Comunismo é, em termos gerais, um pensamento político que prima pela supremacia dos interesses e relações coletivas. Dessa forma, e em termos modernos, valoriza-se o direito comum em detrimento do direito privado.
Ao se falar em comunismo, de forma geral, incorre-se no desafio de agregar um pensamento que teve várias fases e desenvolvimentos históricos. De início, tem-se o ideal comunista verificado na República de Platão, onde tem-se a supressão da propriedade privada e tentativa de impedir que as pessoas formem famílias e núcleos sociais que desenvolvam interesses diferentes daquilo que seria o interesse coletivo geral.
Posteriormente, temos a Ilha de Utopia (1516), de Thomas More. Essa imagem criada por More critica o avanço das novas formas econômicas – transição entre feudalismo e o capitalismo – que segundo o autor prejudicariam a prosperidade e justiça. Nessa ilha imaginária todas as pessoas trabalham e recebem igualmente de um fundo comum. O Estado organiza toda a vida e ninguém tem interesse em acumular e concentrar riqueza, uma vez que todos estão satisfeitos e felizes.
Obviamente, essa imagem idealista nunca se tornou realidade, mas carrega o princípio fundamental do comunismo que é a sobrevalência dos interesses comuns ou coletivos sobre os interesses individuais. Todas as formulações posteriores partem desse princípio. Karl Marx, filósofo e economista alemão, foi sem dúvida um dos personagens históricos mais importantes na construção mais racional do que viria a ser o comunismo real. Seus estudos sobre o funcionamento do capitalismo e seu envolvimento político com o movimento comunista de sua época foram determinantes para o que se desdobrou como comunismo real, sobretudo na União Soviética e em outros locais no século XX.
Karl Marx
Marx defendia a tese de que a forma como se se organiza materialmente a vida determina a toda a organização e estrutura social e política da sociedade. Esse materialismo de Marx é um avanço, visto a residual influência do pensamento metafísico na explicação dos fenômenos humanos e naturais. Outro ponto defendido por Marx é que a história é dinâmica e que as contradições produzidas pelo capitalismo seriam tão severas que produziriam um novo momento social onde se reorganizaria as condições materiais, dando origem ao comunismo. O marxismo teve e ainda tem inúmeras variações e foi marcado por personagens históricos subsequentes como Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung e muitos outros.
Destacam-se duas críticas sociológicas fundamentais à proposta comunista e ao pensamento de Marx. A primeira é de que o processo de diferenciação social, de individuação fortemente presente na sociedade moderna não é um processo escolhido, ou agenciado, ele é histórico e estrutural. As formas de organização mais individualizada como família, grupos, bandos, entre outros são constitutivos da nossa história evolutiva natural e social.
Dessa forma, a não ser que se tenha uma nova espécie humana, a humanidade atual tem características que levam à construção de interesses individuais e grupais. Não existe precedente histórico de eliminação dos interesses dos grupos em prol de interesses coletivos, o que existe são formas mais ou menos intensas de coletividade. Em sociedades com alta densidade demográfica isso é inexistente e há sempre possibilidade de formação de interesses, como aconteceu na própria União Soviética, onde os interesses dos líderes estatais e de suas famílias acabaram por se sobrepor aos da coletividade.
Capitalismo
O capitalismo vigorou na modernidade porque foi capaz de criar um ambiente de flexibilização e regulação do conflito social. Aqui aplica-se a metáfora de um jogo, que permite que os indivíduos sigam seus interesses, vontades e anseios, mas com regras e princípios que garantam a manutenção do jogo.
O segundo ponto é que, como desenvolver Max Weber, a vida social e política não é estruturada apenas pelas condições materiais, mas por estruturas não materiais como as ideias, a cultura e todo o universo simbólico que também organiza as relações humanas. Em Weber, a estruturação social ganha complexidade, originando um conceito de classe social que não identifica os indivíduos apenas pela sua posição nas relações de produção e trabalho (burgueses ou proletariados), mas também por crenças, posicionamentos políticos, e, também, condições materiais.
O socialismo hoje, sobretudo a socialdemocracia, configura-se como uma terceira via que reconhece a inviabilidade estrutural do comunismo, mas que, ao mesmo tempo, critica e tensiona característica do capitalismo que precisam ser ajustadas e controladas, como a produção e reprodução das desigualdades sociais. Além disso, cresce a percepção sobre os limites ambientais do sistema capitalista, o que nos leva ao debate de que ambos, capitalismo e comunismo, faliram quanto propostas e sistemas socioeconômicos. Um novo sistema, equilibrado e complexo socialmente e sustentável ambientalmente coloca-se como agenda para a humanidade, mesmo que o agenciamento de um processo tão extenso seja um enorme desafio.
Referências/Para saber mais:
BOBBIO, Noberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, GIANFRANCO. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. v. 1.
MORE, Thomas. Utopia. Grandes obras do pensamento universal, v. 9. São Paulo: Escala, 2005.