Como parte do Projeto “Memórias e Escrevivência”, livro faz uma imersão no conceito-experiência criado pela autora, reunindo o olhar de especialistas em literatura, educação, comunicação e escritores da literatura negra contemporânea
“Escrevivência: a escrita de nós – Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo” é uma publicação que se propõe a trazer novos olhares para a Escrevivência de Conceição Evaristo, autora de Ponciá Vicêncio, Becos da Memória, Olhos D’Água, dentre outros. O livro – organizado por Isabella Rosado Nunes, diretora da MINA Comunicação e Arte, e Constância Lima Duarte, professora de pós-graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Minas Gerais –, reúne especialistas em literatura, educação, comunicação e escritores da literatura negra contemporânea, que refletem sobre o conceito criado pela autora mineira há 25 anos. A publicação foi lançada durante o seminário virtual “A Escrevivência de Conceição Evaristo”, ocorrido nos dias 11 e 12 de novembro, no canal do Itaú Social no YouTube.
Com 15 capítulos, a obra apresenta ensaios e opiniões em cinco dimensões: histórica, teórica, crítica, autobiográfica e relacionada ao letramento literário que a Escrevivência propicia. “Pesquisar e estudar a Escrevivência de Conceição Evaristo nos permite compreender uma complexidade que se expressa nos espaços literário, político e histórico. É ato de defesa de direitos, de formação. É acreditar que toda pessoa tem algo para compartilhar; e que, ao registrar ou publicar, promove sentidos, reconhecimentos e uma compreensão de vida livre e ampla, essencial para que se conheça e se respeite uma sociedade tão diversa”, explica Isabella Rosado Nunes.
Iniciativa do Itaú Social em parceria com a MINA Comunicação e Arte, o livro é um dos resultados do “Projeto Oficina de Autores – Memórias e Escrevivência de Conceição Evaristo”, que apoia o desenvolvimento teórico do conceito-experiência e estimula a aproximação de pessoas à leitura e à escrita como direito. De 2018 a 2020, o programa Prazer em Ler levou o projeto para as redes de bibliotecas comunitárias associadas à RNBC (Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias) nas cidades de Belém (PA), Recife (PE), São Luís (MA), Salvador (BA), Duque de Caxias, Nova Iguaçu (RJ), São Paulo e, virtualmente, para as redes de bibliotecas de Belo Horizonte, Sabará (MG), Paraty (RJ) e Fortaleza (CE). Nestas oportunidades, Conceição ministrou oficinas para mediadores de leitura, bibliotecárias, professores, educadores e jovens. Debateu sobre a importância da leitura e da escrita como possibilidades de dar voz aos mais variados grupos sociais.
O livro inicia com o capítulo “A Escrevivência e seus subtextos”, que traz um depoimento inédito de Conceição, descrevendo o surgimento da narrativa e como ela vem influenciando a escrita das mulheres negras, assim como o estudo da literatura nas universidades. Conceição fala ainda sobre a identificação a partir do ponto de vista da etnia e do gênero. Outro momento marcante da obra é o texto “Da grafia-desenho e Minha Mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita”, um registro simbólico de criação da Escrevivência, apresentado pela primeira vez em 1995, durante o VI Seminário Mulher e Literatura, organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre os artigos, a “Escrevivência em Conceição Evaristo: armazenamento e circulação dos saberes silenciados”, de Rosane Borges, jornalista e doutora em ciências da comunicação, defende a Escrevivência como princípio conceitual-metodológico potente para suportar as narrativas dos excluídos, já que considera as várias matrizes de linguagem para construir uma história.
Fernanda Felisberto, doutora em literatura comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no artigo “Escrevivência como rota de escrita acadêmica”, apresenta o termo como operador teórico para jovens estudantes negras. Além disso, a designer e artista plástica Goya Lopes realiza uma intervenção artística na literatura de Conceição a partir de sua arte afro-brasileira.
A obra traz ainda ensaios relacionados à educação, assinados pela superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, e coordenadora de Engajamento Social e Leitura da instituição, Dianne Melo, além de artigos inéditos de Assunção de Maria Sousa e Silva, Denise Carrascosa, Eduardo de Assis Duarte, Islene Motta, Lívia Natália, Ludmilla Lis, Maria Aparecida Salgueiro e Maria Nazareth Fonseca.
“O conceito da Escrevivência deve ser universalizado para que todos possam, sem distinção de raça ou condição socioeconômica, se apoderar da linguagem escrita e dos mecanismos culturais e sociais de que necessitam para serem cidadãos atuantes nessa sociedade em constante transformação”, ressalta Angela Dannemann.
O livro poderá ser acessado até o dia 30 de novembro, gratuitamente, por todos que assistirem ao vídeo do seminário, que está disponível na íntegra no canal do Itaú Social no YouTube (www.youtube.com/