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Dupla Falta

A escritora Lionel Shriver já conquistou vários leitores com seus livros no Brasil e ao redor do mundo. Sou honesta ao afirmar que nunca havia lido nada dela, embora estivesse curiosíssima para fazer. Decidi começar com seu último lançamento Dupla Falta (Ed Intrínseca), e não e me arrependi.

O título do livro pode deixar o leitor confuso quando este não sabe muito sobre o tênis, mas medida que a leitura avança vamos percebendo que o nome é bem sugestivo. Para esclarecer: dupla falta é um jargão do tênis onde o tenista erra dois saques consecutivos (um erro, uma falta, dois erros, duas faltas). Quando isso acontece o oponente ganha 01 ponto.

Dupla Falta conta uma história de amor entre dois tenistas profissionais no início da década de 90. Willy ama o esporte desde criança e sempre teve o tênis como o centro de sua vida. Já Eric nunca amou nada por muito tempo, mas ao decidir algo, luta até alcançar o sucesso desejado.

Ao mesmo tempo que Eric e Willy tem o tênis em comum, têm também muitas diferenças: Willy é tenista por amor e vive seu trabalho à flor da pele. Wiily não sabe como é viver sem jogar tênis, o esporte é sua vida e esse amor a impulsionou a estar na 437ª posição do ranking de tenistas. Já Eric não se importa muito com o tênis e já possui diversos planos caso sua carreira com o tênis não dê certo. Eric começou a jogar a poucos anos e por isso sua posição está bem longe da de Willy. Apesar de tantas diferenças, Os dois se apaixonam e, apesar de algumas pessoas serem contra, Eric e Willy decidem se casar.

A vida a dois vai muito bem até que Eric começa a acumular pontos e chegar a uma posição próxima a da esposa. O medo de se tornar um segundo plano, de ser um fracasso ao ver o marido se ascender, é demais para Willy e começa a trazer problemas para o casamento.

Ao mesmo tempo que luta pelo casamento, Willy precisa lutar contra ela mesma para se manter no ranking e mostrar sua capacidade a ela e a todos em volta. Willy acredita que é egoísta com o marido, mas não sabe como mudar para melhorar a situação sem perder seu espaço. O desejo de ser uma estrela e ser esposa sempre se chocam e ela tenta buscar uma solução.

O livro me surpreendeu pela narrativa de Shriver. Não falamos de uma história amor qualquer, mas sim da postura que cada um adota no casamento e a influência que a sociedade tem na visão pessoal de cada um, onde lidamos com uma sociedade machista e mulheres que lutam por sua individualidade.

A autora nos mostra que, apesar da história ser fictícia, ainda lidamos com uma sociedade onde a mulher deve ser a sombra do homem. Percebi isso na página 253 do livro, quando é mencionado uma matéria sobre a Hillary Clinton, então primeira dama dos EUA. Embora a passagem seja curta e pareça ser só um complemento de cena, notei que a esposa do ex-presidente americano já havia sido citada anteriormente. Foi aí que notei que Shriver escreve com singularidade e muita discrição exemplos que fundamentam seu texto.

Mas o auge do livro é o final. É bem provável que não seja o final que se espera, mas a medida que a leitura avança, a autora convence o leitor a desejar esse final, a querer que a história seja daquela maneira. Conseguir persuadir o leitor a isso é algo que raros autores conseguem, e Lionel Shriver o faz com maestria.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

One thought on “Dupla Falta

  1. Comecei a ler Shriver por “Precisamos falar sobre Kevin”, que é MUITO bom. e “o mundo pós-aniversário”, na minha opinião, é o melhor entre esses e ‘dupla falta’. se você gostou, recomendo a leitura desses dois!

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