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A Idade das Luzes e o Berço do Feminismo

O centro do pensamento feminista, em todas as suas fases, é a busca pela transformação das regras sociais e culturais dominantes. Regras sociais que excluem os direitos das mulheres. O feminismo, no decorrer da história, pretende dar novo sentido para a realidade e para os direitos individuais. A questão parece simples, mas os avanços provam que não é tão descomplicado quanto parece. No decorrer da história, do Iluminismo ao mundo contemporâneo, a luta feminista continua a busca por direitos iguais.  

O feminismo tem seu norte na busca incansável pela igualdade entre homens e mulheres, entretanto o que hoje é ideia consolidada, no século XVIII, era só um projeto em meio à era das luzes, da razão e do esclarecimento. 

 

O feminismo e a luta constante pela igualdade

Com o passar dos séculos, os questionamentos e desejo de ressignificar a figura feminina ganha novas nuances, a visão feminista se atualiza a cada momento na procura por soluções de conflitos. Certamente, os direitos humanos são filhos de sua época, não são estáticos e vivem em transformação. O mesmo acontece com o feminismo.

No berço do feminismo as reivindicações eram pela educação das mulheres, direito ao voto, igualdade no casamento e direito de herança. As ideias iluministas abriram caminho para os primeiros movimentos de contestação pela igualdade para mulheres.  É nesse cenário de pensamento voltado para a razão que figuras femininas importantes publicam suas obras e entram para a história como fundadoras do feminismo. 

 

Mary Wollstonecraft: o início do pensamento feminista

As ideias iluministas inspiraram a Revolução Francesa sobretudo no pensamento de crítica à nobreza e ao clero. O Iluminismo ou Idade do Esclarecimento é sobretudo um movimento que preza pela igualdade entre as pessoas. Nesse cenário, no século XVIII, nasce no ano de 1759, em Londres, Mary Wollstonecraft. Hoje, a pensadora e escritora é considerada fundadora do feminismo. 

Desde suas primeiras obras em jornais locais, Wollstonecraft chama atenção para a existência feminina como ferramenta do ambiente doméstico, que as mulheres viviam sem escolarização formal  e sem autonomia ou direitos. Em 1792, Wollstonecraft publicou sua obra mais importante, a “Reivindicação dos Direitos da Mulher”. 

O texto é direcionado aos pensadores e filósofos Jean-Jacques Rousseau, John Milton, John Gregory, Alexander Pope, Thomas Day, David Hume e Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord. A “Reivindicação dos Direitos da Mulher” é a resposta de Wollstonecraft à Carta Constitucional francesa. O documento divulgado em 1791, trata dos direitos individuais e dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Apesar do impacto da Carta Constitucional, não há direcionamento de direitos para as mulheres. Não existe no manifesto a inclusão das mulheres como cidadãs.

 

 As ideias iluministas na Reivindicação dos Direitos da Mulher

Wollstonecraft, em sua obra prima, contesta o lugar inferior dado às mulheres pelos pensadores da Revolução Francesa. É preciso entender que a produção sistemática de Wollstonecraft é só a semente do que hoje conhecemos como ideias feministas, afinal, há ideias controversas e embrionárias, mas que servem como registro histórico do começo do feminismo. 

Porém, é inegável que existe contestação no pensamento da inglesa. Na primeira metade do século XIX, Reivindicação dos direitos da mulher de Wollstonecraft a tradução feita para o português é tão livre que pode ser considerada uma nova obra, mas, marca o início da reflexão feminista no Brasil. 

 

Olympe de Gouges: na vanguarda pelos direitos das mulheres

Na Idade das Luzes, o preceito fundamental era refutar as ideias folclóricas, os mitos, os conhecimentos sem base científica, ou seja, o cidadão deve agir conforme a razão. Mas a mulher, mesmo nesse caldeirão de ideias iluministas, continuava sem autonomia financeira ou social, era criatura feita para o casamento e sem direito à educação formal. Além de Wollstonecraft, outras personalidades contestadoras das ideias iluministas que se negavam a incluir as mulheres escreveram seu nome na história do feminismo. 

Assim como Wollstonecraft, Olympe de Gouges atuava a favor das mulheres na Paris de Maria Antonieta e Luís XVI.  A produção de Olympe, nascida em 1748, dramaturga, encontrou nas peças que escrevia espaço para contestar a ausência dos direitos das mulheres na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, documento símbolo da Revolução Francesa.

Olympe escrevia panfletos e cartazes e assim conseguia difundir suas ideias pelas ruas de Paris. Nos seus textos ou nos seus trabalhos à frente de um grupo de teatro formado por mulheres, Olympe falava sobre a emancipação das mulheres, a instituição do divórcio e o fim da escravatura.

 

Panfletos, teatro e  guilhotina: produção pelos direitos das mulheres

Em um de seus panfletos que entraram para a história, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, Olympe conclamava à ação: “Ó mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?” que fazia alusão à ausência das mulheres nos manifestos da Revolução Francesa. 

No decorrer da revolução que derrubou a monarquia francesa, Olympe não escondeu sua produção que defendia os direitos das mulheres nem sua discordância com os abusos do Terror de Robespierre e Marat. Sem direito a um julgamento, Olympe de Gouges foi condenada à morte na guilhotina. Antes de sua execução, citando um de seus panfletos disse: “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna”. 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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