisa confiar no que o marido diz e aceitar diariamente a situação.

Mas a história de Christine muda quando ela começa a se encontrar com um jovem médico que tenta estudar a situação dela. Sob a orientação do Dr Nash, Christine começa a escrever um diário, anotando tudo que aconteceu durante o dia e o que se lembrou, para tentar preservar as informações e, ao lê-las diariamente, manter as lembranças novamente. Mas com o passar dos dias, Christine começa a perceber que está envolvida em uma grande rede de mentiras, onde seu marido parece esconder informações preciosas.

A medida que passamos a páginas, fui ficando cada vez mais desconfiada, não conseguia parar de ler. Esperava ansiosamente a próxima página para descobrir se conseguiria alguma informação que me daria a solução. Mas o autor soube montar a trama muito bem e só começamos a ter uma noção do que se passa depois de ler ¾ do livro.

À medida que o diário de Christine avança, a história começa a se parecer com uma cama de gato, onde vários sininhos são colocados na corda, mas ao contrário da brincadeira infantil, o objetivo é conseguir fazer com que o sino toque e uma lembrança apareça. É quando temos vários sinos tocando ao mesmo tempo é que o leitor consegue perceber qual o caminho de raciocínio real.

Vou ser bem honesta: o início do livro é um pouco cansativo. Em alguns momentos é repetitivo. Mas aos poucos vamos entendendo que não existia outra maneira de escrever um livro sobre uma amnésica. Christine não se lembra de nada e estamos lendo parte do diário dela, logo, é impossível não escrever a mesma coisa quase todos os dias. Se nos colocarmos no lugar dela iremos entender a situação: ela não se lembra quem é, por isso irá todos os dias escrever que não se lembrava, assim como a tristeza dela ao ler sobre seu acidente ou a morte de alguém importante. Não seria possível aceitar um livro que fosse tão cru ao ponto de ter somente as informações que o leitor deva ler, sem repetições. Isso acabaria com a condição da personagem e a obra se tornaria fraca. O autor soube usar a ferramenta da repetição de maneira formidável. Embora repetitiva em alguns momentos, escreveu o que precisava sem perder o fio condutor da história, algo bem fácil de acontecer na trama.

A história é excelente. O autor soube colocar a dose certa de suspense e criar um enredo instigante. Normalmente consigo “pegar” as ideias da história facilmente e logo entendo qual o rumo que irá tomar. Watson conseguiu me deixar tão confusa quando a personagem na maior parte do livro, o máximo que conseguir chegar foi na desconfiança, que estava certa, mas o que acontecia, e o porquê foi bem mais difícil. Agora entendo todo o burburinho que ronda as livrarias quando o assunto é este livro. Diversas pessoas têm procurado o livro e quem leu disse que adorou o livro. Concordo sem pestanejar e incluo a obra na lista das melhores que li este ano.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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