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Lucrécio: De Epicuro a Virginia Woolf

Como seriam os homens se a fé nunca tivesse existido? Conheça o autor do poema “Sobre a Natureza das Coisas” que refletiu sobre isso e muito mais.

 

Vida de Lucrécio

De forma um pouco incerta, pela escassez de registros, acredita-se que o filósofo Tito Lucrécio Caro nasceu em 99 ou 98 a.C – quase um século antes de Cristo. Como seu nome sugere, pertencia à gente Lucrécio, um importante grupo aristocrático da República Romana. O poeta ficou conhecido pela sua obra-prima “Sobre a Natureza das Coisas” (o De Rerum Natura), publicada postumamente pelo filósofo também romano Cícero, e se suicidou aos 44 anos de idade depois de anos de crises de loucura.

 

Obra-prima 

A obra mais conhecida de Lucrécio se trata basicamente da primeira menção ao Epicurismo, a doutrina filosófica que prioriza prazeres moderados, limita o desejo e busca a libertação do medo. A sociedade da época estava razoavelmente satisfeita, do ponto de vista material. O conforto financeiro tornava a vida vazia. A obra foi então escrita no formato de seis livros com metáforas, princípios científicos e também com marcas da filosofia de Demócrito. 

Para Lucrécio, a alma não é imortal. Ela se pode virar um simulacro, um fantasma. Mas além dessas ideias mais abstratas, Lucrécio mencionou no livro sobre a existência de criaturas invisíveis que podiam causar doenças – algo que se tornou a base da microbiologia. 

E como a ausência de entidades divinas se relaciona ao Epicurismo? A resposta para isso é também a explicação do porque essa obra é tão original. Segundo Lucrécio, os átomos não têm um trajeto determinado. Eles vivem em percursos aleatórios, originando o caos e as conexões inimagináveis. Essa desordem é o que motiva o controle das paixões, a busca pela paz de espírito e a sede de conhecimento.

Além da autenticidade, os poemas carregam a beleza de ligar os homens às estrelas, sem dogmas, sob um caminho de livre arbítrio e autonomia da vontade. O “Sobre a Natureza das Coisas” embora tão importante hoje, foi esquecido por anos. Na ocasião do declínio do império romano e na ascensão do cristianismo ele foi completamente ignorado, tendo voltado à tona só em 1417, em um mosteiro alemão. 

A partir daí influenciou fortemente o Renascimento, pela presença na produção de Leonardo da Vinci e Maquiavel, e também no século XX pelas descobertas em vários campos da ciência, como a Psicologia, Física e Biologia. Inclusive ele também interveio na obra de Virginia Woolf e Italo Calvino. 

 

“As Ondas” de Woolf e sua ligação com Lucrécio

O livro “As Ondas” foi publicado em 1931 e é considerado o mais experimental da produção de Virginia Woolf. Ele se trata de monólogos de seis personagens que exploram a individualidade, o ser e a comunidade. 

Um dos personagens, Louis, é um estrangeiro que se importa excessivamente com o sucesso e com a aceitação. E ele referencia Lucrécio quando declara que homens, oceanos, estrelas e pedras são feitos da mesma matéria em um mundo sem deuses, sem fé. 

Um mundo assim propicia que o homem apenas busque sabedoria profunda na passagem curta da vida. É dessa forma que o homem se situa no Cosmos, para Lucrécio. Louis é uma aplicação prática do “Sobre a Natureza das Coisas”. 

Além do que já foi traduzido, mais papiros foram encontrados e se encontram hoje na biblioteca de Filodemo de Gadara. A expectativa é que sejam recuperados da carbonização e ajudem a melhor compreender a filosofia epicurista. Para concluir, na página Escamandro foram postados alguns excertos profissionalmente traduzidos de Lucrécio, acesse e usufrua do mix de ciência e poesia do pensador.

 

 

 

Colaborador Beco das Palavras
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2 thoughts on “Lucrécio: De Epicuro a Virginia Woolf

  1. O que teria sido o mudo se Aristóteles não houvesse enterrado os átomos e Demócrito?

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