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O altar das montanhas de Minas

 

Quando falamos em Literatura Brasileira, logo aparece em nossa mente nomes de grandes escritores, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo. Como se nossa literatura estivesse estagnada em um passado de grandes clássicos e nada mais de interessante ou relevante tivesse sido produzido (ou está sendo) depois disso. Não que os clássicos não devam ser lidos, relidos e ensinados. Mas é importante voltarmos nossas atenções para a literatura contemporânea.

Foi com esse pensamento que comecei a ler “O altar das montanhas de Minas”, de Jaime Prado Gouvêa, publicado pela Editora Record. Sendo fã e leitora dos clássicos, minha vontade atualmente é de conhecer obras recentes da Literatura Brasileira. O enredo do livro logo me chamou a atenção. Trata-se da história de Dirceu Dumont, um jornalista e escritor que tenta reconstruir a história de Garreto, também jornalista e escritor, que lá pelos anos 60 da cidade de Belo Horizonte, possivelmente teve uma vida misteriosa e secreta com sua amante, Marília.

Mas o período em que vive Dumont é outro. É um período em que os sonhos e as lutas de toda uma geração haviam ficado para trás, entre as torturas e perseguições da ditadura militar. Dumont vê seus colegas de profissão, conhecidos e ele próprio aceitando situações e agindo de maneiras que há pouco tempo não o fariam, e ainda seriam demitidos e ameaçados por isso. Um antigo amigo seu, Rezende, parece ser o personagem que melhor exemplifica essa mudança, que para Dumont “é muito coerente”, como afirma repetidas vezes.

Na busca por informações sobre Garreto, Dumont se envolve com Bárbara, uma mulher atraente e problemática, que mudará a história de Dirceu Dumont e, consequentemente, de Garreto, já que ela seria construída pelo primeiro. Sendo obrigado a entregar seus bens para o traficante Cobra – também dono do jornal onde seu amigo Rezende trabalha – e a se mudar para Ouro Preto, Dumont vê-se preso à própria história de Garreto, que se torna sua única busca na vida.

“O altar das montanhas de Minas” foi escrito com muitas referências e analogias a outros livros, poetas, escritores e filmes. Aliás, o próprio livro parece um filme, com seu enredo e as constantes trocas de cenas. Isso torna a leitura bastante agradável. Por outro lado, o excesso de referências, em certos momentos, faz com que nos percamos entre elas. O livro ainda traz uma bela imagem das “montanhas de Minas”, em Belo Horizonte e Outro Preto. Quando Dumont anda pelas ruas dessas cidades, parece mostrar ao mesmo tempo todo o peso da História. Mas não é uma imagem sacra, como a do hino que dá título ao livro e se faz presente na história o tempo todo. “Sobre o altar das montanhas de Minas / Brilha a hóstia, mais fúlgido sol!”, mas também contempla os boêmios, os encontros – eróticos ou românticos – e guarda histórias como as de Garreto e as de Dumont.

 

 

O altar das montanhas de Minas

Autor: Jaime Prado Gouvêa

Gênero: Romance Brasileiro

Páginas: 208

Editora Record

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