Os séculos XVII, XVIII e XIX foram palcos de grandes acontecimentos históricos e mudanças. Foi nesse período que se desenvolve a máquina a vapor, dando início à Revolução Industrial. Foi o período de expansão colonial, mas também de revoltas e processos de independências. As cidades e comércios crescem, novas profissões e atividades laborais surgem. Período em que a impressa se consolida, em que as monarquias começam a ser questionadas. Constituição dos EUA é promulgada em 1787, Revolução Francesa em 1789, várias Repúblicas surgem.
No campo da ciência temos a física se desenvolvendo, a Origem das Espécies é publicada por Charles Darwin em 1859, a biologia e a medicina avançam exponencialmente.
Diante dessas mudanças muitos começam a se questionar sobre tais processos. Sobre como é possível as pessoas se organizarem em sociedade, sobre fenômenos como a violência, reflexões sobre toda a efervescência política, sobre as diferenças culturais mundo a fora, sobre como seria a sociedade ideal, entre muitos outros questionamentos.
Surgem várias narrativas, muitas de cunho religioso, para tentar dar conta desses questionamentos. No entanto, com o avanço da razão e da ciência, surge um conjunto de intelectuais e cientistas que buscam analisar e explicar tais fenômenos sociais de forma científica.
Muitos se debruçaram em tentar compreender a sociedade dessa época. Intelectuais como Herbert Spencer, tentou explicar as atividades humanas e organização social aplicando as leis da evolução desenvolvidas por Darwin para o mundo biológico. Auguste Comte, filósofo positivista, criador do termo sociologia, pensava o mundo de forma racional, buscando organizar forçosamente a sociedade.
É com Émile Durkheim que a sociologia se formaliza como ciência, passando de fato a ser reconhecida como conhecimento científico. Durkheim foi inicialmente professor de pedagogia da Universidade de Paris, e foi quem criou as primeiras disciplinas de sociologia.
Durkheim defendia que a sociedade se constitui de uma segunda natureza, com regras e estruturas próprias, não se limitando as regras do mundo físico e biológico. A partir daí muitos outros cientistas passam a se dedicar à vida em sociedade. Destacam-se como clássicos também, Max Weber e Karl Marx, juntos, os três são considerados os fundadores dessa ciência caçula chamada sociologia.
Junto com a Ciência Política e a Antropologia, a Sociologia forma o grupo das Ciências Sociais. Áreas da ciência que se dedicam a estudar as relações humanas, seus processos de coesão e conflitos, seus conteúdos culturais e ações políticas.
Como uma ciência, a sociologia desenvolve teorias e busca evidências, por meio de metodologias próprias, para compreender e explicar a sociedade e as pessoas em suas relações. Por causa de sua abstração e dificuldade metodológica, a sociologia parecer ser algo incompreensível e os sociólogos e sociólogas são considerados(as) difíceis de entender.
Mítico e real
Como toda ciência, a sociologia auxilia na compreensão da realidade, no seu caso, da realidade social. No entanto, diferentemente de outras ciências a sociologia tem a nós mesmos como local de estudo. Nossas relações, crenças, discursos, práticas é que são os objetos de estudo. Isso desafia a sociologia a estar sempre analisando, desnaturalizando e desconstruindo uma realidade em que vivemos cotidianamente e sobre a qual não paramos para pensar corriqueiramente.
Antes do surgimento das ciências humanas em geral, havia o domínio de um senso comum que “explicava” a vida social, inúmeras vezes explicações carregadas de preconceitos. Podemos citar alguns exemplos práticos: Por muito tempo atribui-se a prática de crimes aos “desvios espirituais” ou às doenças mentais. Diante disso, por muito tempo praticou-se penas absurdas, como pena de morte e/ou torturas como forma de se “pagar” pelo crime.
Com os estudos na área da violência e segurança pública sabe-se que a violência é um fenômeno social, influenciada por variáveis como a pobreza, educação, coesão social, acesso a oportunidades no âmbito da economia e cultura. Excetuando os casos de crimes por doenças mentais (que são poucos) a maioria dos crimes são influenciados por questões sociais.
Nos EUA, por exemplo, a sociologia foi importante no entendimento sobre o comportamento dos serials killers. Também auxiliou na construção de políticas públicas efetivas de segurança, fazendo com que boa parte do mundo desenvolvido hoje tenha baixíssimas taxas de crimes. O campo da sociologia da violência é um dos mais importantes hoje na sociologia.
Em meados do século passado acreditava-se que a educação pública seria capaz de criar mobilidade social. Principalmente nos EUA e na Europa, tinha-se um anseio por igualdade de oportunidades. A oferta da educação foi universalizada, praticamente todas as crianças e adolescentes já estavam estudando, mas a mobilidade social não acontecia.
Estudos em sociologia da educação da época mostraram que as desigualdades sociais podem até ser reafirmadas na escola. Isso porque os alunos levam das suas famílias algumas capacidades importantes no processo de aprendizagem, como o domínio linguístico, capacidade de concentração, entre outros. As crianças de diferentes classes sociais chegavam na escola com diferenças marcantes, as menos privilegiadas apresentavam menor desempenho e acabavam por não avançar nos anos da escolarização.
Essa compreensão desenvolvida pela sociologia foi crucial para ajustes importantes na política educacional desses países, criando políticas compensatórias. No Brasil, além dessa problemática, há outras questões que passam desde o financiamento à formação de professores, o que reflete um problema político maior.
A sociologia e demais ciências humanas também contribuíram para uma compreensão racional sobre o gênero e a sexualidade. A homossexualidade, por exemplo, considerada pecado pela religião e desvio social pelo senso comum, é hoje compreendida como mais uma das versões da normalidade. Os estudos sobre sexualidade mostram que há uma variedade de comportamentos sexuais entre as pessoas e isso não constitui desvio ou doença. Sabe-se também que o gênero é socialmente construído e que, portanto, não se pode limitar a binarismos, seja biológico ou de outra ordem.
Desenvolvimento do saber Sociológico no Brasil
No Brasil a sociologia começa a se desenvolver na década de 1930, ainda de forma inicial, de maneira não profissional. Nesse período era praticada por intelectuais que tinham contato com a ciência no exterior e traziam reflexões para o Brasil. É apenas a partir de 1950 e 1960 que a sociologia inicia um processo de profissionalização no Brasil.
Acadêmicos e cientistas começam a ser formados exclusivamente para a sociologia, seguindo uma carreira que culminou na formação de uma grande geração de sociólogos e sociólogas. Nesse rol encontramos Florestan Fernandes, Gabriel Cohn, Alba Zaluar, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Antonio Candido, Marina Marconi, entre muitos outros.
Hoje a atuação da sociologia centra-se nas instituições de ensino, seja em universidades, como também em escolas. Também temos sociólogos trabalhando em institutos de pesquisa e em empresas públicas e privadas. Sociologia das corporações, sociologia da cultura empresarial são alguns campos sociológicos que estudam, por exemplo, como é o ambiente corporativo das empresas ou sobre como os clientes e a população em geral percebe uma determinada empresa, suas ações de responsabilidade social, entre outros assuntos.
Muitos núcleos de estudos socioeconômicos para desenvolvimento de obras públicas e ações de impacto, também contam com sociólogos em suas equipes para pesquisas locais. Em geral o sociólogo trabalha pesquisando, produzindo dados e informações sobre as realidades sociais. Junto com outros profissionais, como assistentes sociais, pedagogos(as), entre outros, conseguem produzir influências e gerar impacto social.
Referência/Para saber mais:
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2011.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: EDIPRO, 2012.
GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan. Teoria social hoje. São Paulo: UNESP, 1999.