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Elis Regina: a Pimenta da Música Brasileira

Um dos maiores nomes da música popular brasileira, Elis também era conhecida como alguém com forte personalidade, que defendia seus ideiais

 

Durante a última turnê de Milton Nascimento pelos palcos do Brasil, depois de “Canção do sal”, o cantor destaca “essa é para o amor da minha vida: Elis Regina”. O público aplaude e concorda. Até hoje o país demonstra amor de sobra pela cantora nascida em Porto Alegre. Se estivesse viva, Elis estaria com 77 anos, mas a cantora partiu cedo em 1982. 

Apesar de ter se despedido de seus fãs ainda jovem, a “Pimentinha” marcou para sempre a música brasileira. Ela gravou 18 álbuns de estúdio e seis ao vivo, além de participações em festivais televisionados e programas de TV. Foi um furacão que passou para encantar e deixar saudade. 

 

A Musa da MPB: como a cantora mudou a música no Brasil

Elis é sempre lembrada nas listas de melhores intérpretes da MPB. Geralmente, aparece como a melhor cantora da história da música brasileira para críticos e fãs. A carreira durou menos de duas décadas, mas Elis mudou o panorama da música. Além de cantora com técnica avançada, carisma e sensibilidade, a filha de Romeu Costa e Ercy Carvalho reconhecia, antes de todos, talentos musicais únicos. Nomes gigantes como Aldir Blanc, João Bosco, Milton Nascimento, Edu Lobo, Fagner, Ivan Lins, Renato Teixeira e Belchior, ganharam projeção nacional depois de suas composições serem interpretadas por Elis. 

Segundo João Bosco, as versões de suas músicas feitas nas décadas de 1960 e 1970 pela cantora são definitivas. Para pôr a prova a declaração do cantor e compositor carioca, vale ouvir as versões de Elis Regina para “Transversal do Tempo” e “Rancho da Goiabada”, ambas lançadas 1978, “Bala com Bala” de 1972 entre outras composições da dupla Bosco e Blanc. 

 

Elis Regina: uma voz entre grandes artistas

Conhecida e respeitada entre seus colegas músicos, Elis tem episódios importantes como “voz e representante” da classe artística durante os anos de maior sucesso de sua carreira. É famoso o episódio em que a cantora foi visitar Rita Lee na prisão. A voz feminina dos Mutantes, que havia sido presa por porte de drogas, estava grávida de seu primeiro filho em 1976. Na prisão do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) em São Paulo, Rita recebeu a visita de Elis Regina. Segundo recordou Rita numa live que foi ao ar em 2020, o carcereiro falou: “Ô, Ovelha Negra, tem uma cantora famosa rodando a baiana, dizendo que vai chamar a imprensa. Ela quer te ver”. 

Então, de mãe para outra mãe as duas começaram uma amizade inesperada durante o episódio. Elis mostrou apoio e até ameaçou chamar a imprensa, caso Rita não recebesse tratamento médico. Dessa forma, surgiu uma amizade entre grandes musas da cultura brasileira que é relembrada até hoje. Maria Rita, filha da Pimentinha, afirmou sobre a xará: “é, gente. Minha mãe é foda. E tia Rita, também. Que amizade foda!!” 

 

 

A personalidade militante da cantora

Elis foi grande defensora dos direitos autorais no meio musical, além de apoiar novos compositores. Ela criou a Associação de Músicos e Intérpretes (ASSIM) em 1978, porque

acreditava que era preciso resguardar os direitos de músicos, instrumentistas, intérpretes e músicos de apoio. 

Durante sua trajetória, Elis Regina teve papel importante como voz de resistência durante a ditadura, sua gravação para “O Bêbado e o Equilibrista” (Bosco/Blanc) é vista como marco da anistia aos perseguidos pelo regime militar. Entretanto, Elis não teve apoio do público e de alguns artistas quando, durante a ditadura militar, foi forçada a se apresentar nas Olimpíadas do Exército. Logo depois, Elis enfrentou vaias por causa do episódio. 

A vida pessoal do furacão Elis

Filha de um funcionário público e de uma lavadeira, a Pimentinha – apelido dado por Vinícius de Moraes – teve seu talento reconhecido desde os onze anos, já que na época cantava na Rádio Farroupilha (RS). A personalidade explosiva e apaixonante da cantora formou uma fila de namorados famosos de Guilherme Arantes a Fábio Júnior. Mas Elis se casou duas vezes. 

Do casamento com Ronaldo Bôscoli, nasceu João Marcelo Bôscoli, em 1970. Do segundo casamento, nasceram Pedro Mariano e Maria Rita. 

A cantora morreu aos 36 anos vítima de uma parada cardíaca em seu apartamento em São Paulo. O cortejo fúnebre mobilizou uma multidão comovida pela partida precoce da maior cantora do Brasil. Jornais da época afirmaram que cerca de 60 mil pessoas acompanharam o caixão de Elis.

Certamente, entre suas contemporâneas, Elis foi a que soube, apesar da carreira meteórica, trabalhar a estética de seu tempo e transformá-la, ainda sim, foi a artista que mais conseguiu se reinventar e marcar seu nome, para sempre, na memória cultural do país. 

 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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