Antes de qualquer parágrafo escrito aqui, é preciso deixar claro que Celso Furtado foi um dos poucos pensadores a entender profundamente o Brasil. O economista nascido na Paraíba, em 1920, teve seu pensamento e atividade intelectual marcados por perguntas que até hoje ficam sem resposta. A lista onde figura Celso Furtado é pequena, nomes de brasileiros que se debruçaram sobre a questão social no Brasil e dedicaram a vida a elaborar respostas para a desigualdade que arrasa o país.
Filho do sertão paraibano, mais precisamente da cidade de Pombal, centrou seu pensamento na compreensão do Brasil a partir das diferenças que existem até hoje. Para Celso Furtado, enquanto há uma camada abastada e acostumada ao luxo, muitas pessoas convivem com a falta de itens básicos como água e educação.
Se a trajetória de Furtado mudou o Brasil, houve um momento de ruptura na vida do jovem advogado formado na Faculdade Nacional de Direito (hoje parte da UFRJ) e técnico em administração do estado do Rio de Janeiro. O ponto de virada veio quando Celso Furtado foi para o front na Itália e como muitos personagens do século XX teve a vida e a obra transformadas pela proximidade com a guerra.
Após a passagem pela Itália e França, como responsável por “dirigir comboios” na FEB, nos últimos anos da Segunda Guerra, Furtado começa uma nova parte da sua formação acadêmica e que mudaria a tradição do pensamento econômico do Brasil.. A decisão foi começar o doutorado em economia na França, o que transformaria sua carreira.
Saído da Paraíba, formado no Rio de Janeiro e economista validado em Paris, com essa bagagem intelectual Furtado leva para o campo do desenvolvimento social novas teorias e hipóteses para o Brasil. Para tentar explicar o economista, é preciso entender a visão de Celso Furtado sobre o Brasil e suas desigualdades econômicas. Furtado entendia o processo de desenvolvimento social não como um processo somente de crescimento econômico e acumulação de capital. Segundo sua teoria, o desenvolvimento econômico só é possível se um país passa por mudanças estruturais. Sem mudança no campo social, não é possível ter crescimento econômico.
De acordo com a obra do economista paraibano, a desigualdade não pode ser explicada de forma isolada e deve ser entendida a partir da análise de fatos históricos. É importante no pensamento de Furtado o papel do Brasil e sua dinâmica com a economia de outros países, sobretudo, com os Estados Unidos e com países desenvolvidos economicamente da Europa. A relação entre esses atores econômicos com o Brasil e com a riqueza gerada por brasileiros mostrava-se problemática porque a riqueza gerada não ficava no país.
O cerne dos estudos de Celso Furtado se explica pela questão de que não há desenvolvimento social enquanto o trabalho serve para riqueza de outros países. A mesma discordância entre trabalho e desenvolvimento econômico, segundo Furtado, acontecia em outros países da América Latina. Com este pensamento que questionava a formação de riqueza e melhoria da qualidade de vida para trabalhadores e trabalhadoras, Celso Furtado passa a ser respeitado como intelectual capaz de aliar – e discutir – macroeconomia e desigualdade social.
De acordo com o pensamento de Furtado para explicar países “subdesenvolvidos”, é que estes sofriam com problemas políticos. O planejamento econômico era incapaz de contornar uma situação estrutural onde não havia vontade política para a mudança da desigualdade social.
Furtado apontava dois eixos para superação do subdesenvolvimento: um Estado comprometido com o povo é um processo de industrialização acelerado A combinação desses fatores seria capaz de uma transformação estrutural que tiraria o país da condição de exportador de produtos primários.
Em resumo, somente a industrialização seria capaz de tirar o país da condição de refém das trocas desiguais do mercado interno ou dos ciclos econômicos. O processo para diminuição da desigualdade social, de acordo com Celso Furtado, precisa ser liderado pelo Estado.
Em sua obra principal, publicada em 1959, “Formação Econômica do Brasil” Furtado descreve a evolução da economia brasileira comparando-a com o funcionamento da América Latina. A análise é feita a partir da estrutura produtiva de cada período histórico do Brasil.
O pensamento de Furtado cria gerações de intelectuais comprometidos com a relação entre desenvolvimento social e planejamento econômico. No livro “Em busca de um novo modelo”, Celso Furtado afirma que para conseguir sair da condição de subdesenvolvido é preciso escapar “obsessão daqueles que se auto intitulam desenvolvidos, é assumir a própria identidade na crise de civilização que vivemos”
O discurso e pensamento de Celso Furtado ainda são sobre esperança e inspiram intelectuais e pesquisadores até hoje. Quer saber mais? Busque informações em: www.centrocelsofurtado.org.br